A partir de hoje (31), os dois candidatos do PT que disputam o comando da legenda no Estado começam uma série de debates pelo Estado afora. A eleição para o comando do partido (PED) ocorre no dia 6 de julho e até lá, os concorrentes devem se enfrentar em outros dois sábados, frente a frente, diante da militância.
De um lado está a atual presidente, a deputada federal Jack Rocha, que comanda o partido desde dezembro de 2019. De outro, o deputado estadual João Coser, que já foi presidente da sigla e agora quer retornar, contando com o apoio das principais lideranças do partido no Estado.
Numa entrevista anterior à coluna De Olho no Poder, Coser explicou as razões de querer voltar ao comando do PT: “Sou a favor que se tenha mudança para que o partido volte a ter vida própria. Há um problema no modelo de gestão que está gerando uma paralisia muito grande no partido. Precisamos fortalecer os diretórios, porque eles existem, mas não estão funcionando”.
Coser também criticou a falta de alternância de poder. “O modelo do partido é de ter alternância de poder a cada quatro anos. Ela ficou quatro anos, eu a apoiei, a Nacional prorrogou seu mandato por mais dois anos, então são seis. Fiz a proposta dela agora devolver a presidência, disse que não era correto alguém ficar 10 anos à frente do comando do partido, não tem precedente em nossa história. Mas ela não topou”.
Na ocasião, Jack não respondeu. Mas agora, nessa entrevista à coluna, ela rompe o silêncio e diz o motivo de querer continuar à frente do PT estadual. Diz que tem trabalho para mostrar e que levou 20 anos para chegar a um posto de destaque na legenda.
“Eu tenho mais de duas décadas de filiada ao partido. Será que vou precisar de mais 20 anos para mostrar a competência que a gente tem para cuidar da direção, para que a gente consiga fazer o diálogo político, ser ouvida nas nossas instâncias e também contar as nossas histórias?”, questionou.
Disse que tem o apoio do Lula e da cúpula nacional, além de lideranças locais, para continuar no posto e que está aberta ao diálogo, caso o grupo de Coser queira se aproximar e apoiá-la.
A coluna também questionou a presidente sobre os projetos e as prioridades do PT para as eleições do ano que vem. Jack defende uma candidatura própria ao governo – desde que não seja “em isolamento” – e a manutenção da cadeira do Senado. Mas também disse que pode conversar com o grupo do governador Renato Casagrande (PSB) e deixou em aberto um eventual apoio ao vice-governador, Ricardo Ferraço (MDB).
Sobre o desempenho do partido nas eleições do ano passado, quando nenhum prefeito do PT foi eleito em todo o Estado, fez uma pequena autocrítica, dizendo ser preciso ouvir o recado das urnas e melhorar a comunicação.
Recém-eleita para a Coordenadoria da Secretaria da Mulher da Câmara Federal, Jack também quer trazer à pauta temas como o feminicídio e a falta de igualdade salarial entre homens e mulheres – temas que também podem permear as campanhas petistas do ano que vem.
Leia abaixo a entrevista na íntegra:
DE OLHO NO PODER – O que você pontua como conquistas da sua presidência e por que você quer continuar à frente do partido?
JACK ROCHA – Primeiro que a gente conseguiu colocar o Espírito Santo no cenário de novo. Com protagonismo a partir, principalmente, da nossa militância, honrando nosso legado, nosso projeto do PT nos municípios.
Organizamos o PT em 65 cidades, seja com diretórios municipais ou com comissões provisórias. a pandemia foi um momento muito difícil. Naquele momento nós levamos duas cidades para o segundo turno. Depois de seis, oito anos, nós voltamos a ter vereador, por exemplo, na Capital, fruto de uma construção.
Viemos refazendo os setoriais do PT no ano de 2021. Em 2022 a gente dobra a bancada na Assembleia Legislativa, tem o deputado federal mais votado do Espírito Santo, a gente dobra a bancada do PT na Câmara Federal, filia um senador da República. E principalmente, eu diria, o Espírito Santo foi fundamental na eleição de Lula.
Então, assim, eu não fiz nada sozinha, eu tive muito apoio da base, apoio da construção junto aos diretórios, mas a Gleisi Hoffmann, a Executiva Nacional e o próprio Lula confiam muito no que a gente constrói aqui.
