O desafio de Rigoni de unir o União Brasil capixaba

O deputado federal Felipe Rigoni deu ontem (14) o pontapé inicial para sua pré-candidatura ao governo do Estado: fez uma coletiva de imprensa para apresentar à opinião pública os passos que pretende dar à frente do União Brasil; lançou um manifesto com seus princípios e valores e o que espera oferecer ao Estado; apresentou o coordenador do seu plano de governo – o tucano Luiz Paulo Vellozo Lucas.

Enquanto ele dava entrevista e explicava a “teoria dos ciclos” – Rigoni divide a história do Espírito Santo em ciclos de 20 anos e defende que este termina agora, após duas décadas de governo de revezamento entre o governador Renato Casagrande e o ex-governador Paulo Hartung – na Assembleia, os deputados estaduais do União Brasil se reuniam para decidir o futuro político.

Conforme a coluna “De Olho no Poder” mostrou ontem, os deputados Theodorico Ferraço, Alexandre Quintino, Torino Marques, Zé Esmeraldo, Hércules Silveira (MDB) e Marcos Garcia (PV) se reuniram na tarde de ontem para decidir o que fazer após o comando do partido sair das mãos de Ricardo Ferraço e ir para as de Rigoni e após o deputado fincar o pé de que é candidato ao governo do Estado.

“A tendência é que os deputados estaduais saiam do União. O que está quase certo, de fato, é que quase todos irão sair”, disse Quintino, referindo-se a ele, Torino, Esmeraldo e Theodorico. O deputado Hércules está no MDB, mas participou da reunião porque estaria sondando entrar no partido, assim como Marcos Garcia, que ainda está no PV, mas deve deixar a legenda.

Segundo Hércules, que chegou a levar para a reunião a possibilidade de todos migrarem para o MDB, a decisão do bloco será conjunta. “O que ficou entendido pra mim é que qualquer movimento, vai ser de todo mundo junto. Se Rigoni insistir mesmo em ser candidato ao governo, Marcos Garcia, em vez de disputar a reeleição, deve disputar para federal, já que ele é de Linhares e a região vai ficar sem um representante no Congresso. O movimento está sólido”.

Os deputados temem não ter chapa para a reeleição, não serem prioridade numa legenda que vai ter candidatura majoritária e, ainda, desfazerem compromissos de apoio a candidatos ao governo. No grupo tem quem apoia Rigoni, quem apoia Manato e quem apoia Casagrande ao Palácio Anchieta.

Na reunião chegou a ser falado de uma “condição” para os deputados permanecerem no partido: cada parlamentar ter a liberdade de apoiar o governador que quiser. “Mas com certeza o Rigoni, como presidente, não vai aceitar isso”, disse Quintino.

Hércules chamou colegas para se filiarem ao MDB

Não, mesmo. Questionado sobre essa possibilidade, Rigoni disse à coluna que “não faz sentido”. “Não faz sentido, o União tem um projeto. A nossa posição é de estarmos unidos em torno desse projeto. Já falei com vários deputados, só não falei ainda com Theodorico, que devo marcar uma reunião nessa semana. Vou conversar com muita gente para definir uma boa chapa”, disse Rigoni, que afirmou que irá priorizar os deputados. “Tem muitos candidatos por aí, mas vamos conversar com os de mandato primeiro”.

Chapa quente

Rigoni sabe da importância de se ter uma boa chapa de federal para qualquer partido, ainda mais para o União Brasil, que é hoje a legenda com a maior bancada na Câmara Federal e não quer perder o posto no ranking. Tanto que, questionado se já tem conversado com outras legendas para definir alianças, respondeu: “Conversas com outros partidos eu vejo depois, estou preocupado em montar minha chapa primeiro”.

Conversar com outros partidos, porém, é a agenda mais urgente do bloco de deputados do União. Hoje, por exemplo, eles têm uma reunião agendada com o presidente estadual do PSD, Neucimar Fraga, e com o presidente do PDT, Sergio Vidigal. E não vão parar por aí.

Além de Rigoni, quem não está gostando nada dessas movimentações são os pré-candidatos sem mandato desses partidos. “No PSD não tem espaço para essa turma na chapa de estadual. Na federal, tudo bem. Na estadual, não”, disse o ex-vereador Mazinho dos Anjos que é pré-candidato a deputado estadual e já colocou o pé na porta.

Será difícil para Rigoni levar seu projeto adiante – projeto esse que já tem um tripé construído baseado num estado eficiente, novo ciclo de desenvolvimento e liberdade de escolha, com a intenção de dividir o estado em conselhos regionais e o transformá-lo no ente mais tecnológico do país ou, nas palavras de Rigoni, colocá-lo na “pista de decolagem” – se o agora presidente do União não colocar a casa em ordem.

E esse desafio de unir o partido em torno do seu nome será o primeiro teste de fogo de Rigoni. Se ele conseguir, terá vencido uma etapa importante que lhe dará musculatura para ir em frente em sua pré-candidatura. Se não, dificilmente vai conseguir se viabilizar e, o que para ele parece ser o mais importante: levar o seu projeto de um novo Espírito Santo para o debate da sociedade.

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Nem aliado, nem adversário

Questionado qual seria sua postura com relação ao governador Renato Casagrande, Rigoni foi enfático ao dizer que não será nem aliado e nem adversário. “Esse ciclo de Renato e Hartung foi bom, mas termina esse ano. Eu sou pós esse ciclo”, disse Rigoni.

 

Só “plano A”?

Questionado sobre a possibilidade de lá na frente recuar e ser candidato a deputado federal, Rigoni disse que só tem o “plano A”. Perguntado sobre as alianças de 2º turno, disse que só discute segundo turno no 2º turno.

Apoio a presidente

Rigoni disse também que o União Brasil ainda não fechou com quem irá apoiar para presidente da República, tendo decidido apenas que, no primeiro turno, não fica nem com Lula e nem com Bolsonaro. Rigoni disse porém, que não cabe ao governador ser oposição ao presidente, afirmando que irá governar com quem for eleito.

 

Com detalhes

Na entrevista que deu ao programa “De Olho no Poder com Fabi Tostes” na rádio Jovem Pan News Vitória, no último dia 20 de janeiro, antes, porém, de assumir o partido, Rigoni falou sobre sua pré-candidatura ao governo, a disputa de reduto com o prefeito Guerino Zanon, a relação com Casagrande e com Hartung, e como pretende construir o novo ciclo do Espírito Santo. A entrevista está disponível na íntegra.

 

Tucano fora do ninho

Luiz Paulo em evento do PSDB: entusiasmado com Rigoni

O ex-prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), que esteve ontem na coletiva de imprensa, foi contratado para coordenar o programa de governo de Rigoni. “Estou muito entusiasmado, muito empolgado. Acho que a contribuição que essa pré-candidatura vai dar ao Estado é muito grande, é um político totalmente fora da curva”, elogiou Luiz Paulo.

Questionado se o fato de estar com Rigoni não causaria constrangimento no partido, Luiz Paulo repetiu que está profissionalmente e que essa questão política teria de ver com “Vandinho, o presidente do PSDB”. Disse que tem acompanhado as movimentações do partido, mas preferiu não se manifestar a respeito. Não deixou, porém, de alfinetar: “Eu fui preterido na última eleição de prefeito”, disse o tucano, lembrando que o partido escolheu Neuzinha como pré-candidata à prefeita de Vitória.