“Alguns nomes colocados para o Senado nos envergonhariam”, diz presidente do PCdoB

O PCdoB iniciou a semana passada com uma resolução que enfraqueceu, ainda mais, a já duvidosa pré-candidatura ao governo do senador Fabiano Contarato (PT). Junto com PT e PV, os comunistas formam a trinca da federação que tem como principal objetivo nacional eleger Lula ao Palácio do Planalto. Já no Estado, é grande a pressão para o grupo fechar apoio à reeleição de Casagrande.

Em entrevista para o programa “De Olho no Poder com Fabi Tostes”, que foi ao ar na última quinta-feira (09) na rádio Jovem Pan News Vitória (90.5 MHz), o presidente do PCdoB capixaba, Neto Barros, explicou as razões de, mesmo fazendo parte de uma federação que tem um candidato próprio ao governo, ter defendido a “manutenção” do governo Casagrande.

Neto disse que quer replicar no Estado a mesma frente ampla que está sendo formada para eleger o ex-presidente Lula. “Porque, afinal, as forças do atraso que comandam o Brasil também têm sua influência aqui no Espírito Santo. São pessoas que invadem hospitais, negacionistas, que representam as pessoas mais endinheiradas da sociedade, mas, acima de tudo, as mais atrasadas também. Então, é pra gente não permitir que o atraso vença no Espírito Santo”, disse Neto.

“Nossa resolução política estadual retrata o momento, o cenário. E qual é o cenário? O cenário é que nós temos um governador bem avaliado, que fez uma excelente atuação no enfrentamento à pandemia e tem tudo para vencer as eleições repetindo a frente ampla. E, além da importância da manutenção do governo atual, mais uma vez, não podemos dar sorte ao azar, não podemos permitir a ascensão do atraso aqui”, acrescentou.

O entendimento do PCdoB é o mesmo ao de muitas lideranças progressistas que analisam com apreensão a construção de duas candidaturas do mesmo campo. “A gente entende que vai haver uma divisão do eleitorado, afinal são dois candidatos que disputam o mesmo campo. Vai ter uma fragmentação que pode ocasionar o fortalecimento da direita no Estado”, avaliou Neto.

Uma outra razão para defender uma única candidatura do campo progressista no Estado em torno do governador é que Neto acredita que isso possibilitará um palanque único e exclusivo a Lula. “Tenho certeza que Casagrande já fez os cálculos e já percebeu que o melhor é o palanque único para Lula, para garantir a reeleição dele (de Casagrande)”.

Porém, ainda não há sinais de que Casagrande será o militante pró-Lula que os petistas e simpatizantes do ex-presidente esperam. Questionado se alguma vez o governador já teria dito ao PCdoB que apoiaria publicamente, tornaria seu palanque exclusivo ou pediria votos para Lula, Neto respondeu: “O que ele disse pra gente – e isso tem mais de um mês, muita coisa mudou – é que não seria um militante, mas um eleitor no primeiro turno. Já no segundo turno seria militante. Mas a chance é clara de vitória do Lula no primeiro turno”.

Via de mão dupla

O aceno do PCdoB a Casagrande – bem mais incisivo do que quando conversou com a coluna em abril, logo após a formação da federação –, porém, não é a troco de nada. Embora tenha elogiado o governo do socialista, Neto Barros disse que é preciso melhorá-lo e citou, na entrevista, diversos pontos que, em sua análise, devem ter prioridade. A área social é uma delas.

O PCdoB quer fazer parte do projeto de Casagrande e não só no ano que vem: quer ajudar a construir o plano de governo, quer que as ideias do partido de esquerda sejam integradas ao programa e também quer discutir a escolha dos nomes que vão compor a chapa majoritária do governo. Ou seja, quer ter protagonismo na escolha do vice, do nome ao Senado e dos suplentes.

