Secretário de Segurança Pública, Leonardo Damasceno (foto: Ascom/Sesp)
Secretário de Segurança Pública, Leonardo Damasceno (foto: Ascom/Sesp)

Assim que a megaoperação no Rio de Janeiro foi deflagrada, os grupos de inteligência das forças de segurança capixabas foram colocados em alerta. Desde a última terça-feira, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) monitora, ininterruptamente, possíveis movimentações de facções no Estado.

A ação busca se antecipar a possíveis reações de lideranças do Comando Vermelho à ofensiva policial carioca, que possam respingar no Espírito Santo. Na ação policial, ao menos 121 pessoas morreram – sendo quatro policiais.

“Colocamos toda a inteligência das forças de segurança estaduais em alerta máximo, acompanhando todo o desenrolar. Qualquer movimentação de migração e atentados das facções aqui no Estado, especialmente do PCV que é alinhado ao Comando Vermelho, será compartilhada imediatamente”, disse o secretário estadual de Segurança Pública, Leonardo Damasceno.

Em entrevista para a coluna De Olho no Poder, o secretário revelou quais medidas já estão sendo tomadas e disse que, até o momento, não há indicativo de que o Estado possa ser alvo de retaliação ou de fuga de criminosos. “Não há nenhuma movimentação, podemos tranquilizar a população capixaba”.

O secretário também informou que mais foragidos capixabas podem estar entre os mortos da operação. “A gente tem a confirmação de um, mas tem outras notícias, tem que esperar o trabalho pericial”.

Ele também fez uma avaliação do resultado da operação no estado vizinho, respondeu ao pedido de deputados por reforço nas divisas com o Rio e se posicionou sobre a PEC da Segurança Pública que tramita no Congresso.

Veja abaixo a entrevista completa:

DE OLHO NO PODER – A operação no Rio gerou um certo temor no Espírito Santo, da possibilidade de bandidos em fuga virem para o Estado. Na Assembleia, o presidente Marcelo Santos chegou a pedir reforço do policiamento e até fechamento das divisas. Alguma medida, de imediato, está sendo tomada?

LEONARDO DAMASCENO – Tem muita coisa circulando, ainda mais num evento fora do normal como esse, que gera pânico, muito temor… Mas estamos acompanhando. O que temos feito? Primeira coisa foi que assim que essa operação foi deflagrada, colocamos toda a inteligência das forças de segurança estaduais em alerta máximo, acompanhando todo o desenrolar. Qualquer movimentação de migração e atentados das facções aqui no Estado, especialmente do PCV, que é alinhado ao Comando Vermelho, será compartilhado imediatamente, para que a gente tenha um plano de contingência.

Mas, o que a gente tem informação, é que não há qualquer movimento de migração de criminosos para o Espírito Santo. Então, a gente pode tranquilizar a população nesse sentido. Claro, tudo pode mudar, e se tiver alguma mudança, vamos ter capacidade de operação em qualquer cenário. Mas é importante dizer que todos os grupos de inteligência estão reunidos, em alerta máximo, e não temos nenhum indicativo.

Mesmo porque o cenário no Espírito Santo é de fuga de criminosos para o Rio de Janeiro e não o inverso. Hoje a gente atingiu um grau de maturidade na Segurança Pública que impõe um temor muito grande. Eles cometem crime aqui e vão embora para o Rio de janeiro, porque sabem que aqui serão capturados. Esse ano por exemplo tivemos casos de traficantes de alta estatura no PCV que vieram para o Espírito Santo por algum motivo e foram presos.

Segundo motivo também é que a operação foi pontual, não é uma ocupação da comunidade, não acredito que irão fugir do Rio por causa de uma operação pontual.

Então, a preocupação do presidente Marcelo Santos é justa, mas a gente está preparado se houver mudança no cenário. Aqui não tem vez para eles. Pegamos por reconhecimento facial, pela inteligência, a gente dá um jeito. Aqui não é um estado em que bandido se cria.

Por ora, então, a principal medida é o monitoramento da inteligência?

Sim, porque não é para gastar recurso sem estar baseado em informações, uma das coisas que a gente se orgulha do programa Estado Presente é justamente isso, basear tudo em evidências. Hoje não há evidência da inteligência para basear qualquer outra ação.

Como o senhor avalia o resultado da Operação no Rio que já contabiliza mais de 120 mortes?

