Entrevista

“Não vou recuar”, diz Euclério sobre disputa ao Senado

Prefeito de Cariacica vai renunciar ao mandato e quer fazer uma dobradinha com Casagrande. Ele admite a possibilidade de deixar o MDB e alfineta opositores

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Euclério Sampaio, prefeito de Cariacica (foto: Dyhego Salazar/Folha Vitória)
Euclério Sampaio, prefeito de Cariacica (foto: Dyhego Salazar/Folha Vitória)

É quase um ritual: no ano que antecede as eleições, a cena política se enche de movimentos, com lideranças engrossando a lista de pré-candidatos e ensaiando para voos mais altos.

À medida que o calendário eleitoral avança, porém, muitos ficam pelo caminho. Uns recuam diante da falta de viabilidade, outros negociam espaços em alianças e há ainda quem use a pré-candidatura apenas como vitrine, para “valorizar o passe” na mesa das negociações.

O fato é que nem todo mundo que hoje é pré-candidato a algum cargo no ano que vem, vai levar o projeto à frente. E isso faz parte do jogo. No entanto, esse parece não ser o caso do prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (MDB).

Em seu segundo mandato como prefeito, chancelado por 88,4% da população cariaciquense, Euclério afirma com todas as letras que vai renunciar ao mandato e que não há chances de não disputar o Senado. “Eu não vou recuar”, disse o prefeito, contabilizando os apoios que têm recebido diariamente para a empreitada.

Em entrevista para a coluna De Olho no Poder, Euclério revelou que começou a percorrer o interior e que quer formar uma dobradinha com o governador Renato Casagrande (PSB), a quem chamou de o “maior conservador de Cariacica”.

Defensor ferrenho de Casagrande, Euclério afirmou que vai ajudar o governador a se eleger ao Senado, mesmo que não receba nenhuma ajuda em troca, com base na gratidão pelo investimento que o governo do Estado tem feito em Cariacica.

E para não criar problemas com a ex-senadora Rose de Freitas (MDB), pré-candidata ao Senado também, e nem para o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB), pré-candidato ao governo, o prefeito admite a possibilidade de deixar o MDB e concorrer por outra legenda.

Ele ainda alfinetou pré-candidatos ao governo e ao Senado. “O povo não está querendo um Tiririca da vida no Senado para fazer gracinha”, afirmou.

Leia abaixo a primeira parte da entrevista:


DE OLHO NO PODER – Prefeito, o senhor foi lançado ao Senado, já conquistou diversos apoios, mas quero te perguntar: a sua pré-candidatura e futura candidatura é pra valer mesmo ou corre o risco de lá na frente o senhor recuar?

EUCLÉRIO SAMPAIO – Não, eu jamais recuarei. Eu só faço algo se Deus botar no meu coração. E ele botou. Quando eu recebi uma nota de um grupo de direita dizendo que eu era uma boa opção para a direita e quando as igrejas começaram a se reunir e declarar apoio, isso entrou no meu coração. E é anormal o que está acontecendo. Todo dia eu recebo três, quatro apoios de lideranças do interior e da Grande Vitória. Então, isso entrou no meu coração e eu não vou recuar.

O senhor acredita que esses apoios já são indicativos de que senhor vai ter uma candidatura competitiva lá na frente?

Com certeza. A prova é a pesquisa que saiu esses dias, né? Antes de eu ir para as ruas, antes de quem me declarou apoio começar a me ajudar, já tenho um empate técnico com o segundo colocado. Diferença de décimos. Isso mostra que o povo quer uma renovação no Senado.

Então, o senhor vai realmente renunciar em abril?

Vou renunciar no momento certo.

O senhor chegou a avaliar a possibilidade dos eleitores, que votaram no senhor para mais um mandato de prefeito, que aprovaram a sua gestão e que inclusive te deram uma votação bastante expressiva, ficarem chateados com sua saída da prefeitura?

Não acredito, porque eu jamais vou abandonar minha cidade, Cariacica. Até mesmo porque eu venho preparando uma pessoa para ocupar o meu lugar, que é a Shymenne. Funcionária efetiva, 20 anos de prefeitura, contadora, capacitada, e eu vou estar acompanhando ela independente de eu renunciar.

O povo pode, num primeiro momento, não querer que eu saia, mas se eu sair, o povo de Cariacica tem gratidão, entendeu? E vai me acompanhar porque sabe que eu quero o melhor para o povo da minha cidade e para o Espírito Santo.

O senhor está no MDB e o MDB tem o pré-candidato ao governo. Normalmente, quando fecham as alianças, esses principais cargos de Senado, vice e governo são divididos para atrair mais partidos aliados. Não fica complicado o MDB ter dois postos importantes, o do governador e um de Senado?