Neto Barros no congresso do PSB

“O desemprego aqui ultrapassa a casa das 200 mil pessoas. É preciso fazer um combate à fome, um governo mais includente e isso tem que fazer parte do plano de governo que nós queremos construir. Nós também não vamos apoiar nenhum candidato ao governo sem a garantia de serem colocadas as nossas ideias. Se não todas, mas parte delas, no programa de governo. Na outra ponta, temos de transformar o Espírito Santo num estado produtor de tecnologia e conhecimento. Temos que copiar o que deu certo no mundo todo. Para gerar riqueza, desenvolvimento, nós temos que aprender a investir em ciência, tecnologia e inovação e exportar produto com alta tecnologia, valor agregado e conhecimento. É esse o Espírito Santo que nós queremos”, avaliou Neto.

“A definição do nome de vice é muito importante, ele vai representar muitas novidades. Em 2026, qual será o cenário? O governador fica no mandato até o final ou sai para tentar ser senador? Olha a importância do nome a ser escolhido. Tem também o nome do Senado. Quem vai ser o senador ou a senadora que nós iremos apoiar? Quem serão os suplentes? Então, tudo isso está na mesa. A análise é pela manutenção do governo Casagrande, mas queremos interferir e fazer um governo muito melhor do que o que está encerrando”, acrescentou o líder comunista.

Questionado se teria nomes para indicar ou se apoiaria um nome já colocado, Neto disse que não se trata de nomes. “Não estamos colocando a faca no pescoço de ninguém para indicar nomes, nós queremos jogar o jogo da boa política, discussão de ideias”. Porém, fez críticas aos nomes que já se apresentam, principalmente aos que se destacam nas pesquisas.

“Existe um enfraquecimento da política por ausência de participantes, esse estranhamento da população em relação à politica faz com que pouca gente boa participe. Vemos muitos aventureiros, muita gente que só pensa no interesse próprio, que transforma a política numa atividade empresarial, em vez de ser um instrumento de transformação social. Temos uma ausência de nomes muito grande para compor a chapa do Senado. Alguns nomes a gente até estranha de tão baixa qualidade”.

Neto fez uma análise dos três senadores capixabas: “Temos o Contarato, que está fazendo um mandato diferenciado, respeitável. Temos a senadora Rose que é uma senadora municipalista, mas por uma série de razões, inclusive de saúde, não fez um mandato à altura do que a gente esperava. Tem o Marcos do Val que se elegeu na onda do bolsonarismo e faz a representação política da direita e para nós não acrescenta nada. Pelo contrário, acho que atrapalha muito. Precisamos discutir melhor principalmente a vaga de senador, para apresentar um nome. Independentemente se vai representar algum espectro político, tem que ser um que represente nosso Estado, que nos respeite e nos orgulhe. Essa é a missão. A gente vê que alguns nomes colocados aí nos envergonhariam, em vez de nos representar”, afirmou Neto.

Questionado quem envergonharia o Estado, o dirigente partidário não deu nomes, mas sinalizou. “Não queria citar nome para não ficar com fama de que está atacando as pessoas, não é um bom debate. Mas, se tem algum politico que quer ser senador, mas já passou por algum outro mandato, ele tem que ter dados positivos. Se ele não consegue ter isso nos cargos que já ocupou não vai fazer isso no cargo que é um dos mais importantes da República. Só são 81 senadores, o mandato é de oito anos. Não podemos titubear, temos que escolher um nome de qualidade”.

“Há dois nomes hoje do campo conservador que lideram as pesquisas”, a coluna informou para o presidente comunista. “São péssimos nomes”, rebateu Neto. Segundo pesquisas já divulgadas no mercado político, o ex-senador Magno Malta (PL) e o ex-prefeito de Colatina Sergio Meneguelli (Republicanos) lideram nas intenções de voto.

O ex-prefeito de Baixo Guandu também foi perguntado qual seria a posição do partido caso o governador decida apoiar um candidato ao Senado que seja da direita. “Vamos fazer o enfrentamento seja ele qual for. Nós estamos acenando para o governador, em nome do partido. A federação vai fazer o mesmo, porque vamos dialogar. E esse aceno é também para o governador refletir o seu rumo, se ele vai abrir mão de algum apoio ou não, depende dele. Vamos fazer o nosso trabalho, que é jogar no nosso campo para construir um Espírito Santo mais desenvolvido”.

