Ruído na base

“Determinação do governador é para focar na gestão”, diz chefe da Casa Civil

Júnior Abreu disse não ter conhecimento de que secretários estariam usando a máquina pública visando às eleições. Denúncia foi feita pelo presidente da Ales

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Júnior Abreu (foto: Ascom/Casa Civil)
Júnior Abreu (foto: Ascom/Casa Civil)

Após o presidente da Assembleia, Marcelo Santos (União), fazer denúncias graves de coação e do uso da máquina pública para fins eleitorais por parte de alguns secretários que são pré-candidatos às eleições do ano que vem, o chefe da Casa Civil, secretário Júnior Abreu, saiu em defesa do governo.

Segundo ele, a orientação do governador Renato Casagrande (PSB) à equipe é para que deixe a eleição para o ano que vem.

“A determinação do governador para os secretários é para focar na gestão e deixar a eleição para o ano que vem. Todos os secretários, nesse momento, precisam estar alinhados no serviço, na gestão e na entrega de resultados”, disse Júnior Abreu. Ele não é candidato em 2026.

Conforme a coluna noticiou mais cedo, Marcelo Santos, num duro discurso durante a sessão da Ales na manhã desta quarta-feira (02), disse, sem citar nomes, que alguns secretários estariam condicionando o atendimento nas pastas para lideranças e cidadãos em troca de apoio nas eleições do ano que vem.

“O que tem ocorrido com alguns secretários estaduais, que estão colocando o nome para a disputa eleitoral, é que eles estão confundindo a secretaria de Estado com palanque eleitoral e isso não é bom para o governador Renato Casagrande. Isso não é bom para a população do Espírito Santo”, disse o presidente.

Ele chegou a relatar alguns casos: “Tem secretário que, ao dialogar com um prefeito, com um presidente de câmara ou com um cidadão comum, pergunta primeiro de quem será o voto para deputado estadual e federal. Se, por acaso, esse cidadão disser o sentimento dele, de que opta pelo deputado Vandinho por exemplo, o cidadão jamais será atendido, porque ele (secretário) vai ficar com cara feia e vai usar a política eleitoral para não atender o cidadão”.

O chefe da Casa Civil disse desconhecer tal situação e que não foi levado ao seu conhecimento nenhum caso concreto:

Nós rechaçamos qualquer situação nesse sentido. A orientação é para focar na gestão, na prestação de serviços e deixar política para o momento certo, que é a partir de abril do ano que vem.

Sobre a fala ter sido liderada por Marcelo Santos – que é da base aliada, mas acabou abrindo a porteira para outros seis deputados (maioria da oposição) baterem no governo com o mesmo assunto durante a sessão –, Júnior Abreu relevou: “A fala dele é legítima. É prerrogativa do cargo dele”.

Deputados endossaram

Depois do discurso que incendiou a sessão e o mercado político, Marcelo Santos passou a presidência para o deputado Danilo Bahiense (PL) e deixou a Mesa Diretora. Outros deputados endossaram as críticas aos secretários.

O deputado Alcântaro Filho (Republicanos) disse que a Ales será ativa na fiscalização tanto dos secretários quanto dos candidatos ao governo do Estado. Não citou nomes, mas a leitura foi de que ele tenha se referido ao vice-governador Ricardo Ferraço (MDB), pré-candidato ao Palácio Anchieta.

“Iremos fiscalizar os secretários e também os pré-candidatos ao governo do Estado. Não podemos ver e nem tolerar que nenhum município seja prejudicado por eventual posição. A Ales vai ser ativa na fiscalização para que não tenhamos o uso da máquina pública, que deve ter isenção para levar políticas públicas sem fins eleitoreiros”, disse o deputado.

Logo em seguida, foi a vez de Zé Esmeraldo (PDT) descarregar a artilharia. Ele parabenizou o presidente pela fala, mas disse que ele teria de ser mais objetivo e dar nomes, o que ele mesmo fez.

“Começa lá pelo Detran, inclusive estão agindo em cima de funcionários, em vários órgãos do Estado. Tem a Secretaria de Saúde. Tem várias secretarias que os secretários estão utilizando o cargo para fazer política. Tem que denunciar esses caras, eles acham que são o quê?”, questionou Esmeraldo.

Bahiense, que presidia a sessão, também deu sua contribuição: “Lamentavelmente tenho recebido muitas reclamações de pessoas que procuram órgãos do governo e a primeira pergunta é sobre quem irão apoiar. Hoje foi um alerta, mas da próxima vez vamos dar os nomes. São candidatíssimos e estão fazendo um papelão vergonhoso”.

Líder do Bloco dos Independentes, Coronel Weliton (PRD), disse que seu grupo é prejudicado duas vezes. “É um absurdo sabermos de um assunto como esse. Nós somos prejudicados duas vezes, primeiro porque usam da máquina pública para fazer campanha eleitoral antecipada, que é crime. Segundo, porque nós temos um bloco independente, que além de não ser ouvido pelo governo, é prejudicado por esse comportamento de alguns secretários”.

Assumção: “Covardia”

Capitão Assumção (foto: Emanuel Levi/Ales)

O deputado Capitão Assumção (PL) também se somou aos colegas nas críticas e chamou de covardia a postura de alguns secretários. Embora seja da oposição, não culpou o governador.

“É um absurdo, estamos na condição de oposição, mas é uma oposição coerente. Enquanto isso, algumas pessoas que estão num cargo privilegiado, estão se utilizando disso em busca de votos. É uma covardia contra o povo e contra o governador”, disse Assumção parabenizando o presidente pela “denúncia gravíssima”.

Coube ao deputado Lucas Polese (PL) encerrar as falas sobre o assunto, que acabou tomando praticamente toda a sessão.

“É vergonhosa a antecipação do processo eleitoral, principalmente por parte dos secretários, que têm o caixa do Executivo. É uma disputa desleal. Eu acho que tem que dar nome aos bois mesmo. É a Secretaria da Agricultura, da Justiça, da Mulher (…) Estão subvertendo a prestação de serviço público para a sociedade, porque está vindo mediante coação para se obter o voto”.

Os destinatários

Além parlamentares na sessão, deputados da base ouvidos pela coluna, sob reserva, também se mostraram insatisfeitos com parte da equipe de Casagrande e citaram – como destinatários do discurso de Marcelo Santos – cinco nomes do primeiro e segundo escalões do governo do Estado.

São eles: o secretário estadual da Saúde, Tyago Hoffmann (PSB), que é deputado estadual licenciado e pré-candidato a deputado federal; o diretor do Detran, Givaldo Vieira (PSB), pré-candidato a deputado estadual; o diretor-presidente do DER, Eustáquio de Freitas (PSB), e o secretário da Agricultura, Enio Bergoli – os dois são cotados para disputar a Câmara Federal –; e o secretário de Turismo, Victor Coelho (PSB), que deve disputar vaga na Assembleia.

Os deputados reclamam que não têm a mesma estrutura que os secretários e que por isso estariam em desvantagem na corrida eleitoral.

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Fabiana Tostes

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.