Entrevista

Euclério: Anistia a Bolsonaro, impeachment de ministros e Tarcísio presidente

Com um pé já na disputa ao Senado, Euclério Sampaio se posiciona com relação a temas polêmicos e à corrida presidencial no ano que vem

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Euclério Sampaio (Foto: Thiago Soares/Folha Vitória)

O prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (MDB), que decidiu que renunciará ao mandato para disputar uma vaga ao Senado, conforme noticiado mais cedo, já tem posições bem definidas sobre alguns temas polêmicos que tramitam no Congresso.

Sem tergiversar sobre nenhum assunto, Euclério manifestou sua opinião sobre PEC da Blindagem, PL da Anistia, condenação de Bolsonaro, impeachment de ministros do Supremo, ideologia de gênero e sobre aborto.

Também tratou da eleição presidencial do ano que vem e revelou quem será seu candidato a presidente da República. “O Brasil não precisa nem de Lula, nem de Bolsonaro”, afirmou.

Euclério afirmou, nessa segunda parte da entrevista concedida à coluna De Olho no Poder, que não tem medo de se posicionar e que não mudará de postura para ganhar votos.

PEC da Blindagem

Euclério disse que, se já fosse senador, votaria contrário à PEC da Blindagem. “Eu votaria contra, não é por demagogia, não. Mesmo porque, na Assembleia, no meu primeiro mandato, eu votei contra a aposentadoria do deputado estadual. Quanto à blindagem, eles fizeram aquilo para se protegerem das covardias que estavam fazendo com os parlamentares. Mas eu votaria contra”.

Questionado sobre a que “covardias” estaria se referindo, respondeu: “Parlamentar sendo ameaçado. O que está acontecendo no Congresso é feio. É feio ver os presidentes se apequenarem porque respondem a processos no Supremo. Eu sou assim: se eu cometer um crime, ninguém vai me chantagear. Vai ter que me denunciar para eu pagar minha pena. Se um dia eu errar, eu vou pagar pelo que eu fiz”.

Anistia para Bolsonaro

Já com relação ao projeto que pretende anistiar os presos e condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023 e pela trama golpista, Euclério disse ser a favor. Afirmou que as condenações são “a maior aberração” que já viu na vida.

“Eu sou advogado. O que está acontecendo no Brasil, essas condenações, é a maior aberração que eu já vi na minha vida. Sou a favor da anistia. Sou a favor de que quem cometeu um delito seja punido, mas tem dois anos que as pessoas estão presas. Aí eu te pergunto, a pena mais grave que teve ali, a meu ver, seria de seis meses a um ano de detenção. Condenar uma senhora de 70 anos a 20 anos, isso não existe em país nenhum do mundo. Sou a favor da anistia, até mesmo porque para eventuais crimes praticados lá a pena já foi cumprida, já foi paga”, afirmou.

Afirmando ser fã do Exército, Euclério citou, de forma elogiosa, o regime militar que comandou o Brasil por mais de duas décadas, ao ser perguntado sobre militares que teriam planejado derrubar o presidente Lula. Também justificou que a instância de julgamento é incorreta.

“Eles dizem que têm provas contra esses oficiais. Vou te adiantar, eu sou fã do Exército. Meu sonho, quando eu era pequeno, era ser oficial do Exército. Não consegui, mas sou fã. Eu vivi no regime militar. Nunca vi faltar arroz, feijão e farinha na mesa do trabalhador. Hoje falta. E, no mais, a instância é incorreta. Não era para ter ninguém sendo julgado no STF, que é a última instância. O STF é o último respiro, a última esperança de uma pessoa para recorrer. Então, quando o processo corre de forma errada no STF, você mata a esperança do cidadão de recorrer, está tudo errado”.

Euclério disse ainda que Bolsonaro é vítima de uma “covardia”. “Nós temos que ser justos. Estão fazendo muita covardia com Bolsonaro. Eu também não conheço as provas, mas você vê que tem excesso, exagero”.

Perguntado se defendia uma condenação com pena menor, afirmou que defende “condenações justas. Não acabar com a vida da pessoa”.

“Tarcísio é o meu candidato”

Ao avaliar o cenário político nacional, Euclério apontou um nome que poderia pacificar o País e governá-lo, a partir de 2027. O prefeito defendeu o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e chegou a chamá-lo de “meu candidato”.

