O deputado estadual João Coser assume o comando do PT capixaba neste sábado (13), durante o Encontro Estadual da sigla, que se inicia hoje (12) e será realizado no Ifes de Cariacica.
Coser foi eleito no Processo de Eleição Direta (PED) do partido, em julho, vencendo a atual presidente, deputada federal Jack Rocha, após uma campanha tensa e acirrada. Ele conseguiu unir as principais tendências internas da legenda e impediu a reeleição da deputada.
O mandato é de quatro anos, mas Coser combinou com sua aliada de chapa, a deputada Iriny Lopes, que irá renunciar após dois anos de mandato (final de 2027), para que ela possa presidir o partido por dois anos.
Segundo afirmou em entrevista concedida à coluna, Coser poderá antecipar a renúncia à presidência do partido se for eleito deputado federal no ano que vem.
O encontro petista, porém, não vai se resumir à posse do diretório. Ele será o pontapé inicial das discussões sobre o rumo que o PT irá tomar nas eleições do ano que vem.
Disputa ao governo do Estado
Caberá a Coser, como presidente do PT capixaba, conduzir o partido na definição dos rumos para 2026. Priorizar a reeleição do presidente Lula e do senador Fabiano Contarato já é um ponto definido, mas há outros que ainda precisam ser alinhados.
Um deles é a candidatura própria ao governo. Muitas lideranças do partido defendem que o PT tenha um nome para disputar o Palácio Anchieta. Primeiro para colocar em debate a pauta programática e os ideais petistas. Segundo, para ter um palanque no Estado numa eventual vinda de Lula na campanha à reeleição.
Na eleição de 2022, Contarato chegou a ser lançado como pré-candidato ao governo, num evento que contou com o apoio de lideranças petistas regionais e nacionais.
Porém, o partido acabou recuando para apoiar a reeleição do governador Renato Casagrande (PSB), numa costura feita no andar de cima e que levou em conta a geopolítica nacional.
PSB e PT coligaram e formaram a chapa presidencial. E as cúpulas dos dois partidos decidiram quem teria prioridade de disputar o governo em cada estado.
Porém, ano que vem o PSB não terá candidato próprio ao governo. Até o momento, o partido de Casagrande tem como certa a presença no palanque do vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) para a sucessão.
O nome de Ricardo, porém, encontra uma certa resistência por parte de algumas lideranças petistas.
Ricardo Ferraço não é uma liderança de esquerda. Pelo contrário. Embora esteja num partido que faça parte do governo Lula, é um crítico da gestão petista. Na verdade, ele sempre esteve na oposição, principalmente em sua passagem pelo Senado, quando filiado ao PSDB.
Ricardo votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e por mais que isso tenha ocorrido há quase 10 anos, muitos petistas ainda enxergam nele um símbolo da ruptura política que levou o partido a perder o poder.
E não é só isso. Ainda que as divergências sejas superadas e a maioria do PT concorde em apoiar Ricardo, hoje, seria algo bastante improvável ver lideranças petistas no palanque do emedebista pedindo voto. Imaginar que o mesmo palanque seja compartilhado pelo presidente Lula então, seria algo impensável.
Sem contar que, se o PT fizer parte da mesma coligação para o governo e para o Senado, que deve ser capitaneada pelo governador, terá de apoiar os mesmos candidatos majoritários que forem definidos no grupo.
E, como é de conhecimento público, uma das cadeiras já estaria separada para Casagrande e a segunda é mais cobiçada que água no deserto, com pelo menos cinco nomes – tirando o de Contarato – na disputa até agora.
Portanto, é mínima, para não dizer nenhuma, a possibilidade dos aliados do governo apoiarem o PT na segunda cadeira do Senado que estará em disputa na chapa.
Somando todos esses fatores, é grande a chance do PT não fazer parte do mesmo projeto do governo do Estado para 2026, independentemente da aliança que tem hoje com o governador Casagrande.
Isso deve levar o PT a caminhar paralelamente com sua federação – que conta hoje com o PV e o PCdoB – e juntar outros partidos de esquerda para o pleito. Nesse caminho, a candidatura própria ao governo seria necessária até para dar suporte às chapas montadas pelo grupo.
Dentre os nomes mais citados por quem defende a candidatura petista ao governo, está o do deputado federal Helder Salomão (PT), que está em seu terceiro mandato na Câmara dos Deputados e já foi prefeito de Cariacica por duas vezes.
Porém, uma questão se levanta: Será que o deputado mais votado (120.337 votos) da bancada federal capixaba em 2022 vai querer abrir mão da reeleição, que hoje se apresenta como certa, para arriscar numa disputa ao governo que promete ser acirrada e imprevisível? Isso com certeza será colocado na mesa.
E a segunda cadeira ao Senado?
Outro ponto que tende a ser polêmico é a definição sobre a segunda cadeira de senador. O PT – não só a instância regional, mas também a nacional – já definiu que a reeleição de Contarato é prioridade.
No entanto, duas cadeiras estarão em jogo no ano que vem e a pergunta é: quem será o segundo nome apoiado pelo PT ao Senado?
Em entrevista dada à coluna em junho, Coser se mostrou simpático à possibilidade de apoiar Casagrande, mas deixou claro que isso seria um posicionamento dele e não do partido.
Ter um senador eleito como o Casagrande é importante para nós. Ele não vai ficar contra o presidente da República, se tiver o segundo mandato. Ele não vai fazer o papel daqueles senadores de extrema-direita e, com certeza, é um homem altamente qualificado. Então, de fato, ele é um nome que contempla um voto nosso pensando lá no Senado Federal. Mas isso é uma opinião do João”, disse, à época.
Um apoio formal do partido a Casagrande implica, porém, em PT e PSB estarem na mesma coligação – com todos os “poréns” citados acima. De outra forma, não poderá ter dobradinha, nem material casado, nem caminhada conjunta e nem pedido de votos.
Uma outra possibilidade seria o PT ter dois nomes na disputa ao Senado, o que também estaria fora de cogitação por ser inviável financeiramente – campanhas majoritárias custam muito caro – e também estrategicamente: ter dois candidatos do PT na disputa pode prejudicar Contarato.
Homenagem
O Encontro Estadual do PT também vai prestar uma homenagem ao ex-sindicalista Edson Wilson, o Edinho, falecido no último dia 13 de julho, aos 55 anos.
“Edinho teve uma trajetória marcada pela coerência, firmeza de princípios e militância na construção de um Brasil mais justo, solidário e democrático. No Sindicato dos Trabalhadores em Energia (Sinergia-ES) foi presidente, e, atualmente, exercia o cargo de secretário de Formação. Já no PT-ES, exerceu mandatos e disputou eleições, sempre com dignidade e espírito público”.
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