Política

Governo prepara MP que cria compensação financeira para explorar terra indígena

Governo prepara MP que cria compensação financeira para explorar terra indígena Governo prepara MP que cria compensação financeira para explorar terra indígena Governo prepara MP que cria compensação financeira para explorar terra indígena Governo prepara MP que cria compensação financeira para explorar terra indígena

Brasília – O governo está com uma medida provisória pronta, que autoriza o avanço de projetos de infraestrutura dentro de terras indígenas. A MP prevê a criação de uma compensação financeira que seria paga aos índios, em razão da utilização de parte de suas terras homologadas. No caso de projetos de construção de hidrelétricas, o texto estabelece ainda uma participação anual no resultado da operação da usina destinada às comunidades indígenas que sejam diretamente afetadas pelo empreendimento.

O jornal “O Estado de S. Paulo” teve acesso ao texto integral da MP. A compensação financeira que foi estabelecida corresponde a um índice de 2% sobre o valor da terra. O cálculo desse valor levaria em conta uma fórmula que considera o preço estimado da terra calculado pelo Incra, multiplicado por metro quadrado que seja afetado pela obra.

No caso dos projetos hidrelétricos, há ainda a previsão de uma participação financeira dos índios nas operações das usinas, com um adicional de 0,6% sobre o preço da compensação financeira por conta do impacto em suas terras. Seria um tipo de royalty pago anualmente.

Para administrar a arrecadação e os repasses, foi estabelecida a criação de um fundo. O Fundo de Apoio aos Povos Indígenas (Fapi) será tocado por um comitê gestor presidido pelo Ministério da Fazenda, com participação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e do Ministério da Justiça. Os recursos serão centralizados em uma conta na Caixa Econômica Federal. Em nenhum momento, a MP menciona a participação da Fundação Nacional do Índio (Funai).

A proposta estabelece ainda que a liberação de projetos de hidrelétricas que afetem terras indígenas obtenha antes autorização do Congresso Nacional. A regra vale tanto para projetos que tenham suas instalações ou equipamentos localizados total ou parcialmente dentro de terra indígena, ou para aqueles provoquem alagamento de parte da terra indígena.

A MP polêmica foi denunciada pelo cacique Raoni e um grupo de indígenas brasileiros que está nesta semana em Paris, na Cúpula do Clima (COP-21). O tema também será abordado pelo advogado do Programa de Política e Direito do Instituto Socioambiental (ISA), Mauricio Guetta, durante evento que trata dos impactos aos povos indígenas no Brasil.

Regulamentação

Com a medida provisória, o governo quer regulamentar o artigo 231 da Constituição Federal, uma proposta antiga do governo federal e defendida há muito tempo pelo setor elétrico, por ruralistas e pela indústria da mineração.

Pelo Artigo 231, o aproveitamento dos recursos hídricos, além da pesquisa e lavra das riquezas minerais em terras indígenas, só pode ser feito após autorização do Congresso Nacional, “ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados.” No Congresso, essa regulamentação já era alvo de um projeto de lei relatado pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR).

Para o governo, a nova MP é uma alternativa à Proposta de Emenda Constitucional (PEC 215), que pretende retirar do Executivo a função de homologar terras indígenas, transferindo essa função para os parlamentares.

Os órgãos ligados à defesa dos povos indígenas e do meio ambiente veem na regulamentação do artigo 231 uma ameaça, porque passa-se a admitir vários tipos de exploração comercial e industrial que hoje não podem ocorrer em terras demarcadas.

Tapajós

Com a MP, o governo consegue atingir diretamente a sua prioridade no setor elétrico: liberar a construção de duas megausinas no Rio Tapajós, no Pará. Esses dois projetos, que preveem investimentos da ordem de R$ 50 bilhões, respondem por quase metade de toda a geração hidrelétrica que o governo planeja no País para os próximos dez anos. O impacto direto em terras indígenas, no entanto, já levou o governo a reformular as usinas e a adiar a realização de leilões, porque não conseguiu o licenciamento ambiental prévio dos empreendimentos, o que é exigido por lei. Ao estabelecer uma compensação financeira aos índios, o governo espera que projetos como esse avancem rapidamente. A intenção do Ministério de Minas e Energia é licitar a usina de São Luiz do Tapajós em 2016.