“Entendo que o Brasil não precisa nem de Lula, nem de Bolsonaro. Precisa de uma pessoa que possa abraçar todos e apaziguar o que está ocorrendo no País. Uma pessoa comedida e moderada, como eu sou em Cariacica. Lá eu converso com todo mundo, só não participa da construção da nova Cariacica quem não quer. Hoje, quem abraça isso é o governador de São Paulo, Tarcísio. Ele é muito moderado e qualificado. É o meu candidato, a menos que apareça um melhor, que eu acho difícil”.

Ao defender Tarcísio, Euclério afirmou que o País não precisa de extremistas. “Tanto o extremismo de direita quanto o de esquerda fazem mal para o País. O presidente, o governador e o prefeito não podem colocar o que pensam acima do interesse do povo. Tem que governar para todos, para quem votou e para quem não votou”.

E o fato de Tarcísio estar no Republicanos – partido que no Estado está no campo oposto ao de Euclério – não é empecilho para o prefeito. Inclusive, Euclério pretende repetir o que fez em 2022, quando pediu votos para Bolsonaro e Casagrande. Dessa vez, será Tarcísio e Ricardo.

“Eu não voto em partido, voto em pessoas. Meu interesse é votar em quem vai fazer o bem para o povo. Eu não vou levar briga de partido ou briga local para prejudicar toda a nação”.

Mandato e impeachment para ministros do STF

Euclério também se mostrou favorável a uma eventual abertura de processo de impeachment contra ministros do Supremo. Disse não ter dificuldades de votar, caso vire senador e o processo seja colocado em pauta.

“Deputado não é cassado? Senador não é cassado? O cidadão não é preso quando comete um crime? Não tenho dificuldade em votar a cassação de ministros. Se tiver um processo de impeachment e tiver elementos nos autos, e eu acho que vai ter, eu não tenho dificuldade de votar favorável”, afirmou.

O prefeito também defende que os ministros tenham mandato, como os políticos. Hoje, um ministro é nomeado pelo presidente da República, chancelado pelo Senado e fica no cargo até completar 75 anos, quando é aposentado compulsoriamente.

“Acho que deveriam ter mandato. De oito a 10 anos, o prazo teria que ser estudado. Eles não são escolhidos? Deveria ser mais abrangente essa escolha. Mesmo que não seja, deveria ter prazo de validade”, afirmou Euclério.

Euclério em entrevista à colunista Fabi Tostes

Lei Antigênero

O prefeito também foi questionado sobre a Lei Antigênero. De autoria do deputado estadual Alcântaro (Republicanos), a lei foi aprovada na Assembleia e contou com sanção tácita do governador Renato Casagrande (PSB). Em resumo, a lei proíbe tratar de questões de gênero – identidade e até igualdade – nas escolas sem a autorização prévia dos pais.

Diversas entidades contestaram e foram até o STF, que pediu um posicionamento do governo do Estado e da Assembleia. Dessa vez, o governo se posicionou de forma contrária, afirmando que a lei era inconstitucional.

Mesmo fazendo parte da base aliada do governo, Euclério disse ser favorável à lei.

“Não tenho muita proximidade com o Alcântaro, inclusive ele é adversário do meu grupo político, mas eu tenho que ser honesto. Se eu estivesse na Assembleia, também faria essa lei, independente de ser parceiro de Renato (Casagrande). Parabenizo o Alcântaro por essa lei e se eu tiver no Senado, faço igual”, garantiu.

Aborto

Conservador, Euclério continua sendo contra o aborto. Mas, diferente do que muitos do seu espectro político defendem, ele é contrário a mudar a legislação já existente, no Código Penal, que considera o aborto crime, exceto em casos de anencefalia, estupro e risco de morte para a mãe.

“A lei que está em vigor hoje me atende, porque querem mudar para liberar o aborto, eu sou contra e não adianta me pedir (para votar). Agora, como eu vou querer proibir, em caso de risco de morte para a mãe? Eu não posso trocar uma vida por uma outra vida que ainda não tem sentimento. Eu quero a lei do jeito que está. Não sou favorável a mudar a lei”.

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Fabiana Tostes

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.