Política

Defesa de Dilma resgata prestígio de Cardozo entre petistas

Ex-ministro da Justiça por cinco anos e dois meses, Cardozo é hoje o mais próximo conselheiro de Dilma. Está com ela desde a campanha de 2010

Defesa de Dilma resgata prestígio de Cardozo entre petistas Defesa de Dilma resgata prestígio de Cardozo entre petistas Defesa de Dilma resgata prestígio de Cardozo entre petistas Defesa de Dilma resgata prestígio de Cardozo entre petistas
Dilma quer que o titular da AGU seja agora seu advogado Foto: Divulgação

Brasília – Quando a Comissão Especial do Senado aprovou relatório favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, na sexta-feira, José Eduardo Martins Cardozo demonstrou abatimento. Embora a decisão já fosse esperada, o ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), que defende Dilma nas mais diferentes tribunas, não escondeu a decepção.

“Eu faço essa defesa com tristeza”, admitiu Cardozo ao Estadão. “Tenho absoluta convicção de que estou defendendo a causa certa, mas o desejo político de alguns está fazendo a Constituição ser rasgada. Nunca pensei em enfrentar uma situação assim.”

Ex-ministro da Justiça por cinco anos e dois meses, Cardozo é hoje o mais próximo conselheiro de Dilma. Está com ela desde a campanha de 2010, quando integrou o conhecido grupo dos “três porquinhos”, ao lado de Antonio Palocci e José Eduardo Dutra – morto no ano passado -, e ainda deverá acompanhá-la por um bom tempo.

Convencida de que será afastada da Presidência por até 180 dias, em votação marcada para quarta-feira, no plenário do Senado, Dilma quer que o titular da AGU seja agora seu advogado. Cardozo pedirá licença à Comissão de Ética Pública porque, a rigor, estará de quarentena. Trata-se de um período remunerado em que auxiliares não podem exercer atividades profissionais para evitar conflito de interesses.

Aos 57 anos, Cardozo passou da condição de ministro mais criticado pela República petista – que o acusava de não controlar a Polícia Federal – a arquiteto da narrativa do “golpe” contra Dilma. A redenção ocorreu depois que, pressionado pelo PT e sob tiroteio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele entregou o cargo na Justiça.

Na noite de 17 de abril, quando a Câmara autorizou a abertura do impeachment, Cardozo estava no Palácio da Alvorada, ao lado de Dilma. Foi um dos que viram Lula se emocionar ao perceber a queda iminente e a presidente irritada com a “cara de pau” de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afastado do comando da Câmara, 18 dias depois, por decisão unânime do Supremo Tribunal Federal.

De repente, com os olhos ainda vermelhos, o ex-presidente chamou Cardozo para uma conversa reservada. Queria mais explicações sobre a estratégia a seguir. De crítico feroz do ministro por causa da Operação Lava Jato e de outros “senões” do passado, Lula acabou lhe dando um crédito de confiança.

“O Zé Eduardo descobriu sua vocação e agora está no lugar certo”, disse o ex-presidente. “Ele é incansável. Finalmente, está sendo reconhecido como advogado brilhante”, afirmou o ministro-chefe do Gabinete Pessoal da Presidência, Jaques Wagner.

Corredor polonês

Dois dias antes da votação do impeachment na Câmara, a caminho do plenário para defender Dilma, o ministro da AGU foi surpreendido por um “corredor polonês”, formado por um grupo de militantes. “Cardozo/guerreiro/do povo brasileiro”, gritavam os petistas. “Fiquei perplexo”, confessou o advogado-geral.

Apelidado no PT de “pelicano” – o mais tucano dos petistas -, Cardozo enfrentou grande tensão quando, em 22 de fevereiro, recebeu dez deputados de seu partido, que cobravam providências sobre a ofensiva da Lava Jato.

“Você não vê que o Lula pode ser preso?”, perguntou um deles. A reivindicação do grupo era uma só: substituir todos os superintendentes da Polícia Federal por petistas. O PMDB do vice-presidente Michel Temer também pedia a sua cabeça. Uma semana depois, Cardozo saiu. “Não aguento mais a pressão”, desabafou, à época.

Dilma, porém, o convenceu a migrar para a AGU. “Preciso de você aqui”, insistiu ela. A presidente costuma dizer que Cardozo “se vira nos 30” e, por isso, jamais abriria mão dele. No ano passado, o ministro descobriu um câncer na tireoide, operou e logo voltou para o trabalho. Emagreceu 22 quilos com a dieta Ravenna, também feita por Dilma, mas já engordou três de nervoso.

“A graça é maior do que a lei e cairá sobre Vossa Excelência”, profetizou o senador evangélico Magno Malta (PR-ES), no dia 29, quando Cardozo ficou por quase dez horas na comissão do impeachment do Senado. “Mas vocês estão querendo colocar uma mão de pilão na garganta de um pinto. O problema desse governo é a arrogância, que precede a ruína.”

Na terça-feira, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a abertura de inquérito no Supremo contra Dilma, Lula e Cardozo para investigar denúncia do senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS), que acusou o trio de tentativa de obstrução da Lava Jato.

A portas fechadas, Cardozo disse que a delação premiada do ex-líder do governo é “esquizofrênica” e contraditória. “Ora eu era omisso, ora o todo-poderoso, que interferia na Lava Jato. Chega até a ser engraçado”, afirmou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.