Política

Cidades que votaram em derrotados ficam sem orçamento secreto

As prefeituras excluídas pelo orçamento secreto estão nas regiões pobres e menos desenvolvidas dos Estados

Cidades que votaram em derrotados ficam sem orçamento secreto Cidades que votaram em derrotados ficam sem orçamento secreto Cidades que votaram em derrotados ficam sem orçamento secreto Cidades que votaram em derrotados ficam sem orçamento secreto
Foto: Pedro França/Agência Senado

Vinte e uma cidades nas quais os votos dos moradores foram para candidatos à Câmara dos Deputados que perderam as eleições na disputa de 2018 ficaram sem um centavo do orçamento secreto. 

O modelo criado no governo do presidente Jair Bolsonaro para garantir apoio no Congresso repassou aos parlamentares R$ 53,5 bilhões nos últimos dois anos e meio. 

Levantamento do Estadão mostrou que nenhum deputado ou senador mandou dinheiro para essas cidades, transformadas em “desertos políticos” justamente por falta de representantes que as defendam no Legislativo.

> Quer receber nossas notícias 100% gratuitas pelo WhatsApp? Clique aqui e participe do nosso grupo de notícias!

Após a aliança de Bolsonaro com o Centrão, a partilha do orçamento secreto deixou de fora do repasse de verbas 179 municípios do País. Nessas cidades ignoradas pela distribuição do dinheiro federal vivem 1,2 milhão de pessoas. O critério eleitoreiro para distribuição de recursos contraria a Constituição e as leis orçamentárias.

As prefeituras excluídas pelo orçamento secreto estão nas regiões pobres e menos desenvolvidas dos Estados. Essas cidades também tendem a preferir a oposição: 33 delas tiveram um candidato a deputado do PT como o mais votado em 2018. 

Em seguida aparecem o governista PP (23) e o MDB (22). O Estado com mais moradores nos “desertos políticos” é a Bahia, com 199,1 mil habitantes. O Rio Grande do Sul vem em seguida, com 131,1 mil, e depois aparece Minas Gerais, com 122,2 mil.

SERTÃO

Um dos municípios excluídos na divisão do orçamento secreto está no sertão do Piauí. A pequena Lagoa do Barro, no sul do Estado, tem IDH Municipal considerado baixo, de apenas 0,502. “Eu não sei quais são os critérios que os parlamentares utilizam”, disse o prefeito Gilson Nunes (PSD), numa referência à distribuição dos recursos.

Ao lado de Lagoa do Barro fica a cidade de Coronel José Dias (PI). Na zona rural, um investimento pequeno poderia aliviar um grande problema: a falta de energia elétrica. “Estamos cercados de luz por um lado e por outro e aqui não tem”, queixou-se o aposentado Bartolomeu Benedito dos Passos, 67, morador do povoado de Lagoa do Benedito.

A rede elétrica está muito perto: a menos de dois quilômetros, pela estimativa do aposentado. Só na Lagoa do Benedito são 12 famílias sem luz. A poucos metros da casa de Bartolomeu vive Maísa de França Badu, de 22 anos, com o filho de dois, os pais e os irmãos. 

No pequeno sítio, a família planta hortaliças com um sistema de irrigação, que utiliza energia solar. Mas a falta de uma bateria mais potente impede que eles continuem usando a eletricidade à noite.

Na noite de 23 de julho, quando o Estadão esteve no rancho dos Badu, o jantar estava sendo preparado no fogão a lenha, iluminado por lanternas. A firma familiar se chama Hortaliças Badu. “Enquanto tem sol, tem energia e está carregando as coisas”, disse Maísa. A mãe Maria José, de 47 anos, usa vela.

A família sonha em poder ter geladeira. “Ultimamente, a gente fez esse sisteminha para o poço (artesiano). Não resolve tudo, mas já ajuda. Aqui tem bastante sol”, diz o pai de Maísa, Edilson Badu, de 48 anos.

Dulcineia de Sousa Brito dos Passos, 77 anos, é uma das moradoras mais antigas da Lagoa do Benedito. À noite, a única luz disponível é a do candeeiro com pavio.

Enquanto isso, ali do lado, a cidade de João Costa coleciona placas de obras do governo federal. O município é base eleitoral do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP) e da ex-mulher dele, a deputada federal Iracema Portella.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

LEIA TAMBÉM: >> Eleições 2022: posso levar “colinha” no dia da votação?