Política

'Foro privilegiado virou um exagero absoluto', diz FHC

‘Foro privilegiado virou um exagero absoluto’, diz FHC ‘Foro privilegiado virou um exagero absoluto’, diz FHC ‘Foro privilegiado virou um exagero absoluto’, diz FHC ‘Foro privilegiado virou um exagero absoluto’, diz FHC

Brasília – O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ser favorável ao fim do foro privilegiado. No início da noite desta quarta-feira, 26, o Senado aprovou em primeiro turno, por unanimidade, projeto que extingue o foro para autoridades, com exceção dos chefes dos Três Poderes. A proposta de emenda constitucional ainda passará por três sessões de discussão antes da votação em segundo turno.

“Eu acho que o foro privilegiado no Brasil virou um exagero absoluto, até porque as pessoas praticam crimes que não têm nada a ver com seu cargo e, ao mesmo tempo, usam o cargo para serem julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF)”, afirmou. “Acho que é preciso realmente alterar essa lei. Sou favorável.”

Sobre a lei do abuso de autoridade, cujo projeto foi aprovado pelo Senado também no início desta tarde, o ex-presidente disse ser inaceitável questionar decisões judiciais por interpretação. O senador Roberto Requião (PMDB-PR) acatou uma emenda e decidiu alterar o trecho mais polêmico da proposta, que punia o juiz por interpretar a lei de maneira não literal.

“Tirar isso da lei foi muito bom”, afirmou. “Por outro lado, quem pode ser a favor de abuso de autoridade? Ninguém. O problema é o momento e a interpretação contra os procuradores e os juízes. É inaceitável.”

O ex-presidente disse também que o momento político pelo qual o País passa, com os desdobramentos da Operação Lava Jato, era inevitável. “Ninguém mais aguenta a podridão moral. Chegou a hora de mudar a regra do jogo. Tem que mudar”, afirmou. “Os abusos foram tantos. Tem que haver uma reação, que é o que está acontecendo.”

FHC disse que a Justiça deve acelerar o julgamento dos acusados para “passar o Brasil a limpo”. “Quem decide quem realmente é culpado é a Justiça, não sou eu, não é a imprensa, nem os que acusam. A Justiça tem que acelerar e tomar as decisões.”

Caixa 2

Sobre o uso de recursos de caixa 2 nas campanhas eleitorais, o ex-presidente lembrou que o STF proibiu qualquer contribuição para os partidos e candidatos. FHC alertou para o risco de o Fundo Partidário se tornar um instrumento de distribuição de dinheiro, a exemplo do que ocorre, na avaliação dele, com a contribuição sindical.

“Acho que é preciso que o Congresso decida o que vai fazer. Se começar a transformar o Fundo Partidário em um fundo sindical, como instrumento para distribuir dinheiro, vamos criar mais partidos que não são partidos, e aí não está bom. Tem que limitar o que é partido, quem tem direito ao dinheiro do fundo”, afirmou.

“Se for o caso de ter dinheiro privado, não pode dar ao partido ou às pessoas. Dá ao tribunal. Abre uma conta em nome do partido no tribunal eleitoral e dá o limite”, acrescentou.

Drogas

FHC participou de um seminário sobre os dez anos da lei antidrogas, no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Sobre esse assunto, ele avalia que é preciso discutir a questão da prisão dos usuários. “Isso é o problema mais dramático para as pessoas. Estamos com nossos presídios superlotados, muitas vezes por falsos crimes”, afirmou.

Ele avalia que a lei antidrogas é inespecífica sobre esse critério, pois estabelece que o usuário não pode ser preso, mas não define o que é o usuário. “Então, quando a pessoa tem alguma dose de alguma droga, a polícia prende e, se for pobre e preto, vai pra cadeia porque diz que é traficante. Isso está errado”, disse.

O ex-presidente defendeu a descriminalização das drogas como forma de regulamentar a questão. “Hoje, a droga, infelizmente, é livre na mão do bandido. Tem que acabar com isso e regulamentar, ter uma lei que permita isso. Acho que o Brasil está pronto para isso. E os tribunais têm papel tão grande quanto o Congresso nesse sentido. É uma evolução da cultura”, afirmou.

“Reitero, todas as drogas fazem mal. É preciso se fazer o que se fez com o cigarro. Combater e regulamentar o uso. Caiu o uso do tabaco. É preciso ter coragem.”