E eu diria que nós demos conta desse recado no primeiro momento e agora chegou o momento de fazer mais e melhor. Porque a gente está diante de um novo desafio, 2026 é um ano em que Lula será candidato à reeleição. E que nós não podemos ir apenas para uma eleição a partir do fisiologismo de eleger os mandatos. Nós precisamos trazer essa força do PT para ampliar a bancada, para fortalecer também a federação, para fortalecer os diretórios nos municípios, porque isso pavimenta também o caminho para 28.
Então eu diria para você que a gente tem um projeto de comunicação, de formação e de organização para o PT não só nas duas eleições de 26 e 28, mas um projeto para o PT pelos próximos 10 anos.
Um legado nosso que eu tenho muita alegria, além de ser uma marca histórica, é de ser a primeira mulher negra na história a ser eleita deputada federal e ser do PT.
A decisão de fazer parte do partido nunca foi só pelo fato de querer um espaço, a presidência, um espaço diretivo. Mas hoje eu me sinto muito honrada porque eu ando de cabeça erguida com a militância entre meus companheiros e companheiras no dia a dia.
Você citou a Gleisi e o Lula. Eles apoiam a sua reeleição? Teve essa busca e eles declararam algum tipo de apoio?
Tem, não só declarado, mas nós, no dia a dia, construímos esses caminhos. Primeira coisa, eu chego na Câmara e o Lula me confia, talvez uma das matérias que foi meta de campanha, trazida ali pela (Simone) Tebet, que foi a igualdade salarial e remuneratória. Então essa confiança é porque ele sabe que a gente tem o perfil de conversar e conseguir.
Naquele momento, imagina, início da legislatura, que começou em fevereiro de 2023. Então, em junho a gente teve essa lei aprovada num cenário de polarização imenso no Brasil, ainda com as bancadas se reorganizando.
Então, eu sou aquela pessoa que quando eu tenho uma tarefa, eu quero levar até o final, e eu quero levar da melhor forma possível, conversando e dialogando com todo mundo. E isso só fez consolidar o nosso processo de confiança.
Tem um dado interessante que, presidentes mulheres do PT nos estados só tem eu no Espírito Santo e a Kátia, de Goiás. Então, a gente sabe o processo que passa no dia a dia.
Então, eu tenho certeza que tenho não só o apoio incondicional mas a confiança. E eles sabem que podem ter em mim, ali, a toda hora, uma lealdade muito grande ao nosso projeto de Brasil e de Espírito Santo também.
Você citou alguns pontos como legado, mas no ano passado, a federação chegou a lançar 24 candidatos a prefeito e o PT não conseguiu eleger nenhum prefeito. A que você credita esse desempenho nas urnas, porque acabou repetindo o resultado de 2020.
Na eleição para prefeito, eu digo que nós precisamos ouvir melhor as pessoas, porque cada eleição é uma eleição. Em 2023 nós fizemos uma articulação e tivemos aqui no Estado mais de 16 ministros da República anunciando recursos, trazendo investimento e esse elo do governo federal.
Então, uma das coisas que eu vejo que a gente tem que melhorar enquanto partido, é a nossa comunicação com a militância e a comunicação das nossas ‘ideias-forças’ para governar.
Porque nós governamos o Brasil, nós já governamos o Espírito Santo, já governamos diversas cidades aqui, somos inovadores no Orçamento Participativo, tivemos marcas tão positivas… Então, eu falo que não é falta do conteúdo, não é uma falta de desenvolver o nosso programa, mas pode ser como a gente está escutando as pessoas, o que essa urna expressa, qual é o desejo da urna?
E aí é que recai sobre mim uma responsabilidade muito grande, que não é só o recado das urnas em si. O PT continua um partido forte, vivo, presente na base, presente nos movimentos, entretanto, nós temos que fazer um pacto com alguns setores e eu estou disposta, como presidente do PT, a fazer um pacto, por exemplo, pela vida das mulheres capixabas. Quem cuida de uma mulher cuida de toda a sociedade.
A gente não aguenta mais ver tantas matérias sobre as violências que acontecem debaixo do teto das pessoas, que contrasta um pouco com o nosso projeto Nota A. Então, eu sei que a gente sabe falar bem de economia, sabemos desenvolver um caminho econômico, equilibrado, mas também chegou o momento da gente falar do mundo real, da vida das pessoas.
Como está a qualidade de vida, como está a creche, a educação, as oportunidades de emprego pra juventude.
Você acha que, com tempo, o PT perdeu esse diálogo com a população?
Não, não. Eu diria que não o PT, muito pelo contrário. Tanto que a gente voltou a governar o Brasil. O PT não perdeu esse diálogo. Nós conseguimos, a nível nacional, não só comunicar as “ideias-forças”, mesmo Lula estando preso, com todo o processo de criminalização, com toda perseguição que as lideranças do PT sofreram, nós conseguimos.
Então o que eu vejo é que o PT precisa também renovar seus líderes. A gente precisa ter o PT do futuro e que preserve também as nossas tradições. E eu sei que esse PT existe.
Então, assim, a eleição expressa um momento. Mas como é que eu trago todo esse PT de luta, todo esse PT de construção, todo esse PT que elabora? É o PT que está na universidade, é o PT que está lá no assentamento. É o PT da trabalhadora doméstica e do professor. Como é que a gente traz essa diversidade para uma “ideia-força” para voltar a governar as cidades?
Então, eu vejo que essa eleição interna do PT vai ter uma missão muito grande. A gente tem o desafio de olhar para o partido como um todo. E dentro desse olhar, nós não podemos isolar as outras forças do processo político. Nós não somos uma legenda de aluguel. Nós somos um partido vivo.
Nós temos condições de contribuir para um projeto de Espírito Santo e temos condições também de contribuir ainda mais para essa representação nas cidades. Eu diria que não é só o PT que não elegeu, é muito ruim a gente ver as câmaras de vereadores, por exemplo, independente do partido político, não ter representação de mulheres.
Então, o resultado eleitoral passa a ser parte de uma análise, ele é a foto do momento, mas ele não é a foto da história dos 45 anos do PT, nem a foto do futuro que a gente está construindo.
Voltando à questão da reeleição, você vai disputar contra o deputado estadual João Coser, que era até então seu aliado. O que levou a esse rompimento pra vocês hoje estarem em lados opostos?
O João teve uma aliança com o campo da CNB, com o Nunes, em 2018, quando ele foi candidato a deputado federal. Naquele momento eu fui candidata à governadora. Nem ele e nem o Nunes foram eleitos. Com isso, tinha uma avenida, e eu coloquei meu nome no processo, não só por consolidação de liderança, mas não poderia ver o PT recuar, por isso que eu fui candidata a presidente do PT em 2019.
Então, dezembro de 2019, tomo posse e estava como pré-candidata à prefeita de Vitória para a eleição de 2020. Saíram até algumas pesquisas, eu pontuava razoavelmente bem para uma candidatura que precisava ser conhecida em 2019, mas abrimos mão para o próprio João.
Em 2022, eu estava como pré-candidata estadual e aí numa construção dele com o movimento sindical, o movimento que eu faço parte, também abrimos mão para que ele pudesse ser estadual, tanto ele quanto Julinho da Fetaes, para fortalecer a chapa. E, sem qualquer tipo de vaidade, eu aceito ser candidata à deputada federal.
Mas como eu te disse anteriormente, todas as vezes que eu entro num espaço, eu quero fazer o melhor. Então, eu viro deputada federal num contexto de, comandando uma federação de partido, tendo que construir uma aliança com o PSB a nível nacional.
Então, eu estou atendendo a um pedido do próprio PT, um pedido da própria direção, pedido da nossa construção política nacional. E nós, temos a consciência tranquila de que, todas as questões colocadas para que Coser pudesse voltar ao cenário político, só puderam ser pavimentadas com o fortalecimento do partido conduzido por mim e por outros companheiros e companheiras.
Mas, por que vocês romperam?
Na verdade, não é uma questão de rompimento, hoje é uma questão de visão pra dentro do PT. Nesses últimos anos, o que a gente mais fez foi não alimentar nenhum tipo de disputa interna, ao contrário. Nós trouxemos todo mundo pra ser protagonista e construir com todo mundo.