É difícil de dizer. Nós não fomos comunicados previamente dessa operação e nem participamos do seu planejamento. Então, fazendo essa ressalva, o fato é que nós temos uma quantidade grande de mortes, que podem ser corretas sob o ponto de vista da legítima defesa ou não, mas isso não nos compete também avaliar.

Fato é que nós tivemos também quatro policiais mortos nessa ação e quando planejamos uma operação não queremos que nenhum policial nosso seja abatido em serviço. É triste pela quantidade grande de mortes, mas triste também pela quantidade de policiais mortos em ação, em combate.

Mas, era uma operação, de certo modo, esperada. O Brasil inteiro, todas as áreas da segurança pública, todas as polícias Brasil afora estavam cobrando o estado do Rio de Janeiro que fizesse alguma coisa, pela quantidade de traficantes que viviam livremente nessas comunidades. Era uma operação esperada, mas, de certo modo, o resultado é também trágico para a sociedade, quatro policiais mortos é um número muito triste.

Corpos foram enfileirados na rua (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

O senhor disse que não foi comunicado, mas o Espírito Santo chegou a receber algum pedido de ajuda do Rio de Janeiro ao longo desse ano?

Não recebemos nenhum pedido especificamente, mas a gente troca muita informação com as inteligências de todo o Brasil e, com toda certeza, com a do Rio de Janeiro, já que a gente tem uma grande quantidade de traficantes procurados que estão no Rio de Janeiro.

Já temos a informação que pelo menos um, talvez dois ou três traficantes do Espírito Santo morreram durante essas ações. Mas seja como for, a gente troca muita informação. Já tivemos muito auxílio, esse ano mesmo nossas equipes estiveram no Rio, mas sobre essa não pediram auxilio, seja de inteligência ou material.

O senhor disse que dois ou três traficantes do Estado estão entre os mortos, tem os nomes?

Por enquanto a gente tem a confirmação de um, mas tem outras notícias, tem que esperar o trabalho pericial. Vamos aguardar a confirmação. É possível que tenha mais.

E qual a quantidade de traficantes daqui que estão no Rio?

Uma quantidade grande, tem uma lista grande de traficantes que o último endereço conhecido é o Rio de Janeiro. Uma dezena, pelo menos, de criminosos ligados ao Comando Vermelho e ao Terceiro Comando.

E com relação a lideranças do CV aqui no Estado, tem informações?

A facção Comando Vermelho é associada ao Primeiro Comando de Vitória, as lideranças no Estado são conhecidas, as principais lideranças estão presas.

Ao comentar sobre a operação, o ministro da Justiça falou sobre a necessidade de se aprovar a PEC da Segurança, que tramita no Congresso. Qual o seu posicionamento sobre a proposta? É a solução ou uma arma mais eficaz contra o crime organizado?

A PEC tem méritos, não resolve todos os problemas da Segurança Pública porque os problemas exigem várias soluções. Mas, nós, secretários de Segurança Pública do Brasil, reunidos, mandamos para o Congresso Nacional oito propostas de alteração da legislação processual e penal e algumas estão sendo aprovadas, na Câmara e no Senado, quase todas já foram aprovadas e vão ajudar substancialmente a segurança pública a combater as facções e os grupos mais violentos.

O mérito principal da PEC é reforçar a integração porque ela constitucionaliza o Susp – o Sistema Único de Segurança Pública. O Susp foi criado por lei em 2018, é um sistema que estrutura e integra todos os atores com participação na segurança pública. Isso, para nós é importante.

De certo modo vai empoderar um pouco mais o Governo Federal no combate às facções porque, de fato, hoje são os estados que respondem pelas mazelas da Segurança Pública. Os estados estão com a responsabilidade, com os serviços e sendo cobrados e a União pode, com certeza, contribuir mais.

Nessa PEC, o Fundo de Segurança Pública também será constitucionalizado. É uma medida importante porque evita que ele seja contingenciado. Com a PEC, a União vai ser obrigada a fazer mais.

Há previsão de aumento no repasse de recursos para o Estado?

Não tem essa previsão. É uma PEC genérica, não vai estabelecer limites, mas vai impedir o contingenciamento, pelo menos isso a gente tem a garantia. O ideal mesmo é que amplie as receitas desse fundo, há muitas possibilidades de aumentar esse fundo e a gente espera que isso aconteça. Recebendo mais do Fundo de Segurança, a gente aumenta os investimentos em segurança.

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Fabiana Tostes

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.