Entrevistados divergem sobre resultado de votação do impeachment no Meio Dia Talk Show
Com 367 votos favoráveis, os parlamentares decidiram dar continuidade ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, na noite de domingo (17)
O programa "Meio Dia Talk Show", TV Vitória/Rede Record, recebeu o jornalista Anderson Luiz e o coordenador do Movimento Vem Pra Rua, Washington Olímpio, nesta segunda-feira (18).
Apesar de serem contrários ao atual governo petista, os dois possuem opiniões diferentes sobre a forma como foi conduzido o processo. Com 367 votos favoráveis, os parlamentares decidiram dar continuidade ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, na noite de domingo (17). Para Anderson, ter Eduardo Cunha como presidente da Casa é um dos pontos que ele não apóia.
“Assim como os milhares de brasileiros amanheceram em todo país, há uma grande indignação da nossa parte da forma como está se conduzindo a política do nosso país. Creio que nenhum dos brasileiros se sentem totalmente satisfeitos e bem representados. Sou contra sim ao governo, acredito que houve inúmeros erros praticados pela atual gestão, mas também tenho coragem para me posicionar contra ao processo, a forma como se deu ontem na Câmara dos Deputados. Me senti muito constrangido com o presidente da Casa, Eduardo Cunha, que para mim não tem legitimidade nenhuma para conduzir um processo de afastamento de um presidente”, explica.
O jornalista ainda conta que preferiu não ir às ruas protestar como forma de mostrar a indignação com o presidente da Câmara, réu no processo da Lava Jato.
“Não concordo com a forma que se deu todo esse procedimento. Porque a gente observa uma celeridade muito grande no procedimento de afastamento da presidente, de admissibilidade do processo para então ser encaminhado para o Senado. A gente observa uma letargia, uma lentidão total no processo que julga Eduardo Cunha no Conselho de Ética. Eduardo Cunha que é réu no processo da Lava Jato”.
Já o coordenador do Movimento Vem Pra Rua, Washington Olímpio, afirma que Eduardo Cunha tinha legitimidade para assumir a presidência da Câmara dos Deputados e assim, conduzir a votação.
"Independente da minha opinião, ele tinha legitimidade sim. Claro que ele vai ter a punição dele em seguida. Acho que quando a gente muda o governo, abre caminho para a Polícia Federal poder investigar, para Sérgio Moro poder julgar e o Ministério Público poder agir. O Cunha e todos os outros corruptos, eles pagarão com a mesma moeda. A gente não está defendendo um lado. Neste momento, a gente tinha um processo de tirar uma presidente, não podíamos julgar um presidente da Câmara. Nós fomos às ruas gritar contra Dilma e pedindo que com a saída dela a gente tenha uma mudança grande no Brasil”, esclarece.
Redução no número de manifestantes
Para o coordenador, a redução do número de manifestantes nos últimos protestos e, principalmente, na transmissão da votação em pontos da Grande Vitória não demonstra um enfraquecimento.
"Não, de jeito nenhum. Acho que por ter uma transmissão aberta em todas as TVs, as pessoas optaram por ficar em casa, no ar condicionado ou foram para bares, pois muitos bares exploraram os telões. Nós fomos para a praça. Na verdade, o povo brasileiro continuou se manifestando, cada um de um lugar.
Por outro lado, Anderson Luiz acredita que a redução dos manifestantes está ligada com a baixa representação do Congresso Nacional e a ampla exibição da votação em grande parte das emissoras.
“Acho que a população não se sente representada pelo Congresso Nacional e o fato de ter várias emissoras de televisão transmitindo a questão da admissibilidade do processo dentro da Casa, era um fator a mais para se divulgar e as pessoas legitimizarem seu pedido nas ruas. Até comentava antes que a rede social é um espaço de discussão, mas se legitima mesmo a vontade nas ruas. Essa vontade popular não foi bem abraçada nesse último domingo devido à população não se sentir representada pelos seus deputados federais e, principalmente, pelo presidente da Casa, que já deveria ter sido afastado. E quando coloco aqui meu posicionamento contra o governo, acredito que o país só vai garantir a sua governabilidade e estabilidade política, se nós tivermos novas eleições”, explica o jornalista.
Próximos passos do rito de impeachment
Sobre os próximos passos, Anderson defende mais diálogo para cobrar novas medidas e garantir um futuro melhor.
"Espero que o país primeiramente tenha garantia da estabilidade política. É preciso que os brasileiros, tanto nós capixabas como a população de todo o Brasil, precisa arrefecer os ânimos, buscar diálogo, entendimento e fugir do radicalismo. Pedir sim novas eleições para que o próximo governante deste país tenha legitimidade para governar. Eu, enquanto brasileiro, jovem de 25 anos, não vou me sentir representado tendo um réu no processo do STF como vice-presidente da república, que é o caso do Eduardo Cunha. Não dá para falar em estabilidade política sabendo do futuro que espera se de fato esse impeachment vier acontecer por parte do Senado”.
Já Washington Olímpio acredita que é preciso dar uma trégua se o impeachment realmente acontecer para que um novo governante consiga mudar o cenário político.
"Realmente a gente tem que dar uma trégua ao vice-presidente Michel Temer, que acontecendo o impeachment, virará presidente. E dizer que ele tem que trazer um novo planejamento para o Brasil, tem que deixar as instituições funcionarem agora. E lembrar que não há previsão na nossa Constituição de novas eleições. Para isso, teria que haver uma renúncia coletiva e isso é impossível de acontecer. Então, não há tempo de debater uma mudança na Constituição. O que precisa ser feito é a gente continuar com atenção aos fatos que vão acontecer. Vamos estar de olho sim no Michel Temer, mas dar uma trégua a ele para que ele possa governar", finaliza o coordenador.
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