A princípio poderia ser, mas eu entendo que tem espaço para todo mundo e que existe outros tipos de composições. O interesse do grupo é que ele saia vencedor. Tem candidato aí que vai ter que lançar talvez mais de dois de um mesmo partido, para compor a chapa. Ou não vai ter candidato.

O senhor acha então que não gera um problema com os aliados?

Eu acredito que se os aliados forem inteligentes não gera, mas se for necessário para tranquilizar o grupo eu posso mudar de partido.

Essa seria minha próxima pergunta, porque dentro do MDB também tem a ex-senadora Rose de Freitas, que numa entrevista à coluna ela disse que é pré-candidata ao Senado e que não estaria disposta a trocar de partido, no caso o senhor trocaria?

Até para não gerar problema com a Rose eu sairia do MDB. Mas eu quero deixar bem claro que independente do partido que eu estiver, meu voto para governador vai ser Ricardo Ferraço e o meu companheiro, eu vou trabalhar para Renato. Mesmo que ele não me ajude, eu vou ajudar ele porque eu entendo a dificuldade. O homem tem que ter gratidão. O que Renato está fazendo para os 78 municípios, não existe. E todos os prefeitos têm que ser gratos.

Para você ter uma ideia, Cariacica é uma até 31 de dezembro de 2020 e outra a partir de 1º de janeiro de 2021. Isso é inegável. Eu tenho que reconhecer que primeiro é Deus e segundo é a parceria de Renato. Então, um homem que não tem gratidão não tem nada na vida. Gratidão é um homem demonstrar que tem dignidade, que tem respeito pelos parceiros.

O senhor já está conversando com outros partidos? Acredita que teria espaço numa outra legenda?

Eu tenho o convite de Marcelo Santos, do União Brasil. Tenho o convite do Gilson Daniel (Podemos), que é meu parceiro. Tenho o convite de um outro partido que eu não posso falar. Se precisar posso caminhar sozinho, na informalidade apoiando Renato, para eu ser candidato. O que eu não posso é ceder o meu lugar para quem não tem coragem de enfrentar os oponentes que estão aí há bastante tempo dizendo que são candidatos a Senado.

Eu acredito naquilo que eu faço. Pensei muito, e você pode até não acreditar, mas eu deixei Deus colocar no meu coração para eu entrar nessa empreitada. E estou gostando. Não passa um dia que eu não receba um apoio de pessoas importantes e segmentos da sociedade de adesão à nossa pré-campanha.

Só voltando um pouquinho na Rose, ela disse também na entrevista que o senhor havia falado que iria apoiá-la.

Sim. Foi o único erro que eu tive com ela, de que eu iria apoiá-la. Porque não tinha isso. Quando veio a nota da direita e o apoio das igrejas, querendo que eu fosse candidato, isso mexeu comigo. Porque as polícias também queriam e são segmentos que me seguem. Entendeu? E ela tem que entender, cada um tem que entender o seu momento. E a pesquisa diz isso. De quem é o momento.

O senhor quer ser o candidato da direita no Espírito Santo?

Eu sou conservador, né? E as pessoas querem quem tem coragem para colocar no Senado. O povo não está querendo um Tiririca da vida no Senado pra fazer gracinha. O povo quer pessoas que tenham coragem de votar. Eu tenho minhas posições firmes e não tenho receio de exercitá-las no momento que for preciso.

Quando o senhor cita Tiririca, o senhor está se referindo a quem?

Não vou citar nomes. O povo não quer pessoa para fazer graça lá.

Prefeito, tem muitos nomes para o Senado. Eu fiz uma coluna e apontei ao menos 15, quando o Enivaldo ainda estava no jogo. Ele retirou a candidatura…

Ele me declarou apoio e vai cuidar da minha campanha na região Noroeste.

Então, o senhor acredita que talvez sejam muitos candidatos para duas vagas? Essa é uma pergunta. E a outra é se o senhor vai procurar alguns destes pré-candidatos para tentar apoio.

Já procurei. E não acredito que tenha mais de quatro candidatos. O exemplo é Enivaldo. E, em breve, vamos ter mais novidades.

Pode antecipar?

Não, não posso antecipar. Você sabe que eu não sou supersticioso, mas tenho isso comigo. Só falo depois de concretizado.

Quem seriam esses quatro que o senhor aposta? O senhor e mais quem?

O Renato, um do PT, o Sergio Meneguelli, eu… Talvez mais um ou dois. Não vai passar disso não. O Callegari também quer ser, é um cara lutador também.

E o senhor acredita que a disputa será acirrada?

