Política

Livro sobre Mujica cita angústia de Lula no mensalão

O livro Una Oveja Negra al Poder (Uma Ovelha Negra no Poder, em tradução livre), lançado no domingo em Buenos Aires, relata um diálogo entre os ex-presidentes José Pepe Mujica e Lula

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O livro relata um diálogo entre os ex-presidentes José Pepe Mujica e Lula Foto: R7

Bueno Aires – O livro Una Oveja Negra al Poder (Uma Ovelha Negra no Poder, em tradução livre), lançado no domingo em Buenos Aires, relata um diálogo entre os ex-presidentes José Pepe Mujica e Luiz Inácio Lula da Silva, no qual o uruguaio diz que o brasileiro viveu “com angústia e um pouco de culpa” o episódio do mensalão.

Apresentada no Uruguai ontem, a obra sofreu contestação imediata de Mujica, a “ovelha” à qual o título se refere. Ao Estado, por telefone, ele disse “nunca ter falado de mensalão com Lula”. Os jornalistas Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz escreveram o livro com base em mais de 100 horas de entrevistas com Mujica.

Segundo os autores, o uruguaio vê a corrupção como algo incorporado ao Brasil, não importa o partido no poder. Depois de citar o mensalão como “a compra de votos de alguns deputados para aprovar projetos importantes do Executivo”, o livro relata uma frase de Mujica sobre Lula: “Não é um corrupto como Collor de Mello e outros ex-presidentes brasileiros”.

No mesmo parágrafo, na página 211, a obra menciona três sentenças de Lula a Mujica em um encontro no Brasil, semanas antes de o uruguaio assumir a presidência, em 2010: “Neste mundo tive de lidar com muitas coisas imorais, chantagens”, “Essa era a única forma de governar o Brasil” e “O mensalão também é este país, tudo é de modo grande”. O ex-vice-presidente do Uruguai Danilo Astori participou da conversa, segundo os autores.

O livro não deixa clara a conexão entre as frases nem se foram ditas em sequência – ou seja, se ao falar de “única forma de governar”, Lula se referia ao escândalo que marcou o governo ou às “muitas coisas imorais, chantagens”.

Os autores reafirmaram ontem a precisão do texto, mas ressaltaram que trechos podem dar margem a várias interpretações. “Cada leitor pode interpretar o que quiser”, disse Tulbovitz, para quem Lula poderia estar falando de modo genérico, e não do mensalão em si.

Ontem, o Instituto Lula citou declaração de Danza ao site G1para contestar reportagem do jornal O Globo que relatou “confissão” do brasileiro sobre o mensalão. “O autor foi perguntado sobre a matéria e respondeu que Lula e Mujica não estavam conversando sobre o mensalão quando Lula se referiu a conviver com chantagens como ‘a única forma de governar o Brasil’”, diz a nota do instituto.

O livro ainda atribui outras duas frases a Mujica: “O mensalão é mais velho que o buraco da cuia de chimarrão” e “Às vezes, esse é o preço infame das grandes obras”. Na última, segundo o livro, Mujica refere-se a Abraham Lincoln como um político que dava algo aos deputados em troca de apoio – na época, havia sido lançado o filme Lincoln, sobre a votação que aboliu a escravidão nos Estados Unidos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.