Cotado já há algum tempo para ser o nome do PT na corrida pelo governo do Estado em 2026, o deputado federal Helder Salomão foi praticamente lançado como pré-candidato para a disputa, durante o Encontro Estadual do partido, que ocorreu no último sábado (13). O evento deu posse ao novo diretório do PT no Estado, liderado pelo deputado estadual João Coser.
Conforme a coluna analisou aqui na semana passada, boa parte da militância petista defende que o partido tenha candidatura própria para dar um palanque ao presidente Lula no Estado – ele deve disputar a reeleição – e fortalecer as candidaturas dos petistas capixabas.
No evento, o PT reafirmou quais serão suas prioridades para 2026: reeleger o presidente Lula, reeleger o senador Fabiano Contarato, manter as duas cadeiras na Câmara Federal e ampliar a presença na Assembleia Legislativa – hoje o partido tem dois deputados e a ideia é eleger de três a quatro.
Nacionalmente, eleger governadores não é a prioridade número 1 do PT. O foco está em Lula e no Congresso. O partido quer se manter forte na Câmara Federal e ampliar as cadeiras no Senado para manter a estabilidade do governo e fazer frente às ameaças de impeachment de ministros do STF.
Além do mais, o PT precisa de uma frente ampla para ser base de Lula na construção da reeleição. Por isso, a decisão sobre quais estados terão petistas disputando passa, necessariamente, pelo crivo da cúpula nacional do PT.
Até lá, o diretório capixaba mantém a proposta de ter candidatura própria, que tem o aval de Helder, mas com ressalvas.
Em entrevista à coluna De Olho no Poder, Helder afirmou que, se dependesse dele, não seria candidato a governador, iria para a reeleição. Deputado federal mais votado da bancada em 2022, a avaliação é que o petista não teria dificuldades para se reeleger.
Sobre disputar o governo, Helder disse que só topa a empreitada se forem atendidas algumas condições, tais como obter o apoio de Lula e do diretório nacional para a montagem de uma estrutura robusta que torne sua candidatura competitiva, ou, nas palavras de Helder, uma “candidatura pra valer”.
Ainda nesse mês ele deve dialogar com as instâncias nacionais do partido para tomar uma decisão. Embora daqui até o ano que vem muita coisa possa mudar, ele pretende obter uma garantia ou uma sinalização ao menos que o ajude a decidir seu futuro político.
Leia abaixo a entrevista completa:
DE OLHO NO PODER – O PT deliberou por ter uma candidatura própria ao Palácio Anchieta e colocou seu nome em debate. O senhor está disposto a disputar o governo?
HELDER SALOMÃO – Eu fiz uma fala muito franca no encontro do partido. Nós estamos vivendo um momento de fortalecimento do partido, iniciando um novo ciclo importante, de maior participação e mobilização. Nossa tarefa prioritária é a reeleição do presidente Lula, a eleição de senadores em todo o Brasil, então a reeleição do senador Fabiano Contarato é uma prioridade do partido, também é prioridade mantermos duas vagas na bancada federal e ampliar nossa participação na Assembleia Legislativa. Temos dois deputados hoje, João e Iriny, e vamos trabalhar para chegar a três ou quatro parlamentares no próximo ano.
Com relação à discussão do governo do Estado, nós ainda não temos uma definição, mas tiramos um encaminhamento, com meu aval, de que eu poderei sim ser candidato ao governo do Estado. Não por projeto pessoal, até porque, se fosse para eu escolher, não seria candidato. Mas sou uma pessoa de projeto coletivo e disse que estou pronto para qualquer tarefa, mas que só serei candidato a governador se for uma candidatura pra valer.
O que isso significa? Significa que nós teremos que vencer algumas etapas. Primeira delas é fazer uma conversa franca com o presidente Lula, com o presidente nacional do partido e outras lideranças – e faremos isso nos próximos dias – sobre a viabilidade de um projeto majoritário para o governo do Estado. Se não tiver uma sinalização real de apoio do presidente Lula e do partido, eu não serei candidato ao governo.
Além disso, vamos iniciar uma etapa de conversas com outros partidos e com a sociedade capixaba. Vamos fazer cinco grandes encontros para discutir o que nós queremos apresentar para o Estado, porque está muito ruim o debate no Espírito Santo. Além de estar precipitado, os pré-candidatos não falam em projeto, falam só em nomes.
