“Eu mereço respeito”, diz Colnago ao deixar o PSDB

Após 30 anos filiado, com uma história partidária que vai desde a fundação da sigla no Estado até a disputa de sete mandatos, o ex-vice-governador César Colnago deixa o PSDB. O motivo? Os desentendimentos com o comando estadual do partido – leia-se o presidente tucano, Vandinho Leite – sobre a disputa ao governo do Estado e os ressentimentos que vieram por conta disso. Colnago vai para o PSD e é pré-candidato ao posto de governador.

“Desde agosto do ano passado estou rodando o Estado. Fui por minha conta. A Executiva nacional fez uma pesquisa, que me coloca no jogo (disputa ao governo). Aí a regional (comando estadual do PSDB) fica desconsiderando essas coisas? Eu pedi uma conversa ao partido e eles me isolaram, não me atendem ao telefone. Estou há 30 anos no partido, não posso aceitar isso. Eu mereço respeito e consideração pela minha história”, disse Colnago em entrevista para a coluna “De Olho no Poder”.

Os ruídos com o presidente estadual da legenda não são de hoje. No dia 11 de outubro do ano passado, a Executiva se reuniu para se organizar para a vinda de Eduardo Leite no processo de prévias nacionais do PSDB. Colnago participou desse encontro e teria dito que gostaria de colocar o nome à disposição para a disputa ao governo do Estado. Ele teria ouvido do presidente e de outros tucanos de alta plumagem que não seria o momento adequado para aquele debate.

Dias depois, Colnago anunciou à imprensa que iria disputar o governo. Chegou a dizer para a coluna que ou disputaria o governo ou não disputaria nada. A cúpula tucana viu a movimentação como uma antecipação do debate e foi criado o impasse. Por mais de uma vez Vandinho afirmou que o debate majoritário não estava colocado e que os tucanos só decidiriam se teriam candidato próprio ao governo após 2 de abril.

No último dia 11, após Colnago pedir exoneração do cargo que ocupava na Assembleia e mais uma vez se colocar como pré-candidato ao governo pelo PSDB, Vandinho enviou uma nota à imprensa.

“O PSDB no Espírito Santo, por meio da sua Executiva estadual, vem a público reafirmar que ainda não há qualquer definição acerca de candidatura própria da legenda ao governo do Estado. O que se pode dizer é que o tucanato capixaba tem, sim, dialogado com outras forças políticas, em um movimento que conta com o total conhecimento e anuência do presidente nacional da sigla, Bruno Araújo. Destacamos que, no momento, o PSDB-ES está focado na construção de chapas proporcionais visando à eleição de deputados estaduais e federais. A partir do dia 2 de abril, os nossos esforços serão concentrados na formação do melhor palanque nacional possível”.

Desde o fim das eleições municipais (2020), o presidente tucano Vandinho Leite tem se aproximado do Palácio Anchieta. Na Assembleia, os três deputados do partido – Vandinho, Emílio Mameri e Marcos Mansur – votam com o governo.

A nota teria sido, entre outras coisas, a gota d’água para a saída de Colnago. “O PSDB está no projeto do atual governo (Casagrande). Eu não mudei de lado, eu tive que mudar de partido por conta do que a Regional está me impondo. Cheguei a levar a situação para a Nacional, mas me disseram que depois do dia 2 tudo poderia mudar. Mas eu posso esperar até o dia 2? Depois eu não posso mais mudar de partido”, disse Colnago.

Após anunciar sua saída, o PSDB se manifestou. “O PSDB é um partido que preza e sempre prezou pela democracia e liberdade de escolha de seus filiados. Dessa forma, o tucanato capixaba recebe com muita naturalidade a desfiliação do ex-vice-governador César Colnago, agradecendo ao mesmo por sua contribuição e o desejando sucesso em sua jornada”. A nota é assinada pelo vice-presidente estadual tucano, Oziel Andrade.

Disputa interna no PSD?

Crédito: Assessoria/Colnago

A filiação de Colnago ao PSD deve ocorrer entre hoje e amanhã (01). O partido também está em vias de filiar o prefeito de Linhares, Guerino Zanon, e também para a disputa ao governo. “Acho excelente a vinda dele. Vamos ter pesquisa, avaliação, conversa e, lá na frente, quem for mais viável disputa. Vamos ver a resposta da sociedade. Vamos participar de um processo democrático para ver quem será o candidato”, disse Colnago.

Para o ex-vice-governador não é problema o partido ter dois nomes para disputar o governo – situação essa que fez com que o superintendente da Polícia Federal no Espírito Santo, delegado Eugênio Ricas, desistisse de se filiar ao PSD e disputar o governo.   O início das negociações entre Colnago e o PSD corresponde ao período em que Ricas comunica ao partido que não irá mais entrar na política.

Questionado se a ida para o PSD teve participação do ex-governador Paulo Hartung – uma vez que, nos bastidores, PH estaria por trás das articulações políticas do partido no Estado –, Colnago desconversou. “Estou indo a convite do nosso amigo Zé Carlinhos (o agora presidente estadual) e do Kassab (presidente nacional). Estarei com ele (Kassab) nos próximos dias em São Paulo para entender do cenário nacional do partido”. Com influência ou não, o PSD está se tornando no Estado o QG de Paulo Hartung.

Colnago foi questionado também se poderia disputar outro cargo, que não o de governador. “Disputar o governo é meu plano. Sou experiente e me sinto preparado para enfrentar o processo. Mas não sou um prego pra ficar parado na parede. Posso sim discutir para disputar o Senado”.