A disputa para o Senado é diferente de deputado estadual e federal. Como eu te disse, o povo quer alguém que tenha coragem de votar, não quer um Tiririca, um cara que vai lá fala uma coisa e faz outra. Eu fui deputado cinco mandatos. Nunca mudei minha posição, eu defendo Deus, a família e o trabalho. Não sou extremista, mas defendo as minhas convicções com unhas e dentes. Eu não estou mentindo, eu não minto. Eu não vou enganar ninguém para ganhar voto e não vou mudar a minha essência para ganhar o voto de ninguém. Sou o que eu sou. Não vou mudar para ter mandato.

Euclério em entrevista para Fabi Tostes, da coluna De Olho no Poder (foto: Dyhego Salazar / Folha Vitória)

E qual será sua principal bandeira numa disputa ao Senado?

Eu vou votar com isenção, vou votar a favor do Espírito Santo, dos 78 municípios.

Mas eu digo na campanha, o senhor vai erguer uma bandeira principal?

Eu quero ser um senador municipalista, defender os municípios. Mas eu vou defender as pautas que eu entendo que sejam boas para a família e para a população.

O senhor falou que apoia o governador Casagrande e o Ricardo Ferraço. O senhor vai tentar fazer uma dobradinha?

Meu interesse é caminhar junto com o Renato. Às vezes as pessoas não entendem, como é que um cara conservador vai apoiar o Renato? Primeiro, eu tenho gratidão. Renato é o melhor governador que já passou nesse estado do Espírito Santo. Ele ajuda os 78 municípios, até aquele em que o prefeito é brigão e não quer parceria e está de ladeira abaixo. Então, ele não mede esforço, ele pensa na população.

Você sabia que a pesquisa qualitativa de Cariacica que eu fiz deu Renato como maior conservador da cidade? Você sabe o que é ser conservador? Não é estar brigando, não. É você colocar Deus em primeiro lugar, a família e o trabalho. Você só vê Renato com a esposa dele, com a mãe dele, com os netinhos dele, é a coisa mais linda. E dentro de igreja. Ou trabalhando, fazendo entrega.

Eu acordo de madrugada, Fabiana, geralmente 4 horas e o homem já está de pé, eu vejo ele online. Ele é mais velho do que eu e ainda tem mais disposição. É verdade! Tô mentindo não. Aí ele vê que eu estou online, começa a me ligar, e me deixa doido. Não deixa nem eu tomar banho, é sério (risos).

Mas, o senhor não acha que uma dobradinha com Casagrande na disputa ao Senado pode gerar uma confusão na cabeça dos eleitores?

Deixa eu te falar, o eleitor tem que pensar o seguinte, quem está transformando esse Estado? É Casagrande. Eu tenho que votar em pessoas, o Casagrande é conservador, ele está num partido de esquerda. Você vê Casagrande envolvido em alguma coisa que seja contra os princípios do conservador? Eu não vejo. Eu vejo ele administrar um Estado para todos. Vejo ele adepto à família e ao trabalho. E ele até me supera e muito. Eu tenho que admitir e reconhecer isso. Eu queria ter o gás que ele tem.

Sobre os pré-candidatos ao governo, como o senhor analisa o cenário para essa disputa?

Eu não quero julgar os outros candidatos, mas exercer o governo não pode ser uma pessoa que fique arranjando briga, ou que o melhor é só o partido dele. Por aí, já eliminei dois. E tem que ser uma pessoa que abrace os 3 milhões e 200 mil habitantes do nosso Estado. Ricardo é o mais qualificado e preparado para esse cargo.

Até mesmo porque, eu vou ser honesto pra você, o único que está num partido de esquerda que eu apoiaria seria o Renato. Eu não posso apoiar uma pessoa que fica arrumando briga. Eu ganhei uma eleição na cidade, ganhei a segunda e o núcleo do PT está sempre contra, passa o dia todo atacando a cidade. Quem quer construir não faz isso não. Eu não estou lá para defender o meu partido, os meus companheiros, eu estou para defender o cidadão. Imagina isso no governo do Estado? Vai ser uma guerra no Estado, vai destruir o Estado.

E sobre a tese, defendida por alguns pré-candidatos e lideranças, de que os eleitores querem pessoas novas na política?

Eu acho que isso está sendo interpretado de forma errada. Você vai colocar alguém que não tem experiência, que nunca foi gestor? O povo quer pessoas novas de pensamento, novas no cargo, mas que tenham experiência, capacidade e que já mostraram que podem fazer. Adianta colocar uma pessoa nova de idade, que não tem maturidade de respeitar as autoridades, nem de respeitar o pensamento diferente do seu e destruir o Estado? É isso.

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Fabiana Tostes

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.