Política

Comunidade judaica cobrou demissão de Roberto Alvim

A Confederação Israelita do Brasil disse que considera "inaceitável o uso de discurso nazista pelo secretário da Cultura do governo Bolsonaro" e cobrou a demissão de Alvim

Comunidade judaica cobrou demissão de Roberto Alvim Comunidade judaica cobrou demissão de Roberto Alvim Comunidade judaica cobrou demissão de Roberto Alvim Comunidade judaica cobrou demissão de Roberto Alvim
Foto: Reprodução/Facebook

O presidente Jair Bolsonaro agiu para conter um desgaste maior com diferentes alas de sua base de apoio ao demitir o dramaturgo Roberto Alvim da Secretaria Nacional de Cultura, que parafraseou o ministro da propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbels. Políticos governistas e opositores avaliaram que a principal pressão veio da comunidade judaica no Brasil, de quem o presidente se aproximou na campanha, mas também houve reações de repúdio de chefes de Poderes e de outros setores da sociedade – “olavistas”, evangélicos e movimentos de renovação política.

A Confederação Israelita do Brasil disse que considera “inaceitável o uso de discurso nazista pelo secretário da Cultura do governo Bolsonaro” e cobrou a demissão de Alvim. “Uma pessoa com esse pensamento não pode comandar a Cultura do nosso país e deve ser afastada do cargo imediatamente”, afirmou a entidade, em nota. “Quem recita Goebbels e o nazismo não pode servir a governo nenhum no Brasil”, endossou a Federação Israelita de São Paulo.

Próximo do presidente e de seus filhos, o embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, conversou com ele, mas preferiu a discrição e não fez comentários públicos. Ao jornal O Estado de S. Paulo, a representação do governo israelense em Brasília endossou a demissão de Alvim. “A comunidade judaica e o Estado de Israel estão unidos no combate a todas as formas de antissemitismo. Por esta razão, a embaixada de Israel apoia a decisão do governo brasileiro de exonerar o secretário especial de Cultura, Roberto Alvim. O nazismo e qualquer uma de suas ideologias, personagens e ações não devem ser utilizados como exemplo em uma sociedade democrática sob nenhuma circunstância”, diz a nota divulgada pela embaixada.

A Confederação Israelita do Brasil (Conib) divulgou comunicado em que afirma que a fala “é um sinal assustador” da visão de cultura de Alvim. “Emular a visão do ministro da Propaganda nazista de Hitler, Joseph Goebbels, é um sinal assustador da sua visão de cultura, que deve ser combatida e contida.”

A representação diplomática da Alemanha no Brasil publicou postagem sem citar Alvim diretamente, afirmando que “o período do nacional-socialismo (de onde vem a abreviação “nazi”, do nazismo) é o capítulo mais sombrio da história alemã, que trouxe sofrimento infinito à humanidade”. Segundo o texto, “a Alemanha mantém sua responsabilidade. Opomo-nos a qualquer tentativa de banalizar ou mesmo glorificar a era do nacional-socialismo.”

Antes inclinado a mantê-lo no cargo, segundo o próprio Alvim havia declarado, Bolsonaro mudou de ideia depois de manifestações dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli. “Há de se repudiar com toda a veemência a inaceitável agressão que representa a postagem feita pelo secretário de Cultura”, disse Toffoli. O ministro do STF Gilmar Mendes escreveu, por sua vez, que “a riqueza da manifestação cultural repele o dirigismo autoritário nacionalista”.

Para o vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (SP), Bolsonaro contornou um estrago político maior. “O presidente agiu certo e de forma ágil”, afirmou Pereira, que é presidente do Republicanos e bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus. “A demissão do secretário resolveu o problema. Agora é atribuição do presidente encontrar outra pessoa de direita para a pasta, que é uma das mais infiltradas e aparelhadas pela esquerda”, disse o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), também da bancada evangélica.

Integrantes da ala bolsonarista do PSL também afirmaram que Bolsonaro acertou. “Ele foi cirúrgico”, afirmou a deputada Carla Zambelli (PSL-SP). O ex-partido do presidente divulgou nota dizendo que era “inadmissível aceitar tal posicionamento partindo de um representante de um país democrático”.

Parlamentares da oposição fizeram representações à Procuradoria-Geral da República para apurar eventual crime de incitação ao nazismo por parte de Alvim, além da responsabilidade do Planalto sobre “perseguições” na cultura e na educação.

O movimento de renovação política Agora! manifestou repúdio ao episódio. “Ao valer-se da estética nazista para dar seu recado nitidamente totalitário, com o selo oficial do governo federal, o sr. Roberto Alvim cruzou todos os limites da civilidade e do respeito ao Estado de direito, às instituições democráticas e ao povo.”

“Lamentável que nos dias de hoje alguém faça apologia ao nazismo. Uma vergonha e deplorável, sobretudo por vir de um representante público”, disse o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em rede social.

O apresentador de TV Luciano Huck também criticou. “Sou brasileiro de família judia. 6 milhões de judeus morreram por causa do nazismo. Usar a cultura para fazer revisionismo histórico é perverso e violento. O vídeo do secretário Roberto Alvim é criminoso. Revela uma conduta autoritária inaceitável”, escreveu Huck em sua conta no Twitter. O apresentador tem sido apontado como possível candidato à Presidência da República em 2022. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.