“Como alguém preto e pobre pode apoiar Bolsonaro?”, questiona vice-governadora ao declarar voto em Lula

A vice-governadora do Estado, Jacqueline Moraes, cujo partido (PSB) ensaia, nacionalmente, caminhar junto com o PT, declarou que vai votar no ex-presidente Lula (PT) para presidente da República nas eleições de outubro.

“Eu só não votei no Lula no meu primeiro voto, quando votei no Collor. Isso porque eu não tinha consciência política nenhuma até os 26 anos. De lá pra cá, em todas as eleições que eu pude votar, votei no Lula, votei na Dilma, e votaria novamente”, disse Jacqueline.

Questionada se o voto seria em Lula nesse ano, Jacqueline confirmou. “Não preciso declarar agora, mas até o momento, é sim”, disse a socialista. A declaração foi dada em entrevista exclusiva, nesta quinta-feira (24), ao programa “De Olho no Poder com Fabi Tostes”, na rádio Jovem Pan News Vitória (90.5 MHz).

A declaração vem um dia após o PSB nacional filiar o ex-governador Geraldo Alckmin (após 30 anos no PSDB), com a expectativa de que ele seja o vice na chapa do Lula. Embora a federação não tenha dado certo, os dois partidos (PSB e PT) conversam, nacionalmente, para caminharem juntos, o que pode influenciar nas construções estaduais.

No Espírito Santo, o PT não faz parte da base aliada de Casagrande, mas também não é oposição. “O PSB e o PT continuam parceiros, vamos caminhando juntos, até a situação nacional se ajustar. Até lá terá a candidatura do governador Renato Casagrande, a candidatura do senador Fabiano Contarato, e lá na frente vamos ver se conseguimos entrar num acordo, ver se a candidatura de Contarato pode se juntar com a nossa. Alckmin veio para o PSB, vamos aguardar a negociação para ver se ele pode ser vice de Lula, depois disso começa a resolver as questões dos estados”, disse o presidente do PSB capixaba, Alberto Gavini.

Gavini estará à frente do congresso do PSB no próximo domingo (27) e o PT foi convidado para participar. Segundo Jacqueline, o PSB vai lançar o governador à reeleição durante o congresso, além de confirmar algumas filiações e candidaturas, como dos deputados Luciano Machado (pré-candidato a federal) e Janete de Sá (pré-candidata a estadual). Jacqueline é pré-candidata à deputada federal.

O governador não confirmou ainda, publicamente, se será candidato à reeleição. Ele também não declarou quem irá apoiar para presidente da República. Embora a relação com petistas tenha ficado estremecida após o episódio da visita do ex-ministro Sergio Moro, o PT está no radar da frente ampla costurada por Casagrande. E o apoio declarado da vice pode ajudar a alinhavar essa relação.

Como?

Casagrande, Coser e Jacqueline em evento petista / Crédito: Glacieri Carraretto

Ao ser questionada se seu marido, o ex-vereador Adilson Avelina, seria candidato nesse ano – já que em 2018 ele teve de desistir da disputa, por conta da confirmação da esposa na chapa de Casagrande –, Jacqueline disse que não, mas que ele poderia mudar de ideia, uma vez que o casal “tem pensamentos diferentes”. “Ele apoia Bolsonaro ou Moro, então, por aí, você já vê, né?”, disse Jacqueline.

Sendo ela apoiadora de Lula e o marido, de Bolsonaro, Jacqueline foi perguntada se a relação estava dando certo. “É entre tapas e beijos, no sentido ideológico da coisa. A gente discorda muito de muita coisa, a gente pensa diferente, eu tento respeitar, mas sou um pouco impositiva. Mas, como que alguém que é preto e pobre pode apoiar Bolsonaro?”, questionou Jacqueline.

Jacqueline x Euclério

Durante a entrevista, a vice-governadora também foi questionada sobre a relação com o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio, já que os dois se estranharam durante a campanha eleitoral para prefeito em 2020.

Jacqueline disse que a relação é protocolar, que os dois têm divergências políticas, mas que estão juntos em prol da cidade. “Ele já deixou claro para o governador que eu não faço parte do grupo dele, que não me apoia nessa pré-candidatura à federal, mas também não está fazendo nenhum movimento contra mim. O governador, numa conversa com ele, disse que eu era projeto do partido em Cariacica. Nossa relação ficou estável após essa conversa”.

“Assinaria de novo”

A vice-governadora Jacqueline Moraes também falou sobre uma de suas bandeiras: o combate à violência política de gênero. E citou a Câmara de Vitória como um mau exemplo. Jacqueline assinou a petição online que pede a cassação do mandato de um vereador da capital.

“Assinei e assinaria quantas vezes fosse necessário. Acho que a câmara da capital não merecia ter uma representatividade como a desse cidadão, ele tem ódio pelas mulheres. Eu entrei com processo quando fui vítima de fake news e eu vou até o final, porque a minha história é o meu legado, eu não aceito que uma fake news mate a minha história”, disse a vice.

“É pouco!”

Questionada se a participação feminina no comando de secretarias do governo do Estado (quatro em 23 pastas, ou 17%) não seria pequena, tendo em vista que o PSB prega paridade entre os gêneros, Jacqueline admitiu que sim. “É pouco, eu considero pouco. O governador considera pouco. Às vezes tem um homem numa secretaria e quatro ‘subs’ mulheres. Acho que agora o governador deve fazer um movimento de atrair mais essas mulheres para os espaços. Mas é o que eu sempre falo, nós estamos conquistando”.

Cristã progressista

A vice-governadora também falou sobre fé e sobre o grupo religioso que faz parte: ela é evangélica progressista. Disse que evita entrar em debates e polarizações com líderes religiosos – a maioria conservadores – e que respeita todas as posições, mas que não deixa de se posicionar também.

Na íntegra

A entrevista completa com a vice-governadora, Jacqueline Moraes, pode ser conferida aqui: