Política

Desconfianças dentro de governos dificulta execução de integração, diz Lula

Desconfianças dentro de governos dificulta execução de integração, diz Lula Desconfianças dentro de governos dificulta execução de integração, diz Lula Desconfianças dentro de governos dificulta execução de integração, diz Lula Desconfianças dentro de governos dificulta execução de integração, diz Lula

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta-feira, 13, que os países sul-americanos precisam superar divergências políticas e desconfianças para tornar o discurso integracionista em prática. “Precisamos transformar a retórica integracionista em coisas práticas. Nós somos muito mais otimistas em nossos discursos, muito mais esquerdistas e progressistas, e mais conservadores na execução dos nossos discursos no dia a dia”, disse Lula em um evento realizado pelo instituto que leva seu nome em parceria com a União de Nações Sul-Americanas (Unasul).

Lula relatou o caso da possível entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU como um exemplo em que as divergências regionais foram contraproducentes. Ele argumentou que a entrada do Brasil no conselho já era praticamente uma unanimidade e que a desconfiança de outros países sobre uma possível hegemonia do Brasil contribuiu para que a negociação não evoluísse. “Há essa disputa entre nós, um achando que o outro vai ter hegemonia sobre o outro. Enquanto a gente pensar assim, a gente vai andar muito pouco”, avaliou.

O ex-presidente lembrou ainda episódios em décadas passadas que comprovariam a tese de desconfiança mútua e até de um racha entre Brasil e outros países da América Latina. Para Lula, o Brasil era visto como “inimigo” e por isso passou de costas para a região por 500 anos, assim como a região ficou de costas para o Brasil. Ele citou a construção da usina de Itaipu na década de 1970, que teve oposição da Argentina. “A Argentina argumentou que Itaipu era perigoso, que podia alagar Buenos Aires, ameaçaram o Brasil até com bomba atômica.”

Lula disse que esses fatores culturais somados ao “complexo de vira-lata” de parte da direita ainda geram obstáculos à integração comercial na América do Sul. Para ele, essa parte da direita ainda “teima em dizer” que não vale a pena a relação com o Mercosul e com outros blocos regionais. “No Brasil, tem pessoas de direita que se consideram avançadas e dizem que a exportação de serviços para (a construção do) porto de Mariel em Cuba ou para o metrô em Caracas é dar dinheiro para os outros”, disse.

Integração de Legislativos

O ex-presidente Lula criticou em seu discurso os entraves burocráticos a acordos internacionais entre países sul-americanos. Disse que certa vez o Brasil ia fechar um acordo para importar bananas do Equador, mas que houve um problema de regulação sanitária. “No Brasil a gente sempre tem um problema fitossanitário”, reclamou, cobrando uma postura mais aberta. “Se todos os países quiserem só vender, a gente não tem integração de cadeia produtiva coisíssima nenhuma”. Segundo o ex-presidente, a região já poderia ter avançado mais na cadeia produtiva de alimentos não fossem esses impasses. Ele citou também os setores naval e de aviação como alvos de acordos que poderiam estar mais adiantados.

Lula prometeu buscar os líderes legislativos no Brasil, presidente do Senado (Renan Calheiros) e da Câmara (Eduardo Cunha), para propor um encontro com lideranças das casas legislativas e partidárias de todos os países da região. Lula argumentou não ser possível que os acordos internacionais entrem “na fila normal dos projetos internos”, o que leva a aprovação de um acordo bilateral, por exemplo, demorar anos para ser aprovada no Congresso. “Estou convencido que nossa preocupação com integração passa por maior integração política dos nossos dirigentes.”

O ex-presidente disse considerar “lamentável” que disputas internas na região levem a um comportamento “de quem vai agradar mais aos Estados Unidos”. Ele defendeu que se lute por uma maior integração no desenvolvimento tecnológico e nas trocas comerciais. “Temos que ficar menos na dependência do agrado que americanos podem fazer para gente.” Ele abriu uma concessão para um país fora da região: a China.

Disse que gosta da ideia de países sul-americanos buscarem parcerias com o gigante asiático e afirmou não ver mal em conseguir investimento chinês via acordos bilaterais que cada país pode fazer de maneira independente com a China, mas ressalvou em tom de brincadeira que o País não precisa de importação de mão de obra. “Os chineses podem ajudar a resolver nossos problemas se cada país fizer acordo com eles. A única coisa que não precisa aqui é mais ‘chinezinho’, porque aqui já tem muito pobre para trabalhar.”