Política

Cientista político Fernando Pignaton acredita que manifestações de 2013 influenciarão nas eleições

O especialista diz que acredita que o brasileiro mudou a mentalidade depois das manifestações do ano passado e aposta em eleições acirradas em todo o País

O cientista político Fernando Pignaton acredita que as manifestações do ano passado por todo o Brasil vão influenciar nas eleições deste ano Foto: Divulgação

O cientista político Fernando Pignaton acredita que as manifestações do ano passado por todo o Brasil vão influenciar nas eleições deste ano. Ele também aposta em segundo turno não só nas eleições para Presidente como também para o governo do Espírito Santo. 

Confira a entrevista na íntegra

Folha Vitória: Você acredita que os protestos do ano passado podem refletir no resultado destas eleições?
Fernando Pignaton: Sim. As manifestações de junho foram um fato histórico e não circunstancial e o Brasil está sendo mudado por aquele gesto histórico. A partir daquelas manifestações estamos vendo uma mudança completa. A Dilma [Rousseff] tinha, antes das manifestações, 70% de aprovação e hoje tem 30%. Todo mundo esperava que nem haveria segundo turno e as manifestações fizeram tremer essa era da república. As manifestações fazem parte de uma coisa mundial. A percepção da sociedade sobre a democracia era muito limitada, muito obstruída e foi dominada por uma corporação de políticos profissionais que fingiam representar a sociedade como um todo. O Brasil a partir das manifestações passou a ser referência mundial .

FV: O resultado da Copa do Mundo, com o Brasil ganhando ou não, pode influenciar o resultado das eleições?
FP: Eu acho que não. O povo está se manifestando através das pesquisas de opinião e quer mudanças depois das manifestações de junho. Se isso vai acontecer daqui há um ano ou no dia seguinte, nós não sabemos. Mas daqui a 20 ou 30 anos, nós vamos falar de Diretas Já, da Constituinte e também dessas manifestações. O Estado prometeu mudanças depois das manifestações, mas isso não aconteceu. O povo percebeu e está dando a resposta nas pesquisas.

FV:: No Espírito Santo, com a auditoria da Rodosol e a suspensão do pedágio, acredita que isso será tema de campanha?
FP: Acho que não. Diziam que era a marca que faltava para o governo se reeleger. Com esse tema da Rodosol ficaram evidenciados os problemas com a falta de mobilidade urbana. Houve uma percepção de que isso [suspensão pedágio e auditoria] foi uma ação política e não técnica. A Rodosol pode ainda ganhar na Justiça o direito de ser ressarcida por algum prejuízo.

FV: Mas na ocasião do movimento essa questão do pedágio na Terceira Ponte foi um catalisador. Você acredita que, impulsionado por isso, o governo não tomou uma medida que a população clamava? 
FP: Na verdade, o governo tomou sim essa medida. No final das contas, ele tomou essa medida nesse ano, no período próximo às eleições, com a queda do pedágio. Para a população, ficou a impressão de que essa decisão do governo foi por causa das eleições. 

FV: Quais devem ser os temas de campanha no Estado?
FP: Vai ser quem conseguir apresentar condições de tocar as agendas de investimento no Espírito Santo. Há também a discussão sobre os investimentos sobre a mobilidade urbana. Também acredito que a segurança e a saúde devem melhorar, está muito ruim. 

FV: Acredita que as diversas candidaturas que podem haver para o Governo do Estado serão boas para a democracia?
FP: Com certeza. As pesquisas de opinião mostram que o brasileiro quer mudança. Aqui no Espírito Santo, as eleições estarão sobre o signo da mudança. Agora há discussão se a mudança vem com quem já está no governo ou com quem é oposição. O próprio governador está querendo a continuidade, mas com mudança. Esses 12 anos [de unidade política] eram totalmente contra a democracia; isso não era bom. Enquanto o mundo todo lutava pela a democracia, aqui se dizia “democracia não é bom”. Isso fazia mal para a democracia e para a pedagogia popular. 