Então, você pode ver que o crescimento do partido até 2018 foi um. E quando a gente entrou com determinação, Lula ainda estava preso, a gente fazendo uma eleição na pandemia e levamos duas cidades para o segundo turno.
Então, sobre a disputa hoje, primeiro que o processo da disputa interna é natural dentro do PT. A nível nacional nós vamos ter quatro candidaturas. Aqui no Espírito Santo são três chapas, dois candidatos a presidente.
Mas, a gente parte de que não se pode ter recuo em algumas agendas que a gente implementou dentro do PT. Nós criamos mais de 21 setoriais, nós fortalecemos o núcleo de mulheres, nós viemos discutindo as questões de gênero, de raça dentro do PT, porque a gente também precisa aprofundar.
E a gente alcançou um resultado, de ter o deputado federal mais votado, de duplicar o mandato na Assembleia. Agora, o PT não pode recuar dessa posição. Se eu estivesse recuando ao pedido do Diretório Nacional e da CNB, de ser candidata à reeleição, eu estaria interrompendo um processo que a gente está construindo aqui, que é de tornar as pessoas que são militantes de base, assim como eu, protagonistas.
Eu tenho mais de duas décadas de filiada ao partido. Será que vou precisar de mais 20 anos para mostrar a competência que a gente tem para cuidar da direção, para que a gente consiga fazer o diálogo político, ser ouvida nas nossas instâncias e também contar as nossas histórias?
O Coser alega que nunca ninguém ficou tanto tempo no comando, que você iria para 10 anos na presidência do partido, que é necessário ter alternância de poder. E ele também conseguiu angariar o apoio das demais lideranças e correntes internas do PT na disputa. O que você pensa sobre estar todo esse tempo à frente do partido? E não é difícil manter uma candidatura só com a sua corrente, sendo que as outras estão no campo oposto?
O apoio à nossa candidatura é um apoio amplo. Aí é que está talvez a nossa diferença. A gente tem um campo que se apega à corrente política e a dar nome a todas elas. E eu não poderia te nominar quais são as inúmeras vertentes que apoiam a nossa candidatura hoje, porque eu estou falando de pessoas que estão nas suas bases, nas suas profissões e que muitas vezes nem se identificam com corrente política.
A minha corrente majoritária é a corrente Construindo um Novo Brasil, que é a corrente do Lula, da Gleisi, do Haddad, do Padilha… Mas, nós abrimos essa discussão para que todo mundo pudesse fazer parte de um projeto de representação.
Então, eu poderia dizer pra você que o Genivaldo Lievori, que é ex-deputado e ex-presidente estadual do PT, está na minha chapa e me apoia. Eu poderia dizer que o José Pedro, liderança de São Mateus, me apoia. Eu poderia dizer que Janete Valani, de Castelo, liderança jovem, que foi candidata à prefeita, me apoia. Assim como eu poderia dizer da presidente da CUT, de liderança de assentamento, de vereadores.
Isso é muito mais importante do que se eu falasse apenas que eu tenho apoio de uma, duas, três ou dez correntes políticas. Nós não somos um partido – e eu não quero construir essa relação com a nossa base – de um partido de cúpula.
E sobre essa questão do tempo na presidência?
Não procede, porque a eleição do PED foi final de 2019, eu tomei posse em dezembro de 2019. Quem presidia o partido naquele momento era o próprio João, que já foi presidente várias vezes. E eu nunca questionei, sabe por quê? Porque isso é uma coisa natural.
Sabendo do desafio da gestão que eu teria em 2020 – porque a eleição foi muito apertada, ganhei por dois votos – eu procurei o campo adversário para poder compor, tanto que a Iriny virou a tesoureira do partido. Nós fizemos uma gestão compartilhada.
Então dizer que é muito tempo na direção, depende de quem olha. Porque, para nós, é a primeira vez que uma mulher negra ocupa a presidência do partido. Então, imagina, é muito tempo pra quem sempre esteve aqui construindo as histórias, né?
Como eu disse, somos apenas duas mulheres a presidir um diretório estadual no Brasil. Teria PED em 2023, mas o PT nacional resolveu prorrogar para ser feito em 2025.