Depois de 24 anos do Espírito Santo ser governado por dois governadores – Paulo Hartung e Renato Casagrande –, nós queremos discutir o Espírito Santo daqui pra frente. Quais são os ativos, as conquistas que devem continuar e o que de novo devemos fazer? Porque eu não acredito que só fazer o que os dois fizeram nos últimos 24 anos seja suficiente. Nós tivemos muitas conquistas, que não podem ser deixadas de lado, mas outros aspectos precisam ser considerados.
E como eu fui o deputado federal mais votado na eleição de 2022, nós não estamos falando de uma candidatura qualquer, caso se viabilize. Estamos falando de uma candidatura pra valer. Eu só serei candidato se o presidente Lula declarar apoio.
E o que o Lula tem falado sobre isso? Porque nos bastidores há a informação de que não é prioridade para o partido disputar governos estaduais…
É verdade, mas isso não é só para o PT. Isso não significa que nós não vamos disputar pra valer os governos estaduais. E aí, em cada região e estado, isso será avaliado. Então, nós não vamos subordinar um projeto nacional a um projeto estadual, mas o presidente Lula precisa de um palanque forte no Espírito Santo.
E esse palanque não pode ser o do Contarato?
Isso será discutido. Se a conclusão for essa, podemos não ter candidatura ao governo. Agora o presidente Lula que teve 41% dos votos no primeiro turno em 2022, tem chance de ter mais do que 41% nas eleições do ano que vem. Ele está recuperando o prestígio, a popularidade, inclusive no Espírito Santo.
Eu avalio que o Lula tem potencial de chegar aqui em torno de 50% dos votos. Significa que uma candidatura alinhada com o presidente Lula disputa uma fatia considerável do eleitorado. E como nós temos aliança com o PSB, MDB e PDT, é claro que vamos conversar com eles e outros partidos aliados.
Então, assim, eu posso ser candidato? Posso. Serei a qualquer custo? Não. Só serei candidato com apoio do presidente Lula e com apoio da direção nacional. Todo mundo avalia, e isso é consenso, que não vale a pena uma candidatura sem apoio consolidado. E, num contexto como esse, pode, inclusive, comprometer a nossa chapa de federal, por exemplo.
E como ficaria a chapa federal? Porque você foi um puxador de votos em 2022…
O João Coser entra na disputa, a Jack Rocha continua, a deputada Iriny pode ser – ela já foi deputada federal –, teremos outras candidaturas e nomes que ainda podem ser filiados até abril do ano que vem. Tudo isso ainda precisa ser conversado. O que eu disse? Estou pronto, não tenho nenhum desejo pessoal, mas eu sou de assumir tarefas, sejam elas fáceis ou difíceis.
Sei que é uma tarefa difícil, mas eu ouso dizer que se tivermos uma boa articulação com outros partidos, apoio do Lula, estrutura da Nacional, nós podemos surpreender. Porque nós vamos dialogar com 50, 60% do eleitorado capixaba. Inclusive com eleitores do centro que podem não se identificar com os nomes já postos. Meu nome é partidário, mas é amplo, sempre tive votos além do partido.
O PT apoiaria um nome de outro partido ao governo do Estado? Seja da federação ou de fora?
Isso vai depender também dessas conversas. A gente precisa ter abertura para conversar com todas as forças políticas do nosso campo. Vamos conversar para ver a disposição de cada um, no apoio a uma candidatura nossa, apoio ao Lula ou de uma composição, mas aí já é fruto de discussão com outros partidos.
Então, não é jogo de cena, não estamos fazendo um anúncio para confundir o mercado político. Nós estamos dizendo que nós vamos trabalhar para tentar construir uma candidatura majoritária ao governo.
E vocês vão tentar uma aliança com Ricardo Ferraço ou nem avaliam essa possibilidade?
Aí é uma discussão nacional e estadual que envolve os partidos. Como essas discussões não foram feitas ainda, nós teremos que aguardar. Vamos fazer primeiro essas conversas, acredito que até o final do mês faça essa conversa em Brasília, e a partir dessas conversas vamos ter alguma sinalização para saber o que pode efetivamente contar a nosso favor.
Mas se o Espírito Santo não tiver o apoio necessário para ter uma candidatura dessa envergadura, nós não seguiremos dando murro em ponta de faca. Não vamos conseguir sozinhos, precisamos de uma articulação mais ampla, que é o que vamos buscar.
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