O que é ser comunista?

O Partido Comunista do Brasil, o PCdoB, é a legenda mais antiga do país. Completou seu centenário neste ano – foi fundada em março de 1922 – e protagonizou períodos importantes da história brasileira, como durante o Estado Novo (1937-1945) e a ditadura militar (1964-1985). Viveu mais de 60 anos na clandestinidade e tem como símbolos a foice e o martelo, representando os trabalhadores do campo e da cidade.

Com o sentimento de anticomunismo muito aflorado na sociedade, pregado principalmente pelo presidente Bolsonaro e seus seguidores, a coluna questionou a Neto o que é ser comunista em 2022. “Ser comunista é buscar construir um país mais justo social, ambiental e economicamente e mais desenvolvido, com base na ciência. É basicamente isso”.

Com ideais tão nobres, Neto foi questionado também ao que credita o partido ter tão baixo desempenho nas urnas e na vida política do Estado. Neto passou oito anos à frente da Prefeitura de Baixo Guandu, mas não conseguiu fazer um sucessor. O partido tinha também o ex-deputado Givaldo Vieira, que acabou mudando para o PSB.

“Nós temos um país com uma elite atrasada e perversa que espalhou na sociedade muitas mentiras, que se perpetuam até hoje. Assim como é muito forte o machismo e o racismo, também é muito forte o anticomunismo. Há muitas barreiras. O governo é majoritariamente de direita, os concursados dos Três Poderes são de famílias ricas, que repetem o que aprenderam desde criança, e isso vem de encontro aos nossos interesses. É muito difícil uma legenda comunista, com ideais socialistas se sobressair, temos que ir devagarzinho”.

Neto foi perguntado se a ascensão de Bolsonaro foi pior para o partido comunista, mas ele disse que não. Que, na verdade, “melhorou” fazendo jus ao lema: “Falem bem ou falem mal, mas falem!”. “É muito fácil ser político de direita. De centro então, é uma maravilha, é o político ‘nem-nem’. Como Bolsonaro resolveu nomear todo mundo que é oposição a ele de comunista, então pra nós ficou uma coisa bacana. Por que, o que é o comunismo? Vamos discutir, vamos debater, ver como funciona nos outros países. Acho que agora ficou melhor, porque ninguém precisa ficar fingindo ser uma pessoa que não é por conta do que as outras pessoas vão achar”.

 

Mudança de nome e símbolo?

Antes da pandemia, havia um debate interno no PCdoB sobre a possibilidade de mudar o nome e o símbolo do partido. Mas, Neto Barros afirmou que esse debate está superado. “Essa discussão geralmente surge quando está aflorado o sentimento de anticomunismo. Aí querem buscar o caminho mais fácil para evitar resistência, em vez de se discutir, de abrir os olhos das pessoas. Há quem defendia isso, mas a maioria superou. Temos um partido centenário, com muita contribuição”.

Rumo às urnas

Neto disse que o PCdoB tem, até o momento, nove pré-candidatos à Câmara dos Deputados e à Assembleia, sendo ele um dos que irão disputar uma das 30 vagas de deputado estadual. Por estar fechado com a federação, a chapa está bem pesada, uma vez que conta com petistas de peso – como João Coser e Iriny Lopes, por exemplo, na disputa à Assembleia também.

 

“Sugestão do PSB”

O presidente do PCdoB disse que está sendo preparado um grande ato pró-Lula no Estado para o próximo dia 25. “Será um grande evento para somar, com o PSB, a federação e outros partidos da frente nacional, como o Psol, a Rede, o Solidariedade. Foi até sugestão do PSB fazer esse grande ato”, afirmou Neto Barros.

Na íntegra

A entrevista na íntegra com o presidente do PCdoB capixaba, Neto Barros, pode ser conferida aqui: