Eleições 2026

Ex-secretário da Saúde, Nésio cogita disputar o governo do ES se Helder recuar

Ele defende que o campo progressista não poderá ficar sem palanque e sem representante na corrida pelo Palácio Anchieta

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Nésio Fernandes (foto: Wing Costa)
Nésio Fernandes (foto: Wing Costa)

A disputa pelo governo do Espírito Santo em 2026 pode ganhar um novo nome no campo da esquerda. Ex-secretário estadual de Saúde e liderança do PCdoB, Nésio Fernandes disse que está disposto a entrar na corrida caso o deputado federal Helder Salomão (PT) recue.

Durante o Encontro Estadual do PT, que ocorreu no último sábado, Helder foi lançado pré-candidato ao governo, mas ainda não bateu o martelo. Conforme entrevista à coluna publicada mais cedo, ele só será candidato se o PT nacional, incluindo o presidente Lula, entrar de corpo e alma em sua campanha.

O PCdoB integra a federação com o PT e o PV e a movimentação de Nésio tem como objetivo fortalecer o campo progressista, evitando que a esquerda fique sem representação e palanque na disputa eleitoral.

Se a pré-candidatura de Helder vingar, Nésio disse que pode disputar outros cargos. A decisão será tomada nos próximos 60 dias, mas ele já garante que participará do processo eleitoral do ano que vem:

“Poderei jogar de goleiro, atacante ou capitão do time. Estou colocando meu nome à disposição, para aquilo que a federação entenda como adequado. Posso ser candidato a deputado estadual, federal, senador, vice e governador. Essa definição deverá ocorrer nos próximos 60 dias. A certeza é que vou disputar no ano que vem”.

O prazo de 60 dias é, segundo Nésio, para que a federação avalie as condições impostas por Helder. A possibilidade de substituição do nome já teria sido informada ao PT – Nésio participou do encontro do partido.

“Entendo que qualquer candidatura que se defina deverá ser harmoniosa, de consenso e capaz de preservar a unidade na federação. Não pode haver disputas internas e movimentos que não sejam caracterizados pela lealdade. Então, com esse cenário, podemos consolidar o nome do Helder, que é um nome superpreparado e adequado para esse desafio, ou também construir outras alternativas. Entre elas, eu poderia ser candidato num processo majoritário”, avaliou.

Notoriedade na pandemia

Nésio é médico sanitarista e foi secretário estadual da Saúde durante todo o segundo mandato do governador Renato Casagrande (PSB), entre os anos de 2019 e 2022.

Vindo do Tocantins, onde tinha atuado como secretário de Saúde de Palmas, Nésio ficou na linha de frente nas ações do governo durante a pandemia de Covid-19, período em que teve visibilidade no Estado.

Em 2023, foi convidado a integrar o Ministério da Saúde. Ele assumiu a Secretaria Nacional de Atenção Primária, representando a participação do PCdoB no governo Lula.

Nésio ficou no cargo por pouco mais de um ano, até ser exonerado, em fevereiro de 2024, pela ex-ministra da Saúde Nísia Trindade. Desde então, tem atuado na iniciativa privada, com consultorias.

Mesmo em outros cargos e atuando em outras áreas, Nésio continua aliado de Casagrande e defende a candidatura do governador ao Senado, ao lado do senador Fabiano Contarato (PT), que vai tentar a reeleição.

“A federação precisa garantir a reeleição do Contarato e a eleição do Casagrande (…) É importante que a federação lance candidatura própria ao governo do Estado. Não seria adequado para a tradição política do Espírito Santo não ter uma expressão desse campo. Seria a primeira vez sem uma candidatura do campo mais progressista”, avaliou.

E Ricardo Ferraço?

Acontece que o grupo de Casagrande tem o nome do vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) como prioridade na disputa ao Palácio Anchieta. Questionado se apoiaria o nome apoiado por Casagrande, Nésio avaliou a possibilidade:

“Ricardo é um democrata, no entanto é um quadro de direita e sinaliza afastamento ao presidente Lula. Nós entendemos que temos 10 meses pela frente para construir uma paciente aproximação com Ricardo Ferraço e com todos aqueles que estão na frente ampla. Não sendo possível, nós vamos para a disputa eleitoral até o final”.

Nésio fez um exercício do que seria a chapa ideal, levando em conta a parcela do eleitorado que ele acredita que repetirá a votação em Lula no ano que vem. No primeiro turno de 2022, Lula teve 40,4% dos votos no Espírito Santo – Bolsonaro teve 52,23%.

“O ideal seria que nós tivéssemos uma composição com o projeto majoritário da frente ampla, preservando as características que elegeram Casagrande em 18 e 22, permitindo uma composição com o centro, com a direita democrática e com a esquerda em todos os espaços majoritários. Aí poderia ter Casagrande para o Senado, Contarato para o Senado, Ricardo para o governo e o vice de qualquer partido da aliança”, afirmou.

Porém, não há indicativos de que Ricardo Ferraço tenha a mesma convicção de Nésio sobre o “cenário ideal”. Pelo contrário. O que se apresenta, até o momento, é que, sob a liderança de Ricardo, a chapa governista tende a ser muito mais à direita.

Ricardo tem participado de eventos ao lado do deputado federal Da Vitória (PP) – futuro presidente da federação União Progressista – e do conservador prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (MDB).

Ele está muito mais próximo dos dois – que têm interesse na segunda cadeira ao Senado, numa dobradinha com Casagrande – do que a qualquer liderança de centro-esquerda ou esquerda.

Na manutenção desse cenário, será realmente necessário que o campo liderado pelo PT tenha um palanque próprio para fazer a defesa de Lula, de seus candidatos e ideais.

A decisão, porém, não sairá daqui do Estado. Com reunião marcada para o próximo dia 24, Helder vai levar o encaminhamento dos petistas capixabas para Lula, que irá definir, juntamente com o PT e partidos aliados, se o Espírito Santo terá candidato ao governo e quem será convocado para a missão.

O “plus” é que agora o grupo não precisa depender exclusivamente de Helder Salomão, que teria de sacrificar uma reeleição praticamente certa à Câmara Federal para arriscar numa pré-candidatura ao governo do Estado.

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Fabiana Tostes

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.