FV: Mas de que mudança estamos falando se o principal opositor é uma pessoa que esteve à frente do governo por oito anos?
FP:
Todos os candidatos vão querer abordar esse sentimento de mudança, motivados pelas manifestações. Paulo Hartung diz claramente que o atual governo não é a continuidade do antigo. Ele vem com a proposta de mudar e voltar a ser o que era antes. Do mesmo jeito, Casagrande vai dizer que a mudança só vai acontecer se o atual governo tiver continuidade. Se Guerino Balestrassi for candidato, ele vai dizer que é o “novo”, que vai mudar e que será melhor para a população. A disputa eleitoral vai ser baseada nas manifestações que aconteceram no Estado e no País. A população quer mudanças no serviço público, na saúde, na infraestrutura; quer ver um retorno dos altos impostos. 

FV: Acredita em segundo turno no Brasil e no Estado?
FP: Acredito, sim. Principalmente porque os candidatos vão sendo conhecidos entre os eleitores. Nas pesquisas em que os eleitores conhecem os candidatos, o Aécio [Neves] está na frente da Dilma [Rousseff], e o [Eduardo] Campos já aparece próximo dela. Há uma tendência grande ao equilíbrio aqui no Estado também, em todo o Brasil. Acredito que a eleição no Espírito Santo vai ser muito acirrada e acredito que quem ganhar terá de ter o diálogo da mudança, com um governo técnico e com resultados concretos.

FV: O próximo governador pode ter dificuldade com a Assembleia?
FP: Acho que não. Acho que quem ganhar a eleição não será por um placar dilatado, considerando as forças independentes. 

FV: O Hartung apoiou o Casagrande nas últimas eleições. Por que ele agora não o apoia?
FP: Acho que o Paulo Hartung avaliou que o Casagrande não está fazendo um governo de continuidade. Pelo que se fala eu imagino que ele queria um governo mais técnico e mais dinâmico. Quem pegou o Espírito Santo organizado deveria ter avançado mais. Ele mesmo tem manifestado isso. É o slogan de sua campanha.

FV: E o Magno Malta. Como você o vê nesse cenário? 
FP:
O Magno Malta tem agido com foco nas bandeiras nacionais, para talvez disputar a presidência. Isso tem feito com que o eleitor capixaba acredite que ele não irá concorrer ao governo do Estado, já que existem dois pré-candidatos muito fortes. Se Magno Malta voltar a concorrer ao governo estadual, ele terá de volta as intenções de voto, principalmente dos segmentos D e E. 

FV: Na sua avaliação, o PT errou ao não apoiar Casagrande quando ele ainda estava neutro na nacional?
FP: O PT é bem pragmático em nível nacional e quer um palanque para a Dilma no Estado porque será uma eleição difícil e vai com candidatura própria. Me parece que o Casagrande, tomando uma posição que também força na sua base, acabou excluindo alguns setores. Mas também pode ser uma coisa positiva para ele se levarmos em consideração a coerência política.

FV: Os três principais partidos – PMDB, PSDB e PT - não tomaram posição quanto aos apoios. Como você vê essa demora? Por que isso está acontecendo?
FP: Vejo isso como natural. O PMDB quer ganhar tempo para se beneficiar, já que muitos partidos foram para o bloco de apoio ao governo. Já o PT está mais posicionado, quer um candidato para apoiar a reeleição de Dilma Rousseff, uma vez que Renato Casagrande está apoiando Eduardo Campos.

FV: E a flutuação do PSDB, que oscila entre Casagrande e Paulo Hartung? 
FP:
Na verdade, o PSDB está seguindo os interesses de Aécio Neves; está tendo uma centralização maior. Por isso a convenção do partido foi adiada. A intenção do Aécio é montar um palanque no Espírito Santo para ganhar força. É natural que a oposição espere a decisão do governo para depois decidir qual rumo tomar.

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