Política

Derrotado na disputa pelo comando da Câmara, Centrão promete colaborar

Apesar do abatimento com a derrota, a ordem dentro do grupo é aproveitar o recesso legislativo para "recolher os mortos e cuidar dos feridos"

Derrotado na disputa pelo comando da Câmara, Centrão promete colaborar Derrotado na disputa pelo comando da Câmara, Centrão promete colaborar Derrotado na disputa pelo comando da Câmara, Centrão promete colaborar Derrotado na disputa pelo comando da Câmara, Centrão promete colaborar
Rogério Rosso (PSD-DF) disputou a presidência da Câmara. Foto: Agência Câmara

Brasília – Derrotados com a ajuda do Palácio do Planalto na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, líderes do Centrão (PP, PR, PSD, PTB, PSC e partidos nanicos) prometem não atrapalhar a votação de propostas de interesse do governo, após a retomada das atividades no Congresso Nacional, em agosto.

Apesar do abatimento com a derrota, a ordem dentro do grupo é aproveitar o recesso legislativo para “recolher os mortos e cuidar dos feridos”.

“Não gosto de comentar nada logo após a derrota. Prefiro esperar acalmarem os ânimos um pouco. Temos um agrupamento importante, mas mudou o comando da Casa e vamos aguardar para ver como isso vai ser”, afirmou o líder do PTB, Jovair Arantes (GO).

Jovair foi um dos coordenadores da campanha de Rogério Rosso (PSD-DF), que também preferiu minimizar a derrota e a participação do governo na corrida pelo comando da Casa. “Agora somos parte da mesma base. Com equilíbrio e maturidade, vamos apoiar o presidente Michel Temer e procurar ter uma maior coesão, com menos divisão”, afirmou Rosso, líder do partido. Ele falou com o presidente em exercício logo após o resultado no plenário.

‘Efeito Cunha’

Apesar de declarar fidelidade, líderes do Centrão consideram que Temer poderá enfrentar uma “tormenta” caso o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) resolva apontar sua artilharia contra integrantes do PMDB e do governo. Mesmo derrotado na Casa, Cunha ainda tem uma base aliada que pode tentar obstruir votações, por exemplo.

Na análise do Centrão, o governo, ao entrar em campo para derrotar Rosso na disputa pela presidência da Casa, acabou por “entregar a cabeça de Cunha”. Alguns deputados lembram que o revés na campanha de Rosso, considerado um aliado do deputado fluminense, ocorreu menos de 48 horas depois de Cunha, ao se sentir acuado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), fazer ameaças contra seus adversários. “Hoje foi comigo; amanhã será com vocês”, afirmou Cunha no colegiado que julga seu processo de cassação. Nesta quinta-feira (14) ele voltou a repetir esse discurso e acabou derrotado, tendo seu recurso rejeitado pela CCJ.

Outro elemento que pode provocar “estremecimentos” na base é a leitura de parlamentares de que foi feito um “acordão” entre o grupo que elegeu Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o Planalto para a disputa de fevereiro de 2017. Na ocasião, estará em jogo um mandato de dois anos no comando da Casa.

O líder do PP, Aguinaldo Ribeiro (PB), outro coordenador da campanha do Centrão, considerou como um dos motivos para a derrota o clima criado dentro da Casa contra Cunha, considerado o “arquiteto” do grupo. “Acho que o efeito Cunha foi muito forte, a realidade é essa. Mas a Casa definiu por duas excelentes candidaturas. O importante é que a decisão foi tomada dentro da base do governo”, afirmou Ribeiro.

No balanço do Centrão, a participação do governo em prol de Maia e a debandada da bancada do PR contribuíram para a derrota do grupo. Na noite da disputa, o líder do partido, Aelton Freitas (MG), chegou a procurar Rosso e informou a ele que, dos 43 integrantes da bancada, ele poderia entregar entre sete a dez para o candidato.

“No segundo turno não tínhamos nenhum compromisso com nenhum dos candidatos. Questionei um a um da bancada e, de cada dez, oito estavam com Maia”, afirmou Freitas. Segundo ele, o ministro dos Transportes, Maurício Quintella Lessa, também deu o aval pela candidatura do DEM. “Consultamos o nosso ministro. Ele também disse que tinha preferência pelo Maia”, ressaltou o líder.

‘Sem interferência’

Procurado, o líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), nega que o governo tenha tido qualquer interferência na disputa. “O governo não entrou. O ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) nos disse para ficarmos distantes”, afirmou. Sobre o racha no Centrão, do qual o PSC também faz parte, Moura considerou: “Não tenho que ficar preocupado com o Centrão, mas com a base como um todo, o que importa é ela estar unida”.

Para ele, o andamento do processo de Cunha dentro da Casa também não vai contaminar a governabilidade. “Não tem essa história de o governo ter entregado a cabeça dele de bandeja. A situação de Cunha vai ter que ser enfrentada em algum momento e temos que dar continuidade aos nossos trabalhos.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.