Política

'Em todo colegiado há divergências', diz Toffoli sobre juiz de garantias

O Supremo retoma nesta semana suas atividades, em meio à crise interna provocada pela decisão do vice-presidente do STF, ministro Luiz Fux

‘Em todo colegiado há divergências’, diz Toffoli sobre juiz de garantias ‘Em todo colegiado há divergências’, diz Toffoli sobre juiz de garantias ‘Em todo colegiado há divergências’, diz Toffoli sobre juiz de garantias ‘Em todo colegiado há divergências’, diz Toffoli sobre juiz de garantias
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Na abertura do Ano Judiciário, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, disse nesta segunda-feira, 3, que é normal haver “divergências” entre os ministros e ressaltou que o objetivo do Poder Judiciário é “gerar confiança, previsibilidade e segurança jurídica”.

O Supremo retoma nesta semana suas atividades, em meio à crise interna provocada pela decisão do vice-presidente do STF, ministro Luiz Fux, que suspendeu por tempo indeterminado a criação do juiz de garantias, medida prevista na lei anticrime sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro.

Com uma canetada, Fux derrubou uma determinação de Toffoli, impôs uma derrota a Bolsonaro e contrariou o Congresso, que havia incluído a medida no pacote anticrime. Nesta segunda-feira, Fux decidiu convocar audiências públicas sobre o tema para os dias 16 e 30 de março.

“É óbvio que em todo colegiado há divergências, porque a razão de ser é a multiplicidade das visões que somam, que trazem, ao fim e ao cabo, a síntese daquilo que deve prevalecer como uma somatória das diferentes visões, como sempre nos lembra o nosso ministro Marco Aurélio”, disse Toffoli, em solenidade ocorrida nesta manhã em Brasília.

A cerimônia de abertura do Ano Judiciário foi acompanhada pelo vice-presidente da República, Hamilton Mourão, e pelos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

“Gerar confiança, previsibilidade e segurança jurídica: esse é o objetivo primordial do Poder Judiciário na atual quadra da história do País, em que se anseia pela retomada do crescimento econômico e do desenvolvimento social sustentável. Devemos ter orgulho do Poder Judiciário brasileiro. Nosso Judiciário é um dos mais produtivos do mundo e avança continuamente em eficiência e celeridade”, disse Toffoli na solenidade.

“Se temos hoje uma democracia consolidada na qual as liberdades públicas são exercidas amplamente e os direitos fundamentais são reafirmados, isso se deve, em grande medida, à solidez do nosso sistema de Justiça. Solidez essa cunhada à luz da Constituição”, afirmou o presidente do STF.

Em outra decisão que afeta o Parlamento, Toffoli atendeu na semana passada a um pedido do governo de Mato Grosso e determinou que o terceiro colocado nas eleições ao Senado no Estado assuma interinamente a cadeira da senadora Juíza Selma Arruda (Podemos), cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Neste caso, Carlos Fávaro (PSD), que ficou em terceiro lugar na disputa de 2018, deve ficar com a vaga.

No entanto, para a troca ser efetivada, é preciso que o Senado declare antes a vacância do cargo. Na prática, a decisão de Toffoli aumenta a pressão sobre Alcolumbre, que tem adiado um desfecho para o caso.

Calendário

Ao tratar da pauta de julgamentos deste semestre, Toffoli destacou os julgamentos sobre a distribuição dos royalties do petróleo (29 de abril) e o tabelamento do frete (19 de fevereiro). “Em 2020, o plenário enfrentará, ainda neste primeiro semestre, uma série de temas de relevância nacional”, frisou Toffoli.

Prestigiaram a solenidade os ministros da Justiça, Sérgio Moro, da Advocacia-Geral da União (AGU), André Mendonça, e da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira.

Ditadura

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, por sua vez, lembrou que a solenidade desta segunda-feira tem o objetivo de “renovar o compromisso com a Constituição”, e que o documento “há mais de 30 anos colocou fim à ditadura”. No último ano, ele teve atritos com o presidente Jair Bolsonaro, que colocou em dúvida a causa da morte do pai do presidente da OAB durante a ditadura, que foi capturado, torturado e morto pelo regime.

Santa Cruz também comemorou a aprovação de medidas pelo Legislativo, como a lei do abuso de autoridade e a aprovação da figura do juiz de garantias. O presidente da OAB destacou, ainda, a importância da harmonia entre Poderes e afirmou que a instituição que representa os advogados brasileiros seguirá “vigilante” e “cooperativa”.

O procurador-geral da República, Augusto Aras, endossou o discurso de harmonia entre as instituições. Aras defendeu “diálogo, transparência, respeitando autonomia e competência de cada Poder”.