Uma gravação da reunião em que estavam os quatro vereadores da Serra denunciados por corrupção passiva revela suposta negociação de “vantagem indevida” por parte dos parlamentares.
Com base no áudio e em apurações, o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) pediu o afastamento cautelar dos parlamentares do cargo. Entre os denunciados está o presidente da Câmara, o vereador Saulinho (PDT).
Os vereadores Cleber Serrinha (MDB), Teilton Valim (PDT) e Wellington Alemão (Rede) também são alvos da ação, que foi direcionada à 2ª Vara Criminal da Serra.
O pedido é baseado em um Procedimento Investigativo Criminal que apura se os parlamentares pediram vantagem indevida durante a tramitação de um projeto de lei.
O texto do projeto foi apresentado em 2024 pelo então prefeito Sérgio Vidigal (PDT) e a proposta visava regularização de imóveis urbanos de propriedade do município. O então prefeito não é envolvido na denúncia.
Reunião com oferta de propina foi gravada
A reunião alvo da investigação foi gravada pelo ex-vereador Anderson Soares Muniz, como consta na denúncia oferecida pelo MPES. No áudio obtido pela produtora Jaqueline Vianna, da TV Vitória/Record, é possível ouvir a discussão dos parlamentares.
Um dos trechos destacados pelo Ministério Público pontua para o que seria o início da conversa sobre o projeto. A fala é atribuída na denúncia ao vereador Cleber Serrinha (MDB).
Negócio é o seguinte. Aqui a galera sabe que você anda devagar, mas sempre anda na frente. (Risos) Ninguém é bobo. Você chegou com uma ‘emendazinha’ aí e a gente tá sabendo o seguinte, e esse mesmo cara que você conversou, que iria dar uma situação para a galera aí, o cara recuou e você meteu uma emenda. Aí a gente quer saber o que tem nessa emenda aí pros vereador votar não ter problema, mas é o miguelai cair pra todo mundo
O áudio revela, de acordo com documento do MPES, que os vereadores pretendiam que todos recebessem de forma igual e, preferencialmente, em dinheiro, vantagem ilícita.
Um dos parlamentares teria afirmado que os vereadores não deveriam votar o projeto de lei e a emenda, pois o valor oferecido era pouco para um projeto “daquele tamanho”.
Ainda segundo a peça apresentada pelo Ministério Público à Justiça, o vereador Wellington Alemão, apontado como o “porta-voz” de quem oferecia a vantagem ilícita,
explicou aos demais que a referida vantagem era, inicialmente, R$ 100 mil, mas, em seguida, teria sido oferecido um terreno de 6 mil metros quadrados em Balneário Carapebus.
A mudança não teria agradado aos outros três vereadores. Wellington, então, diz:
“Não vou mentir pra ninguém. O cara conversou comigo ontem à noite e conversou hoje de manhã… Se vocês não quiserem votar hoje e quiser que dá em dinheiro, eu vou atrás do cara também, entendeu?”
Ouça o trecho da negociação alvo da denúncia do MPES a seguir:
O que dizem os envolvidos?
Após o pedido de afastamento apresentado pelo Ministério Público, o Folha Vitória procurou os citados. A Câmara da Serra não retornou aos contatos até o momento da publicação da reportagem.
Todos os vereadores denunciados também foram procurados pela reportagem em seus gabinetes e números pessoais disponíveis. Saulinho disse que ainda não foi notificado e, por isso, não vai se manifestar.
Teilton afirmou que “o processo segue em análise pela Justiça. Mantemos nossa confiança no devido processo legal e seguimos trabalhando com seriedade e o compromisso de sempre com a população”.
Cleber Serrinha estava “indisponível”, enquanto Wellington Alemão não foi encontrado. Os dois foram questionados também por email. O espaço segue aberto.
O ex-vereador Luiz Carlos Moreira, que também já foi deputado estadual, também foi procurado por telefone, mas sem sucesso.
O ex-prefeito Vidigal, que não é denunciado no processo, disse que a denúncia trata apenas da emenda feita pelo vereador, que inclusive foi vetada por ele por ter sido declarada inconstitucional. Ele ressaltou que não é denunciado e nem investigado.
Vidigal também afirma que não tinha interesse pessoal no projeto. “O interesse era do município, da prefeitura que tinha a proposta de regularizar terrenos. Foi uma iniciativa da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur)”.
A Prefeitura da Serra disse que não vai se manifestar sobre o caso, visto que não está envolvida.