Grupo de Vandinho cogita ir ao STF para ter votação secreta na eleição da Ales Grupo de Vandinho cogita ir ao STF para ter votação secreta na eleição da Ales Grupo de Vandinho cogita ir ao STF para ter votação secreta na eleição da Ales Grupo de Vandinho cogita ir ao STF para ter votação secreta na eleição da Ales
Vandinho conversa com colegas no plenário: disputa pelo comando da Assembleia / crédito: Ales
Vandinho conversa com colegas no plenário: disputa pelo comando da Assembleia / crédito: Ales

A eleição da Mesa Diretora da Assembleia (Ales) está marcada para o próximo dia 1º e a legislação estadual determina que seja aberta e nominal. Mas, o grupo que apoia Vandinho Leite (PSDB), candidato a presidente da Ales, cogita ir à Justiça para que a votação seja secreta. O motivo? Permitir que os deputados votem sem medo de sofrer represálias após o resultado, seja por parte do presidente eleito, seja por parte do governo.

Aliados de Vandinho acreditam que, se a votação for secreta, há chances reais do tucano sair vitorioso contra o candidato Marcelo Santos (Podemos), que recebeu a benção do Palácio Anchieta para a disputa. Aberta, os deputados da base aliada que apoiam Vandinho temem perder emendas parlamentares e entregas para seus redutos eleitorais, além de cargos na Mesa Diretora, caso Marcelo seja eleito.

A questão, porém, é que tanto a Constituição Estadual quanto o Regimento Interno da Ales determinam que a votação da Mesa seja aberta e nominal.

O parágrafo 8º do artigo 58 da Constituição Estadual diz que “a eleição para a Mesa da Assembleia Legislativa ou o preenchimento de qualquer vaga nela ocorrida dar-se-ão por votos nominal e aberto”. O dispositivo para a votação aberta foi incluído na Constituição em 2003, após a turbulenta eleição da Mesa Diretora que foi parar nos tribunais – a coluna noticiou que foi a última vez que a Ales teve disputa de chapas.

Já o artigo 9º do Regimento Interno diz que: “a eleição da Mesa, bem como o preenchimento de qualquer vaga nela ocorrida, será feita por maioria absoluta de votos em primeiro escrutínio e, maioria simples, em segundo escrutínio, com a tomada nominal de votos em aberto, observando-se, para efeito de votação, a ordem alfabética dos nomes dos deputados”.

Desde que Vandinho começou a ter sua lista de apoios esvaziada, por conta da indicação de voto do governo em Marcelo, o grupo do tucano começou a estudar, com juristas, de que forma seria possível mudar a forma de votação e garantir que a escolha do próximo presidente da Casa seja secreta.

Mudança na Constituição

Uma das possibilidades aventadas foi a de mudar a Constituição Estadual, por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC). Mas a ideia foi logo abandonada por conta do tempo e do rito de votação de uma PEC.

Uma proposta de emenda à Constituição precisa ser apresentada por um terço dos deputados (10) e tramitar, no mínimo, por três sessões ordinárias. A aprovação também precisa ser feita em dois turnos e para ser aprovada necessita de votação qualificada: 3/5 dos deputados (18 votos).

Acontece que a Assembleia está de recesso, sem sessões ordinárias, sendo que as próximas sessões são a de posse dos deputados e a preparatória para a eleição da Mesa Diretora. É verdade que o atual presidente, Erick Musso (Republicanos), poderia convocar uma sessão extraordinária – como já ocorreu neste recesso para votar um projeto do governo. Mas, o mérito da matéria também não é passível de convocação de sessão extraordinária.

Resumindo: uma mudança na Constituição, para que tivesse validade visando a eleição da Mesa Diretora, deveria ter sido feita no ano passado. Agora, já não daria mais tempo.

Questão de ordem

Também foi cogitada a apresentação, na sessão de eleição da Mesa Diretora, de uma “Questão de Ordem”, ao deputado que irá comandar os trabalhos, sobre a possibilidade de realizar a votação secreta. Como o atual presidente não se reelegeu, cabe ao deputado eleito mais idoso – no caso Theodorico Ferraço (PP), no auge dos seus 85 anos – presidir a sessão de eleição da nova Mesa Diretora.

