Política

Foro privilegiado não é motivação para Lula assumir ministério, diz Jaques Wagner

Redação Folha Vitória

Brasília, 14 - Depois dos protestos deste domingo, 13, ministros do PT intensificaram a pressão para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumir a articulação política do Palácio do Planalto. "Se Lula vier, seguramente será para cuidar do que mais conhece, que é a política", afirmou nesta segunda-feira, 14, o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, quando questionado se o ex-presidente poderia ter influência sobre a economia. Wagner destacou, porém, que "pesa negativamente" sobre a decisão de Lula a interpretação de que ele estaria aceitando um ministério para ganhar prerrogativa de foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF), caso seja denunciado no âmbito da Operação Lava Jato.

"Ele não vai fugir da Justiça", insistiu Wagner. "Evidentemente, não é essa a motivação e isso é o que hoje mais o constrange a aceitar o convite. Aí ele prefere ficar com a sua história. A história dele foi construída na rua, enfrentando o governo militar e muitas dificuldades. Ele chegou a ser preso", emendou, numa referência à época em que Lula comandava o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo.

Na semana passada, Lula disse a Wagner que entrar na equipe agora passaria a mensagem de confissão de culpa. "Isso o incomoda", admitiu o chefe da Casa Civil. A expectativa do ex-presidente é que a Justiça rejeite, nos próximos dias, o pedido de prisão preventiva contra ele, feito pelo Ministério Público de São Paulo, para só então dar a resposta definitiva ao convite feito pela presidente Dilma Rousseff.

Resistência

Alvo da Lava Jato, Lula resiste muito a assumir um ministério. Preocupada com o desmoronamento da base aliada, que aumenta o risco de impeachment, Dilma convidou o ex-presidente a ocupar a Casa Civil, hoje comandada por Wagner, antes mesmos das manifestações de domingo contra o governo. Ela também ofereceu a Lula a Secretaria de Governo, dirigida por Ricardo Berzoini. Os dois cargos cuidam da articulação política.

Diante da resistência do petista, Dilma disse que ele poderia escolher o ministério que quisesse. "Um quadro como Lula faz bem a qualquer governo porque tem uma capacidade política e de agregação muito forte", insistiu Wagner, ao afirmar que o Palácio do Planalto ainda trata o assunto como possibilidade "real e concreta". "Se nós temos um processo de economia difícil, que depende de um ajuste cada vez mais fino na área da política, todo mundo sabe que essa é a capacidade maior do Lula", comentou o chefe da Casa Civil.

Babando sangue

Wagner não escondeu, porém, a contrariedade com as denúncias contra Lula e afirmou que ele não praticou tráfico de influência. Disse ainda que o petista virou "um troféu", objeto de disputa entre o Ministério Público de São Paulo e a força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba. Mesmo sem citar nominalmente o juiz Sérgio Moro, Wagner disse que tem gente "babando sangue" para prender Lula.

"O ex-presidente Lula faz o que todos os ex-presidentes fazem. É por isso que Sarkozy, na França, tensionou para comprar o caça Rafale e os americanos para comprar o Boeing. Mas agora, quando nosso ex-presidente vai lá fora exportar empresas, virou crime. Eu acho que estamos com uma visão primária sobre essa coisa", disse o chefe da Casa Civil. "Criou-se uma tese de que o ex-presidente é chefe de uma gangue. Então investiga-se a pessoa, e não os fatos. Não tem uma derivação clara de Lava Jato com ele."

A Lava Jato suspeita que Lula ocultou a propriedade de um sítio em Atibaia, reformado por empresas hoje investigadas no esquema de desvio de dinheiro da Petrobras, como a OAS e a Odebrecht. O ex-presidente nega que seja dono do sítio e também de um tríplex no Guarujá, que recebeu benfeitorias da OAS, como alega o Ministério Público de São Paulo.

"Aí pegam o sítio e dizem: 'será que esse dinheiro ajudou o sítio?' Ora, empresas como a Odebrecht têm 68% do faturamento no exterior. Então, tem gente babando sangue e Lula virou troféu. Por isso é que teve um concurso entre o Ministério Público de São Paulo e o do Paraná, para ver quem pega primeiro", afirmou Wagner.

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