Com ajuda de aliados, governo sofre primeira derrota na Assembleia Com ajuda de aliados, governo sofre primeira derrota na Assembleia Com ajuda de aliados, governo sofre primeira derrota na Assembleia Com ajuda de aliados, governo sofre primeira derrota na Assembleia
Gandini durante sessão na Ales / crédito: Lucas S. Costa
Gandini durante sessão na Ales / crédito: Lucas S. Costa

A sessão da Assembleia na manhã desta quarta-feira (15) foi palco do primeiro embate entre a base aliada e a oposição e, com a ajuda de alguns aliados, o governo sofreu sua primeira derrota no plenário do Legislativo.

O embate ocorreu durante a votação do projeto 75/2023, de autoria do governo do Estado, que institui uma bolsa-estudante para alunos matriculados na 4ª série do Ensino Médio das escolas da rede pública.

Trata-se de uma medida para evitar a evasão escolar, justamente no final do ensino médio quando muitos estudantes deixam a escola para ingressar no mercado de trabalho. O valor da bolsa, segundo o projeto, seria de R$ 400.

Porém, durante a votação do projeto nas comissões, o deputado Fabrício Gandini (Cidadania) apresentou uma emenda dobrando o valor da bolsa, que passaria a ser de R$ 800.

A votação estava sendo conduzida pelo presidente da Comissão de Justiça, Mazinho dos Anjos (PSDB), que chegou a dizer que usaria do prazo regimental para analisar a emenda. Ele acabou recuando, a pedido de outros deputados, uma vez que a próxima sessão será só no dia 27, por conta do feriado de Carnaval.

Defendendo que a emenda seria inconstitucional, por criar despesas para o governo e por não ter apresentado o impacto financeiro, Mazinho rejeitou a emenda. Mas, Gandini apelou para a votação em plenário.

Por ser quarta-feira, alguns deputados estavam fora do plenário, acompanhando a sessão por meio virtual, como o líder do governo Dary Pagung (PSB) que pediu para que a emenda fosse rejeitada. Coube a Tyago Hoffmann (PSB), porém, fazer a articulação no plenário, com os deputados, para que o projeto fosse votado sem a emenda. Ele chegou a se comprometer em levar uma indicação ao governo pedindo o aumento do valor da bolsa.

Mas, irredutível, Gandini não retirou a emenda e ganhou o apoio da oposição e também de alguns aliados que passaram a defender a proposta do deputado do Cidadania.

Subiu o tom

Tyago, então, fez uma fala mais incisiva e enfatizou que se a emenda fosse aprovada, o projeto poderia ser vetado e os estudantes ficariam sem a bolsa. “Essa Casa será responsabilizada”, alertou Tyago. Ele também reagiu à postura de Gandini: “Não estou entendendo o ímpeto de Vossa Excelência”.

A fala foi entendida como ameaça por Gandini que rebateu subindo o tom: “Se vetar, nós derrubamos o veto. Vai interromper a discussão com ameaças, com medo e terrorismo?”. Os dois chegaram a bater boca, enquanto a base batia cabeça sobre a votação.

Por se tratar de um projeto com forte apelo popular – um auxílio financeiro para estudantes – votar não à emenda poderia ser entendido – e traduzido por alguns agentes políticos nas redes sociais – como um voto contrário ao povo (leia-se também eleitor). Por outro lado, votar a favor da emenda poderia ser entendido como se posicionar contrário ao governo, autor da matéria.

Para piorar ainda mais a situação da base na sinuca de bico em que se encontrava, Gandini pediu votação nominal – que é o tipo de votação em que o deputado é chamado pelo nome e expõe o voto no microfone.

Já a oposição ria à toa e, na última sessão antes do Carnaval, enxergou a possibilidade de colocar o bloco na rua. Votou em peso a favor da emenda do deputado da base aliada.

A emenda de Gandini venceu por um voto de diferença. Foram 13 votos favoráveis e 12 contrários. Além dos deputados do bloco liderado por Hudson Leal (Republicanos), votaram a favor da emenda o autor (Gandini) e os deputados da base: Adilson Espíndula (PDT), Xambinho (PSC), Zé Esmeraldo (PDT), Theodorico Ferraço (PP) e Vandinho Leite (PSDB).

Ao justificar seu voto, Vandinho deu a deixa do que estaria por trás da movimentação de Gandini: uma desigualdade no atendimento a deputados da base.

“Alguns deputados são muito atendidos e outros deputados são pouco atendidos. O deputado Gandini deu uma grande contribuição nesse início de legislatura. O governo precisa refletir se não quiser jogar sua base na oposição, se não for essa a intenção”, disse Vandinho num recado direto ao Palácio Anchieta.

Vandinho também aproveitou para alfinetar Tyago: “Se tem alguém que ameniza isso é o líder do governo, Dary, que é bombeiro, é educado e tenta ver o melhor caminho para todo mundo”. A fala foi entendida como uma indireta à movimentação feita por Tyago no plenário, chamada de “política de ameaça e terrorismo” por Gandini.

Exoneração de indicados motivou?

A postura de Gandini, considerado um dos aliados de primeira hora do governo – que na legislatura passada presidiu a mais importante comissão da Ales (Comissão de Justiça) –, gerou estranhamento no plenário.

Nos corredores, parlamentares se perguntavam o que teria motivado o deputado a ser o pivô de um embate que começou primeiro entre aliados e que depois abarcou a oposição. Não demorou muito para os olhos se voltarem à publicação do Diário Oficial do Estado desta quarta-feira (15).

A Secretaria de Estado do Esporte (Sesport), sob o comando do petista José Carlos Nunes, exonerou diversos cargos de gerência da pasta. Um deles trata-se de um indicado de Gandini – Anael Rodrigues Parente – que ocupava o posto de gerente de Esportes, de Formação e Rendimento.

Gandini confirmou que Anael foi exonerado e que seria aliado dele. Mas negou que a motivação de ter proposto uma “emenda-bomba” ao projeto do governo tenha sido essa.

“Sobre isso (a exoneração) eu já tinha sido informado desde que a secretaria foi para o PT. Eu me senti desrespeitado quando falaram que eu não poderia apresentar uma emenda. É minha atribuição, sou membro da Comissão de Educação, tentaram me atropelar e eu reagi”, disse Gandini. Segundo o deputado, o servidor exonerado será nomeado em seu gabinete na Ales.

Outros cargos foram exonerados na Sesport e, segundo interlocutores do governo ouvidos pela coluna, seriam ligados aos deputados Xambinho e Zé Esmeraldo. Os dois deputados foram procurados pela coluna, para se manifestarem a respeito da votação e da suposta exoneração de indicados no governo, mas ainda não retornaram ao contato.

Após a emenda ser aprovada, a votação do projeto, agora com a emenda, foi adiada para depois do Carnaval. O governo ganha um fôlego para tentar reverter a situação ou aceitar a primeira derrota com o gosto amargo de ter partido de um aliado.

 

Fabiana Tostes

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.