Na primeira agenda pública após a divulgação do tarifaço de Donald Trump contra o Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu o tom e mandou o recado. Num discurso nesta sexta-feira (11) em Linhares, Norte do Espírito Santo, Lula afirmou que o presidente americano está “mal-informado”, chamou Jair Bolsonaro de “covarde” e avisou que o Brasil não vai se curvar diante de ameaças.
“Tenham certeza de uma coisa: esse País não abaixará a cabeça para ninguém. Ninguém porá medo nesse País com discurso e com bravata. Ninguém. E eu acho que, nesse aspecto, vamos ter o apoio do povo brasileiro, que não aceita nenhuma provocação”, disse o Presidente.
Lula desembarcou no Espírito Santo por volta das 10 horas para participar da cerimônia que marca o início dos pagamentos do Programa de Transferência de Renda para agricultores familiares e pescadores artesanais atingidos pela tragédia de Mariana.
São R$ 3,7 bilhões que serão destinados, ao longo de quatro anos, para aproximadamente 22 mil pescadores e 13,5 mil agricultores capixabas e mineiros, fruto do Acordo do Rio Doce. No Estado, os pagamentos começaram ontem (10).
Lula celebrou o acordo e participou da entrega de cartões de pagamento para quatro agricultoras que, simbolicamente, representaram todos os beneficiados. Porém, o assunto que predominou no evento foi a ameaça de Trump de taxar em 50% os produtos importados brasileiros por motivação, principalmente, político-ideológica.
Na carta aberta que o presidente americano endereçou a Lula, Trump justificou a medida como resposta ao tratamento que o País estaria dando a Bolsonaro. Também criticou o Supremo Tribunal Federal, afirmando que ordens judiciais “censuram” redes sociais americanas e ameaçou elevar as taxas se o Brasil agir com reciprocidade.
Ministros reagem
As ameaças do americano não passaram despercebidas pelos ministros que integraram a comitiva do Presidente ao Espírito Santo e discursaram no Parque de Exposições de Linhares.
O advogado geral da União, Jorge Messias, disse que Lula não batia continência à bandeira americana e que o “Brasil é dos brasileiros” – em boa parte do evento, o Presidente usou um boné azul com a mesma frase e posou para fotos com a bandeira do Brasil.
O chefe da Casa Civil, Rui Costa, alfinetou bolsonaristas durante seu discurso. “Muitos carregavam a bandeira nas costas para dizer que eram brasileiros de verdade, mas agora com o ataque dos Estados Unidos, nós sabemos quem são os brasileiros de verdade e quem são os traidores da pátria”.
Em sua vez de falar, o ministro Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário, reafirmou o apoio ao Presidente: “Nós estamos com o presidente Lula, nesse ataque contra a soberania nacional”.
“Coisa” e “covarde”
Ao se referir ao ex-presidente Jair Bolsonaro, Lula não poupou artilharia e chegou a usar de deboche:
“Aquela coisa covarde, que preparou um golpe nesse País… Não teve coragem de fazer, está sendo processado, vai ser julgado e mandou o filho dele para os Estados Unidos pedir para o Trump fazer ameaça: ‘Ah, se não liberar o Bolsonaro, vou taxar vocês’ (…) Que tipo de homem é esse, que não tem vergonha para enfrentar um processo de cabeça erguida?”, disse Lula.
Lula chamou Trump de mal-informado e negou que os Estados Unidos tenham qualquer tipo de prejuízo comercial na relação com o Brasil. “Trump, com todo o respeito, o senhor está mal-informado. Os Estados Unidos não têm déficit comercial com o Brasil”.
De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), nos últimos 16 anos, a balança comercial tem sido favorável ao país vizinho. As importações de produtos americanos no Brasil superaram em 90,2 bilhões de dólares as exportações brasileiras.
Recorrer à OMC e ao Brics
Lula disse também que levará a questão à Organização Mundial do Comércio (OMC) e à cúpula do BRICs, além de tentar negociar para evitar a taxação dos produtos brasileiros. Está prevista a criação de um comitê, com representantes do governo e do empresariado, para tentar soluções.
Porém, o Presidente afirmou que se nada der resultado, se não houver recuo do anúncio de Trump, pretende agir com a Lei da Reciprocidade.
“Respeito a relação que o Brasil tem, política e comercial (com os Estados Unidos). Vou tentar brigar em todas as esferas para que não venha a taxação. Vou brigar na OMC, com meus companheiros do BRICs. Mas, se não tiver jeito, nós vamos estabelecer a reciprocidade. Taxou aqui, a gente taxa lá. Não tem outra coisa a fazer”.
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