Política

Brasil ainda prioriza gasto público em vez de carbono neutro, afirma Caldeira

Brasil ainda prioriza gasto público em vez de carbono neutro, afirma Caldeira Brasil ainda prioriza gasto público em vez de carbono neutro, afirma Caldeira Brasil ainda prioriza gasto público em vez de carbono neutro, afirma Caldeira Brasil ainda prioriza gasto público em vez de carbono neutro, afirma Caldeira

O historiador, escritor e cientista político Jorge Caldeira afirma que a antiga busca dos países desenvolvidos de crescer a qualquer custo está perdendo espaço para o planejamento a longo prazo com foco em zerar a conta de carbono. Segundo ele, o plano estratégico brasileiro segue no caminho contrário ao priorizar o gasto público como forma de desenvolvimento. “Esse é um método que não é aplicado mais em lugar nenhum do planeta. Isso é o atraso brasileiro”, disse Caldeira, que vai debater sustentabilidade.

A 9. ªedição da Brazil Conference vai discutir, nesta sexta, 31, e sábado, 1º, os caminhos do Brasil para enfrentar os desafios do século 21. Os painelistas debaterão temas como políticas públicas, economia, tecnologia, democracia e Justiça.

Organizada pela comunidade brasileira de estudantes em Boston (EUA), a conferência tem parceria do Estadão, que fará a cobertura e a transmissão dos painéis. Os debates, de forma presencial, vão ocorrer na Universidade Harvard e no Massachusetts Institute of Technology (MIT), apoiadores do evento.

Entre os palestrantes estão o presidente do BID, Ilan Goldfajn; o apresentador Luciano Huck; e o ministro do STF Luís Roberto Barroso. “A pergunta que a gente quer responder é se o Brasil está preparado para o século 21. O que o Brasil precisa para se desenvolver da melhor forma possível?”, disse a copresidente do evento, Helena Mello Franco.

A seguir, os principais trechos da entrevita de Jorge Caldeira.

Como transformar a floresta em um ativo em um cenário de avanço do garimpo e do desmatamento?

O conceito da fixação de carbono evoluiu muito depressa. Nos últimos três anos, houve um progresso na direção de organizar toda a economia (mundial) com base no equilíbrio de carbono. Toda a distribuição de recursos, ao invés de ser “vamos crescer o PIB”, passou a ser “vamos equilibrar a conta de carbono”. Hoje, União Europeia, Japão, China, Coreia do Sul, EUA e Inglaterra organizam sua economia (dessa forma). O Brasil perdeu esses três anos, apesar de ser o país que tem mais potencial para fixar carbono no planeta, e agora tem uma certa defasagem.

O mercado de carbono pode, de fato, diminuir o desmatamento?

O crédito de carbono funciona: alguém que emite paga para alguém que fixa. O potencial maior do Brasil é como fixador de carbono, que é fazer árvore crescer. O País precisa criar instituições críveis e condições legais e financeiras para que os que pagam paguem para quem tem floresta. Carbono fixado é mercadoria. Se a floresta for negócio, as coisas mudam muito. A preservação da floresta vai acontecer quando o proprietário receber dinheiro para mantê-la em pé ao invés de destruí-la.

O crédito de carbono é saída para o desenvolvimento econômico mesmo em um cenário de recessão?

O que o governo brasileiro precisa fazer é garantir legitimidade (para este mercado). O resto é com o setor privado. A recessão interna impacta pouco, o mercado de carbono é mundial. Muitas vezes o PIB do Brasil pode entrar nesse mercado se fizer as coisas direito. A oportunidade está em ser a primeira economia de carbono neutro do planeta.

Como garantir um plano estratégico de longo prazo no Brasil, se o planejamento tem sido interrompido conforme as transições entre governantes no País?

O antigo objetivo econômico das grandes economias de crescer mais desapareceu. A União Europeia não quer saber quanto cresceu, mas quer ser uma economia de carbono neutro. O planejamento estratégico brasileiro é feito ainda com princípios da década de 1970, em que o governo junta recursos, gasta e isso cria desenvolvimento. Esse é um método que não é aplicado mais em lugar nenhum do planeta, isso é o atraso brasileiro. Se você não se planeja para o futuro, o futuro não vem. O Brasil tem essa oportunidade não por causa do presidente atual, nem o do passado, mas porque o Brasil fixa, em árvores, cinco vezes a emissão da indústria. O que a atual gestão fala sobre isso? Nada. A obrigação de quem trabalha com o longo prazo é mostrar que o longo prazo é exequível.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.