Por que Vitória foi a única cidade da Região Metropolitana a ter aumento de homicídios?

Morro do Macaco onde um fuzil foi apreendido em novembro / crédito: Thiago Soares

O Espírito Santo apresentou, ao longo de todo o ano passado, redução no índice de homicídios com relação a 2022. Foram 29 crimes (2,9%) a menos. A queda foi puxada principalmente pela redução de 12,6% (menos 67 vítimas) dos crimes na Região Metropolitana da Grande Vitória. Foram registrados 464 assassinatos na região mais populosa do Estado, a menor marca desde 1996.

Porém, não foi toda a Região Metropolitana que experimentou uma desaceleração na violência. Ponto fora da curva, Vitória teve um aumento de 21,4%, pulando de 70 para 85 casos, segundo dados do Observatório da Segurança Pública, apresentados na terça-feira (02) pelo Governo do Estado.

Os dados chamaram a atenção porque Vitória vinha apresentando uma taxa de homicídios sob controle. O ano de 2017 foi o último em que o município registrou mais de 80 assassinatos (86). De lá pra cá, o somatório do ano vinha caindo: foram 76 crimes em 2018, 73 em 2019, 67 em 2020, 67 em 2021 e 70 em 2022.

Além disso, Vitória é a capital do Estado, acaba tendo mais investimentos em segurança, com relação ao seu tamanho, até pelo fato de contar com uma maior presença de órgãos públicos e unidades policiais – uma unidade especializada de polícia instalada em determinado local acaba tornando aquela região mais segura.

Como explicar então esse aumento nos casos de homicídios num ano em que o Estado apresentou uma redução nos mesmos números?

Guerra de facções criminosas

A guerra de facções criminosas – principalmente duas, com interlocução em outros estados – pelo comando do tráfico de drogas em territórios da capital estaria por trás da maior parte dos homicídios ocorridos em Vitória.

O segundo semestre concentrou o maior número de assassinatos (48), o que corresponde aos períodos da eclosão dos principais conflitos nos morros da capital. Uma mostra disso, foi a apreensão de armas de grosso calibre nessas regiões.

No ano passado, foram apreendidos 19 fuzis – em 2022, foram 11. A maior parte (14) em Vitória – Piedade, Morro do Cabral, Bairro da Penha, Morro da Garrafa, Nova Palestina, Morro da Floresta, Morro do Macaco, Morro dos Alagoanos, Santos Reis, Santa Helena, Bonfim e Santos Dumont. Doze foram apreendidos em apenas dois meses.

A apreensão desse tipo de armamento, que vem crescendo, mostra o poderio bélico que está nas mãos dos criminosos. E sempre que uma operação policial é bem-sucedida, há retaliações dos bandidos no dia seguinte. Não foram poucas as vezes que a capital testemunhou e ficou refém de ataques a ônibus, ao comércio e aos cidadãos, em via pública, em plena luz do dia.

Chegou ao absurdo de um idoso, internado num hospital localizado próximo a uma zona de conflito da capital, ser morto após ser atingido por uma bala perdida que partiu de um dos morros e atravessou a parede do hospital.

Ao apresentar os dados sobre o índice de homicídios e comentar sobre Vitória, o secretário estadual de Segurança Pública, coronel Alexandre Ramalho, disse que a rivalidade das organizações criminosas se traduz em “matar” e admitiu ser um desafio o combate às facções que atuam e se escondem em Vitória.

Segundo ele, um ponto agravante é a topografia dos locais que servem de esconderijo para os bandidos. Por estarem nos morros, na parte mais alta da cidade, as operações são mais complexas porque nem sempre é possível se deslocar em viaturas e os policiais são facilmente vistos quando estão subindo. A posição favorável permite aos criminosos fugirem e esconderem armas e drogas, quando não há o confronto.

“Há muita dificuldade no policiamento dos morros, a gente não consegue ocupar esses locais por 24 horas, mas há um esforço muito grande pra gente tentar reverter esse número”, disse Ramalho.

Entre as medidas que têm sido tomadas para combater as facções criminosas que atuam na capital, está o uso da inteligência e a integração com as forças de segurança municipais.

Inteligência e integração

Amarilio Boni / crédito: PMV

O secretário de Segurança Urbana de Vitória, Amarilio Boni, fez coro a Ramalho e também culpou a guerra de facções criminosas instaladas na capital como principal causa do aumento de homicídios.

“A gente não pode desconsiderar que existe uma briga entre facções e organizações criminosas acontecendo em Vitória. Em paralelo, a gente verifica uma redução dos crimes patrimoniais. Então, o que a gente considera, é que essa briga entre organizações criminosas tenha sido o vetor (do aumento dos homicídios)”, disse Amarilio.

Ele frisou que a Prefeitura de Vitória e o Governo do Estado têm trabalhado juntos na área de segurança.

“Temos feito uma integração muito positiva com a Polícia Militar e com a Polícia Civil. Estamos ajudando na elucidação desses crimes por meio do setor de inteligência e da tecnologia. São inúmeros homicídios que nós entregamos a autoria e a materialidade para a polícia. Estamos conseguindo chegar nesses criminosos por meio dessa integração que não é só com a Sesp, mas também com a Defensoria e com o Ministério Público”, disse Amarilio.

Em outra frente, o secretário apontou que investimentos nas áreas educacionais e sociais também estão sendo feitos. “Com relação a outras políticas públicas, na educação, Vitória está implementando escolas em tempo integral. Vamos sair de quatro para 30 dessas escolas agora em 2024, além de unidades de saúde, de assistência social. Temos trabalhado nas escolas, praças e parques para que o tráfico de drogas não se instale nesses locais”.

Ele disse que Vitória conta com um Gabinete de Gestão Integrada que se reúne todo mês com o prefeito Lorenzo Pazolini para tratar da segurança na capital. Também afirmou que Vitória conta com 747 câmeras de monitoramento e 106 pontos do cerco eletrônico e que o prefeito tem feito investimentos na Guarda Municipal.

“Nós prendemos o segundo criminoso mais procurado do Espírito Santo. Na semana retrasada, prendemos três sequestradores aqui em Vitória, graças à inteligência e à integração. Mas, de novo, temos um fato atípico acontecendo que é a guerra das facções”, afirmou Amarilio.

O secretário lembrou também que embora tenha ocorrido um crescimento dos homicídios em Vitória, a capital ainda é, dentro da região metropolitana, a que apresentou um menor número absoluto de crimes.

Vitória registrou 85 assassinatos, já Cariacica teve 114 (mas uma redução de 7% com relação a 2022); Serra somou 117 (redução de 13% em relação a 2022) e Vila Velha ficou em 1º lugar, com 119 crimes, mas com redução de 25% em relação ao ano anterior.

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