Para encerrar esse ponto da reeleição, existe alguma possibilidade de vocês chegarem a um acordo, um consenso ou não? Vai manter a sua candidatura até o fim?
Se eles adotarem uma postura de conversar, tem conversa. Nos bastidores, eu converso e dialogo com todos eles. Respeito muito a trajetória. O que a gente não pode recuar é de uma decisão que possa levar o PT a ter um protagonismo ali na frente.
A gente está construindo esse projeto de partido a muitas mãos. Eu sou uma pessoa do diálogo, sou uma pessoa da construção partidária. Gostaria muito que eles se juntassem ao nosso projeto, e que a gente pudesse continuar liderando. E até os procuramos para poder conversar. Aqui a gente tem uma coordenação política que ouviu, não só ele (Coser), ouviu todas as lideranças que estão ali no entorno dele.
Pudemos apresentar o nosso projeto, pudemos apresentar a nossa proposta do partido, que é fortalecer a comunicação, fortalecer a direção, fortalecer os nossos processos formativos. Então nós pudemos abrir ali e discutir. É uma decisão que cabe mais a eles, eu sempre estarei aberta para qualquer diálogo.
Vamos falar das eleições do ano que vem. Quais são os projetos e as prioridades do PT para 2026? O PT vai ter candidato a governador? Quem? Prioridade é a reeleição do Contarato?Você é candidata à reeleição?
A prioridade do PT é a reeleição de Lula. Segundo, ter o PT como protagonista. O PT como protagonista significa que eu, por exemplo, defendo a candidatura própria ao governo, mas que a gente precisa construir isso com a militância e com outras forças políticas, afinal de contas, nós fizemos uma aliança com o governador Casagrande, fomos para o segundo turno, ganhamos a eleição, o PT hoje faz parte do governo. Tem muitas coisas a serem pensadas, mas principalmente qual é o projeto que a gente quer para o Espírito Santo dos próximos 10, 20, 30 anos.
Só que eu não defendo uma candidatura própria ao governo que seja no isolamento. Eu defendo uma candidatura própria que venha beneficiar uma articulação política, inclusive com o palanque do Lula.
Aqui no Espírito Santo, eu entendo que a prioridade é eleição de Lula, a prioridade é reeleger o senador Fabiano Contarato ou manter a vaga do Senado, manter e ampliar a nossa vaga de deputada federal, ampliando também na Assembleia Legislativa, e discutindo a nossa candidatura própria ao governo.
Então, é claro, que eu também sou daquelas que, como Lula, governa numa frente ampla. A gente tem que procurar os partidos e o governador para conversar.
Mas é um pedido da cúpula nacional do PT para que tenha um palanque aqui para o Lula ou não? Ou esse palanque pode ser o do Senado, por exemplo?
Na segunda-feira nós tivemos uma reunião com a Gleisi. Será montado um grupo de trabalho eleitoral que estará constantemente conversando com a direção nacional. Pode ser que tenha um acréscimo de um partido na federação. Pode ser que tenha uma mudança no sentido de qual vai ser a estratégia dos palanques, sendo que Lula é a prioridade nacional.
Então a eleição (interna do PT) acontece dia 6 de julho. No dia 7 de julho estaremos todos juntos, independente do resultado, para poder construir essa melhor estratégia para os resultados, que não é o resultado do PT, é um resultado de representatividade.
Então, o PT está pronto, está maduro. O PT tem que ter humildade para enfrentar esse debate, inclusive de conversar com as outras forças políticas, porque é assim que a gente vai recuperar também o nosso olhar junto ao povo. Eu acho que a gente precisa ter bastante humildade para ouvir o que o povo está dizendo quando vem das urnas.
Precisa ouvir aquela pessoa que encontra com a gente na rua e fala: ‘Jack, o alimento está caro, o que a gente vai fazer?’ É nesse sentido, a gente tem que escutar essas pessoas.
Então quando eu falo que eu defendo uma candidatura do PT, eu defendo uma candidatura humanizada, com propósito, com condições de discutir com qualquer força política que seja uma aliança ampla para governar o Espírito Santo.
O nome mais cotado seria o do Helder, hoje?
