Política

Carta anônima aponta 'laranja' de Collor em compra de obras de arte

A partir dessas informações, a Procuradoria-Geral da República, com autorização do Supremo Tribunal Federal, deflagrou a Operação Catilinárias

Carta anônima aponta ‘laranja’ de Collor em compra de obras de arte Carta anônima aponta ‘laranja’ de Collor em compra de obras de arte Carta anônima aponta ‘laranja’ de Collor em compra de obras de arte Carta anônima aponta ‘laranja’ de Collor em compra de obras de arte
A testemunha indicou uma galeria, um escritório e um restaurador do senador Foto: Agência Brasil

São Paulo – Carta escrita por uma testemunha anônima e endereçada em outubro de 2015 ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, abriu caminho para uma investigação sobre o “acervo” mantido pelo senador Fernando Collor (PTC-AL). A testemunha indicou uma galeria, um escritório e um restaurador.

A partir dessas informações, a Procuradoria-Geral da República, com autorização do Supremo Tribunal Federal, deflagrou a Operação Catilinárias – desdobramento da Lava Jato -, em dezembro do ano passado. A carta apócrifa havia sido enviada dois meses antes. Ao STF, Janot relatou que, “de posse desses dados, o Ministério Público realizou diligências preliminares para confirmar a veracidade das informações anônimas”.

“Ilmo. Senhor Procurador-Geral da República, Dr. Rodrigo Janot. Há cerca de 2 meses estou para escrever a V. Exa depois que foi difundido nos meios de comunicação social sobre a apreensão de bens nomeadamente carros do senador Fernando Collor de Mello”, escreveu a testemunha, em 36 linhas datilografadas.

Para fazer chegar sua correspondência às mãos de Janot, em Brasília, o denunciante identificou-se com nome e endereço fictícios. “O senador não é só colecionador de carros, mas também de obras de arte, sobretudo peças raras e importantes de alto colecionismo, que vai desde pinturas modernistas a pratas, baixelas, tapetes persas, joias, móveis, porcelanas, a esculturas art deco de Fernand Preiss a Chiparus, entre outras raridades adquiridas em leilão.”

A testemunha afirmou a Janot, na carta, que Collor adquiria suas obras de arte em leilões, mediante a intermediação de um restaurador de nome Roberto Mitsuuchi, e os pagamentos ocorreriam em espécie.

“Como é óbvio o senador não dava a cara nem aparecia, então para as compras tinha um ‘laranja’, de nome Roberto Mitsuuchi, com a profissão de restaurador em São Paulo, que realizava as compras, muitas in loco ao telefone com o senador para dar os lances, os pagamentos sempre em espécie com quantias que variavam entre 200 e 300 mil reais em prestações, bem como a retirada das mesmas e era este que realizava as entregas na casa de Brasília no Lago Norte, conhecida como Casa da Dinda”, diz a carta.

Di Cavalcanti

A carta cita a compra de uma obra de Di Cavalcanti. “Eu chamo a atenção do senhor procurador, para antes de atuar, chamar os agentes da PF que fizeram buscas nas casas do senador, e lhes pergunte como estas estavam decoradas, com certeza que lhe vão confirmar com obras de arte e antiguidades diversas. Inclusive junto cópia do catálogo da obra de Di Cavalcanti adquirida por cerca de R$ 2 milhões.

A citação chamou a atenção dos investigadores. Durante outra operação, em julho do

ano passado, na Casa da Dinda, a Polícia Federal havia apreendido carros de luxo e obras de arte, entre elas, um quadro de Di Cavalcanti. Segundo o procurador, “no mesmo local foi apreendido um quadro de Di Cavalcanti cuja descrição é compatível com a reprodução anexada à representação apócrifa”.