
Num duro discurso durante a sessão desta quarta-feira (02), o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos (União), criticou parte do secretariado do governo do Estado que, segundo ele, estaria “coagindo” lideranças políticas em busca de apoio para a eleição do ano que vem.
Ele não citou nomes, mas se referiu a secretários que são cotados ou que já se colocaram para a disputa de deputado estadual e deputado federal e que estariam condicionando o atendimento das pastas ao apoio eleitoral.
“Quero registrar, como presidente da Assembleia, que nós teremos eleições no ano que vem. O que tem ocorrido com alguns secretários estaduais, que estão colocando o nome para a disputa eleitoral, é que eles estão confundindo a secretaria de Estado com palanque eleitoral e isso não é bom para o governador Renato Casagrande. Isso não é bom para a população do Espírito Santo”.
Ele disse que tem chegado relatos à presidência sobre a atuação de parte do 1º escalão do governo. Hoje, há pelo menos 10 secretários que devem disputar as urnas no ano que vem.
Tem secretário que, ao dialogar com um prefeito, com um presidente de câmara ou com um cidadão comum, pergunta primeiro de quem será o voto para deputado estadual e federal. Se, por acaso, esse cidadão disser o sentimento dele, de que opta pelo deputado Vandinho por exemplo, o cidadão jamais será atendido, porque ele (secretário) vai ficar com cara feia e vai usar a política eleitoral para não atender o cidadão”, disse o presidente.
Marcelo é aliado do governo do Estado. Tem sido um dos principais articuladores da pré-campanha do vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) ao Palácio Anchieta e do governador Renato Casagrande (PSB) ao Senado. Durante sua fala, ele fez questão de não deixar respingar as críticas ao governo como um todo. Mas, mandou o recado:
“Tenho plena convicção que o governador Renato Casagrande não concorda, mas é um alerta que eu faço ao secretário de Estado que tem pretensão de disputar uma eleição: primeiro cumpra o seu papel que foi designado pelo governador. Não confunda eleição com gestão”.
O discurso do presidente ocorreu logo após a Ales aprovar um projeto do governo que contou, nos bastidores, com a articulação de Marcelo Santos para sua aprovação – articulação que foi reconhecida pelo líder do governo, deputado Vandinho Leite (PSDB).
Marcelo chegou a falar em “coação” por parte de alguns secretários pré-candidatos e, em tom de ameaça, disse que a Assembleia não irá permitir que crimes eleitorais aconteçam:
Estou falando isso porque essa Casa tem o papel constitucional de fiscalizar. Por enquanto, nós estamos fazendo ouvido de mercador, estamos com os olhos fechados, mas vamos começar a abrir os olhos e ficar mais antenados para que não ocorra nenhum crime eleitoral, porque o que está acontecendo com algumas pastas é vergonhoso. Faço um alerta ao secretariado de Estado: Não confundam suas pastas com comitê eleitoral! Porque a Assembleia não vai permitir que isso aconteça e muito menos essa coação, feita com o cidadão que procura a prestação de serviço do Estado e só é entregue se ele declara apoio ao secretário que coloca o nome para a disputa.
Ruídos da antecipação eleitoral
Já era de se esperar que tamanha antecipação eleitoral, pela qual passa o processo que só deveria iniciar no ano que vem, fosse gerar ruídos, principalmente na Casa política.
A coluna ouviu alguns deputados estaduais na manhã desta quarta-feira e muitos estão incomodados com o fato de alguns secretários terem colocado o nome em jogo.
A reclamação vem, sobretudo, de parlamentares da base aliada que se sentem em desvantagem na corrida eleitoral com relação aos secretários, que têm a caneta na mão, executam políticas públicas e fazem entregas.
Alguns reclamaram com o próprio presidente da Assembleia, já que por serem aliados, se sentiram intimidados em criticar publicamente a situação. Coube a Marcelo Santos então, na cadeira de presidente, mandar o recado, que também é dele.
Marcelo é pré-candidato a deputado federal no ano que vem. Tem rodado o Estado em apoio ao projeto do governo, mas também para viabilizar o próprio nome à disputa.
Procurado pela coluna, Marcelo Santos não retornou para dar detalhes sobre os destinatários do discurso dessa manhã.
O chefe da Casa Civil do governo do Estado, secretário Júnior Abreu, também foi procurado para se manifestar sobre o assunto. Até o momento, porém, não retornou aos contatos da coluna.
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