Reunião a portas fechadas, atraso e ansiedade: os bastidores da formação da lista tríplice no TJ

Às 14 horas desta sexta-feira (17), horário marcado da sessão extraordinária no Tribunal de Justiça para a escolha dos três advogados à vaga de desembargador, o salão do pleno já estava cheio com os candidatos, seus familiares e amigos, e outros advogados. Mas, nada dos membros da Corte.

Os desembargadores entraram numa reunião, a portas fechadas, às 13h30, e de lá só saíram às 15h38. A sessão só foi começar às 15h47, quando o nível de ansiedade dos seis candidatos – Elisa Galante, Vinícius Pinheiro, Anderson Pedra, Alexandre Puppim, Raphael Câmara e Samir Nemer – já estava altíssimo, notado pela quantidade de água que tomaram, pelas idas ao banheiro, ao corredor, às outras fileiras do salão do pleno.

“O bicho está pegando lá dentro”, comentou um advogado. “Os candidatos vão infartar”, comentou outro. Um terceiro chegou a entrar em contato, segundo ele, com “alguém que estava lá dentro” (na reunião dos desembargadores): “Ainda vai demorar”, ele comentou, por volta das 14h50.

Com quase 1h50 de atraso, o presidente do Tribunal de Justiça, Fabio Clem, abriu a sessão e, mesmo tendo outros itens na pauta, foi direto para a votação da lista dos advogados. A vaga em questão foi aberta com a aposentadoria do desembargador Álvaro Bourguignon, no início de 2020. Clem citou o nome dos candidatos, esquecendo-se de Samir, o que foi corrigido depois com um pedido de desculpas.

Antes de começar a votação, alguns advogados distribuíram, entre si, uma folha de papel com o nome dos candidatos e, com caneta, foram marcando, voto a voto.

O primeiro a votar foi o decano da Corte, Adalto Tristão, que leu o currículo dos três candidatos em quem votou. Ele também justificou a agilidade para marcar a votação – O Tribunal de Justiça recebeu a lista sêxtupla com o nome dos candidatos na quinta-feira (16) e a sessão de escolha para a formação da lista tríplice foi feita um dia depois – dizendo que a OAB está há dois anos esperando preencher essa vaga. Já o desembargador Namyr Carlos disse que sentiu falta de ouvir mais os profissionais sobre determinadas questões jurídicas.

Expectativa para a sessão que começou com quase 2h de atraso
Crédito: Fabi Tostes

Adalto votou em Alexandre Puppim, Raphael Câmara e Vinícius Pinheiro. E o voto dele foi seguido, por adesão, por quase todos os desembargadores. As exceções foram para o desembargador Jorge do Nascimento Viana, que só deu dois votos: para Vinícius e Alexandre; a desembargadora Janete Simões – que declarou impedimento legal para votar, já que é casada com o desembargador Carlos Simões e ele já tinha votado –; e a desembargadora Elisabeth Lordes, que foi a 22ª a votar e deu seu voto para Elisa Galante, Vinícius e Raphael.

O advogado Vinícius Pinheiro – que assessorou o desembargador Bourguignon – foi o mais votado, recebendo 27 votos. “Eu trabalhei para ficar entre os primeiros, mas ser o mais votado sempre surpreende. Quero agradecer aos colegas pela disputa leal, à classe por ter me trazido até aqui e ao pleno desse Tribunal. Espero continuar bem nessa disputa até o final”, disse ele, contando que visitou o gabinete de todos os desembargadores para se apresentar e deixar o currículo.

Raphael Câmara e Alexandre Puppim tiveram 26 votos cada. “Eu me sinto muito realizado, com certeza é uma grande honra poder ser escolhido por essa Corte tão especial. Estou muito feliz e na expectativa”, disse Puppim. “O reconhecimento da minha classe, o reconhecimento do Tribunal de Justiça do Estado me deixam muito honrado. Estou muito feliz pelo quantitativo de votos, é um momento inédito da minha vida. Assim como todos os candidatos, eu vim apresentar meu currículo, num gesto até de respeito à Corte. Agora quem decide é o governador e aguardaremos com toda a humildade”.

Elisa Galante, que foi a candidata mais votada da lista sêxtupla pela advocacia (2.885 votos), recebeu apenas um voto. Antes da votação iniciar, alguns advogados comentavam que o fato de ter sido a mais votada pela categoria e também de ser mulher – já que de 30 cadeiras, a Corte só conta com quatro ocupadas por mulheres – poderiam pesar a favor dela. Já Samir e Anderson não receberam nenhum voto.

Assim como fizeram com os desembargadores, indo até seus gabinetes para deixar o currículo, os três pretendem partir, agora, em romaria ao Palácio Anchieta. O governador deve decidir ainda nesse ano sobre quem será o futuro desembargador.