Política

Na Câmara Federal, deputado sobe o tom contra secretário da Agricultura

Gilson Daniel criticou Enio Bergoli e sua atuação na Seag. Disputa eleitoral pode ser o pano de fundo do imbróglio

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Gilson Daniel e Enio Bergoli
Gilson Daniel e Enio Bergoli

O deputado federal Gilson Daniel (Podemos) subiu o tom contra o secretário de Agricultura do Estado, Enio Bergoli. Num discurso da tribuna da Câmara Federal na tarde de quarta-feira (17), Gilson reclamou do desempenho da pasta e do secretário que, segundo ele, estaria criticando parlamentares. Ele ainda mandou um recado ao governo do Estado, de quem é aliado.

“Só chamo a atenção e quero dizer ao governo do Estado: sou apoiador do governo, ajudo o governo, mas precisa rever as atitudes desse secretário”, disse o deputado.

As queixas de Gilson miraram uma obra do programa governamental Caminhos do Campo. Segundo ele, a obra do segundo trecho da pavimentação da estrada que liga a BR-262 à comunidade São José e Santa Clara do Caparaó estaria de péssima qualidade.

“É uma obra de grande importância para o Caparaó. O primeiro trecho foi uma grande obra. O segundo trecho, feito por outra empresa, está de péssima qualidade. A Secretaria de Agricultura precisa fazer uma intervenção urgente, é uma obra malfeita, que não caracteriza uma obra que o governo do Estado faz”, disparou.

Depois, Gilson apontou especificamente para o secretário. Disse que ele tem “perdido muito tempo” criticando deputados, em vez de fiscalizar as obras tocadas pela pasta.

“Senhor Enio Bergoli tem perdido muito tempo fazendo críticas aos parlamentares, dizendo que os parlamentares não têm emenda na Secretaria de Agricultura. E esse parlamentar (Gilson) tem R$ 18 milhões de emendas na secretaria (…) O senhor, passe a fazer o seu trabalho, que é fiscalizar as obras como essa da Estrada-Parque. Eu quero olhar esse processo e verificar se o senhor está atestando essa obra, porque é impossível atestar uma obra de qualidade tão ruim”, disse Gilson.

Por fim, o deputado ainda critica um vídeo postado nas redes sociais pelo secretário, em que ele afirma que estaria simplificando o transporte de pássaros no Estado.

“Ele criou as dificuldades para os criadores de pássaros fazerem seus torneios, colocando GTA (Guia de Trânsito Animal) na Secretaria de Agricultura, através do Idaf e Iema. Ele criou as dificuldades e agora está querendo dar a solução. Então, senhores criadores, tenham atenção a esse secretário que já criou diversas dificuldades não só para os torneios como para toda criação”.

Eleição como pano de fundo?

Enio Bergoli é engenheiro agrônomo e servidor de carreira do Incaper. Já atuou em diversas frentes no governo do Estado, como presidente do Incaper, secretário de Gerenciamento de Projetos, secretário da Agricultura, diretor-geral do DER-ES e, em 2023 voltou ao comando da Seag.

Aliado do vice-governador Ricardo Ferraço (MDB), Enio é cotado para disputar a Câmara dos Deputados no ano que vem. Ele nunca enfrentou as urnas e nem é filiado, mas a movimentação em torno dele estaria preocupando alguns deputados.

Isso porque Enio está à frente de uma pasta com muitas entregas, em regiões que são redutos de alguns parlamentares.

No cálculo de quem entra na corrida eleitoral, um secretário disputando os votos no mesmo reduto de um parlamentar, acaba tendo maior vantagem, uma vez que representa a máquina pública do governo do Estado, tem a caneta da mão e posa para foto nas entregas e ordens de serviço.

Ao deputado cabe brigar por emendas parlamentares para a região e torná-las conhecidas – como Gilson fez durante o discurso – para tentar também colher os louros (votos) das entregas e serviços prestados em determinado reduto.

Gilson Daniel é pré-candidato à reeleição na Câmara Federal.

Reclamações na Ales

Não é a primeira vez que parlamentares reclamam da atuação de secretários que são pré-candidatos às eleições do ano que vem.

Em julho, o presidente da Assembleia, Marcelo Santos (União), por mais de uma vez, fez duros discursos endereçados à parte do secretariado de Casagrande. Ele foi endossado por muitos deputados, inclusive da base aliada.

Marcelo chegou a dizer que muitos estariam “coagindo” lideranças políticas em busca de apoio para as eleições de 2026.

“O que está acontecendo com algumas pastas é vergonhoso. Faço um alerta ao secretariado de Estado: Não confundam suas pastas com comitê eleitoral! Porque a Assembleia não vai permitir que isso aconteça e muito menos essa coação, feita com o cidadão que procura a prestação de serviço do Estado e só é entregue se ele declara apoio ao secretário que coloca o nome para a disputa”.

Marcelo também é pré-candidato a deputado federal no ano que vem.

O outro lado

O secretário Enio Bergoli e sua assessoria de imprensa foram procurados para tratar do assunto, mas não responderam aos contatos da coluna até a publicação. Se houver manifestação, a coluna será atualizada.

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Fabiana Tostes

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.