O Helder já deu algumas declarações falando que ele só será candidato se o Lula quiser, ou no caso, se o Lula estiver ali. Então, vamos abrir o debate com a militância para saber se nós vamos para uma candidatura independente do apoio de Lula ou se a gente vai para uma candidatura somente com o Lula no sentido do palanque aqui no Espírito Santo.
A aliança com Casagrande aqui foi fundamental para a eleição de Lula, assim como a vinda do PT para a Casagrande foi fundamental para a reeleição do governador.
Caso vocês não tenham candidato ao governo, o PT apoiaria Ricardo Ferraço ao Palácio Anchieta?
Bom, eu não diria nem que sim nem que não. Um apoio desse depende de muitas questões de conjunturas. Nós temos um ciclo para debater no nosso Estado. O Ricardo compõe essa frente. Uma coisa é a gente ter respeito a todas as lideranças que estão no cenário político. Mas, eu acho que chegou o momento também da gente debater um cenário de como irá ficar o Espírito Santo pelos próximos anos.
Então, nesse sentido, o PT, é protagonista. O PT é o partido do Presidente da República. A gente tem condições de ter um projeto aqui.
Sobre o Senado, há a possibilidade do PT pleitear uma dobradinha com o governo? Porque são duas vagas, uma será disputada por Casagrande e a segunda vaga no grupo do governador está aberta. Vocês vão pleitear que o grupo do governador apoie Contarato?
Primeiro de tudo, a vaga do Senado pra gente é importante. O presidente Lula tem dado essa missão pra gente organizar as candidaturas de Senado nos estados. Então, é mais do que natural que a candidatura do senador Fabiano Contarato seja prioridade.
Sim, mas vocês vão conversar com o governo para que o grupo, que tem ali uma frente ampla, o apoie?
Vamos conversar com o grupo do governo e vamos conversar com todos os partidos que estiverem na base do governo Lula.
Você foi eleita coordenadora da Secretaria de Mulheres da Câmara Federal numa semana em que mais uma mulher, no caso a ministra Marina Silva, foi alvo de ataques no Congresso. Como mudar essa situação?
Primeiro que eu acho que esse espaço é estratégico, porque praticamente quem passou pela secretaria ou virou senadora ou virou vice-governadora ou foi para um posto muito maior. É um cargo que tem assento na mesa de liderança. Então, a partir de agora, todas as reuniões do Colégio de Líderes com o Hugo Motta a gente despacha os projetos e vai discutir ali, enquanto bancada feminina, as ações. E não somente as que falam de enfrentamento à violência, mas a conjuntura do Brasil, levando em consideração que nós somos mais de 50% da população.
A violência política de gênero tem se acirrado brutalmente contra as mulheres, e eu diria pra você, principalmente contra as mulheres de esquerda. A partir do assassinato de Marielle Franco, em 2017, o que a gente viu foi um escalonamento de uma violência que antes a gente não dava nome.
A gente não pode retroceder. Semana que vem eu vou coordenar na Casa uma reunião com as mulheres dos parlamentos dos países que compõem o Brincs. Porque, ao mesmo tempo que o Brasil tem legislações de proteção às mulheres, nós temos ainda lá na Câmara Federal apenas 18% de representação feminina. Enquanto diversos países que mesmo não tendo esse tipo de mecanismo, garantem a paridade ou no mínimo 30%.
Então, esse espaço hoje traz uma responsabilidade muito grande. Eu diria que para o Espírito Santo é um fato inédito, histórico, estar na Mesa Diretora, discutindo isso e a construção desse espaço.
Eu tive a oportunidade de ter uma reunião com o presidente Lula pra discutir sobre o tema das mulheres e os nossos desafios. Falei com ele que a gente precisa encampar ainda com mais força a igualdade salarial. O Espírito Santo é o estado com a maior desigualdade salarial do Brasil, é um estado desigual.
Então, eu assumo uma pasta com um legado enorme da Benedita da Silva. Fui eleita por unanimidade, tive voto do PL e do Psol, porque a gente conseguiu se viabilizar dentro da Casa. São dois anos de mandato e é uma marca positiva para o nosso Estado.
Ao mesmo tempo temos esse desafio de não ficarmos só nas estatísticas e nas notas de repúdio e passarmos para uma ação mais efetiva. Apesar de saber que o parlamento tem uma limitação.
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