Questão de Ordem se refere a dúvidas na interpretação do Regimento Interno que tenha relação com a Constituição Estadual e pode ser apresentada por qualquer deputado, desde que seja amparada nos termos constitucionais ou regimentais.

Via de regra, a Questão de Ordem é suscitada para dirimir casos omissos no Regimento Interno o que, também, não seria o caso, uma vez que a legislação estadual trata da questão da eleição da Mesa Diretora. A resposta do presidente também teria de ter o mínimo de fundamentação, no caso dele resolver mudar a forma de votação.

O presidente pode ir pra cima e “peitar” mudar a forma de votação numa decisão monocrática? Pode. Ainda mais que Theodorico é favorável à proposta e apoia Vandinho Leite. Mas, juristas ouvidos pela coluna disseram que seria uma decisão bastante frágil e facilmente derrubada na instância judicial.

Liminar no STF

Crédito: Dorivan Marinho/STF

A proposta que ganhou mais força, ontem (25), foi a de se pedir uma liminar no Supremo Tribunal Federal (STF) para a realização da votação secreta. Os deputados do grupo de Vandinho se baseiam em dois pontos: a decisão recente da Suprema Corte sobre eleição de conselheiros do Tribunal de Contas e a eleição da Mesa Diretora no Congresso.

No final do ano passado, o STF decidiu, por unanimidade, que são inconstitucionais os dispositivos da Constituição do Estado e do Regimento Interno da Ales que previam votação aberta para a escolha de conselheiros do Tribunal de Contas Estadual (TCE-ES). A decisão foi tomada no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) 5079, que foi ajuizada em 2013, pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Na ação, a PGR argumentava que o modelo adotado no Estado violaria o princípio da separação dos Poderes, o modelo de composição dos tribunais de contas previsto na Constituição Federal e o processo de escolha dos membros do TCE-ES.

Outro ponto que pode ser abordado numa eventual ação no STF seria a equiparação da eleição da Ales à eleição da Mesa Diretora no Congresso. Tanto a Câmara Federal quanto o Senado também vão eleger uma nova Mesa Diretora para o biênio (2023-2024) no próximo dia 1º. Porém, no Congresso, a votação é secreta.

O pedido ao STF sustentaria que a votação fechada seria necessária para se manter a “separação dos Poderes”, sem uma suposta ingerência do Executivo no Legislativo.

Caso consigam a liminar, mesmo sendo uma decisão provisória, o grupo ganharia fôlego para trazer de volta os que se afastaram após o anúncio do governo. Até ontem, o placar de apoiadores estaria em 11 x 18 para Marcelo.

***

Jogo pesado

Ontem também começaram a circular, em grupos de conversas com a participação de políticos, acusações contra Marcelo Santos e críticas ao governo do Estado. “Governabilidade é uma coisa, submissão, outra”, diz um dos cards compartilhado.

Em outro, uma lista de acusações contra o deputado, entre eles a usar a Comissão de Infraestrutura para fazer lobby, tratar mal os funcionários da Ales e não ter credibilidade diante das instituições capixabas. Ainda ironiza o deputado que fez uma postagem recente sobre o reality Big Brother Brasil. Uma terceira montagem ainda chama Marcelo de “hartunguista de carteirinha e Casagrande por interesse”, entre outras coisas.

A assessoria do deputado recebeu as postagens e, procurada pela coluna, disse que o deputado não iria se manifestar. Marcelo também foi procurado para falar a respeito da disputa da Mesa Diretora, mas sua assessoria informou que, por ora, ele não daria entrevista.

Enquanto isso…

Ontem, o deputado Marcelo Santos acompanhou o governador a uma visita a Mimoso do Sul para ver de perto os estragos da chuva e anunciar ações.

Entre as medidas emergenciais anunciadas por Casagrande estão doação de cestas básicas, material de higiene pessoal e colchões, além de obras estruturantes para a região.

Marcelo, claro, postou tudo em suas redes sociais.

 

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Fabiana Tostes

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.