Política

Em entrevista ao Folha Vitória, candidato do PV à presidência defende descriminalização da maconha e aborto

Temas polêmicos defendidos pelo PV e que ficaram escondidos com Marina Silva nas eleições passadas voltam a ser discutidos pelo partido nestas eleições

Eduardo Jorge é o candidato do PV à presidência Foto: Divulgação

O médico sanitarista Eduardo Jorge foi o primeiro candidato à presidência da República a visitar o Espírito Santo. O verde acredita que a campanha do PV deverá ser diferente da de 2010, quando a então candidata Marina Silva não defendia ideias do partido, que eram consideradas polêmicas, como descriminalização da maconha. Segundo o presidenciável a postura do PV também será diferente de 2010 num possível segundo turno.

Confira a entrevista na íntegra:

Folha Vitória: O PV-ES apóia a reeleição do governador Renato Casagrande, que por sua vez apóia o presidenciável Eduardo Campos. Como fica seu palanque no Espírito Santo?
Eduardo Jorge: A posição do PV, que é um partido novo, é de trazer ideias diferentes dos partidos socialistas e dos capitalistas. O ideal é que tenhamos candidatura própria. Mas claro que isso depende da força local de cada Estado. Em alguns estados já temos estrutura para ter candidatura própria, mas outros não têm. Então devemos fazer alianças que estejam mais perto das nossas diretrizes.

FV: O PV-ES tem boas chances de eleger um deputado federal com o ex-prefeito de Vila Velha Neucimar Fraga, mas ele quer o Senado. Há alguma determinação do PV nacional para ele disputar a Câmara?

EJ: A decisão é local. Existe a orientação, como o PV é um partido parlamentarista, para que procure eleger candidatos na Assembleia e na Câmara. Mas se ele quer o Senado ou deputado federal, aí tem de ver onde ele tem mais chances (de se eleger). Para mim é indiferente (Senado ou Câmara) desde que ele se eleja.

FV: Num possível segundo turno o PV estaria mais próximo de apoiar Dilma, Aécio ou Campos?
EJ: Isso aí nós vamos ver só no segundo turno, se não formos para o segundo turno. Agora, não vai acontecer o absurdo que aconteceu em 2010 (de ficar neutro). Foi uma omissão. Já que não estamos no segundo turno não queremos “brincar” mais? Foi muito errada a posição que tivemos em 2010. Este ano vamos escolher quem estiver mais próximo de nossas decisões.

FV: Marina Silva teve uma boa votação no Espírito Santo em 2010 e ganhou em Vila Velha e Vitória. Acha que o PV pode repetir de novo esse bom desempenho?
EJ: Cada eleição tem a sua história. A eleição de 2010 foi muito específica. Nós éramos a terceira via. Hoje temos um espectro mais amplo. Em 2010 era uma coligação entre PV e Marina, que tinha posições religiosas conservadoras e por isso a votação foi ampla. Nessa eleição há mais opções (de candidatos). Sobre a Marina, ela não poderia aceitar algumas posições do PV, seria uma violência contra ela. O PV agora vem com outra campanha.

FV: O PV concorda com o casamento gay?
EJ: Sou totalmente favorável. Por que eu teria objeção ao casamento civil de um rapaz com outro rapaz ou de uma moça com outra moça? Isso é do âmbito privado de cada um. O que eu tenho a ver com isso? Vai prejudicar a mim ou a você? Isso não incomoda a ninguém. É querer interferir demais na vida alheia, cada um tem de cuidar da sua vida.

FV: O PV é a favor da descriminalização da maconha?
EJ: A Convenção das Nações Unidas de 1971 contra as drogas está ultrapassada. Essa política gastou trilhões de dólares com políticas repressivas e é o maior fracasso mundial da ONU. Aumentou o número de dependentes, de usuários, aumentou o poderio da indústria do crime. O crime que está se beneficiando com isso. Vários países estão revendo a posição sobre o uso das drogas psicoativas. É uma tendência mundial tirar o controle das drogas do crime e regular o acesso pelo Estado. Temos de investir em educação e na saúde. Não é um incentivo ao consumo da droga. Temos de falar dos prejuízos que a maconha pode trazer e que não deve ser usada ou ser usada moderadamente, como o álcool.

FV: O senhor usa ou já usou maconha?
EJ: (risos) Não, eu prefiro a literatura e brincar de futebol com o meu neto.

FV: Qual a sua posição em relação ao aborto?
EJ: Sou médico, autor da lei de Planejamento Familiar e também autor da lei que legalizou a possibilidade de esterilização para homens e para mulheres, que era proibido. Precisamos expandir o planejamento familiar e implantar a educação sexual nas escolas para evitar a gravidez indesejada. O planejamento familiar e o sistema de saúde têm de avançar. O que eu não posso fazer é deixar desamparadas as mulheres que fazem aborto. Não cerca de 700 mil a 900 mil mulheres abortando por ano segundo o Ministério da Saúde. Vou deixar essas mulheres a própria sorte? Não posso! O País é laico. As mulheres não fazem aborto porque querem. É uma posição social, um problema de saúde, por exemplo, que faz a mulher tomar essa decisão difícil.

FV: Não teme perder voto de pessoas mais conservadoras?
EJ: Eu sempre falo a verdade e não mentiria só para ganhar votos como alguns candidatos fazem. 

FV: O senhor se refere à Marina?
EJ: Não, a Marina não está mentindo. Ela tem uma concepção fundamentalista e conservadora em relação a isso.  Ela acredita nessas posições conservadoras. Mas essas posições não encontram abrigo no evangelho. Foram posições elaboradas pelo homem em relação a um drama feminino. Jesus não tem nada a ver com isso. Procure no evangelho para ver se encontra algo a respeito. Isso vem dos homens, dos homens mesmo e não das mulheres.

FV: Como será o financiamento da campanha neste ano? Em 2010, por exemplo, o vice do PV era o empresário Guilherme Leal.
EJ: Eu não peço nada a ninguém. Estou viajando pelo País, às vezes fico em hotéis baratos ou na casa de algum militante. Vamos fazer a campanha mais espontânea possível e mais econômica possível.  Somos ricos apenas de ideias. Quem quiser pode nos ajudar, mas eu não peço nada.

FV: O que achou da determinação do TSE que redistribui as  bancadas da Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas?
EJ: Nós somos pelo parlamentarismo, com voto distrital, voto facultativo, com pacto federativo. Queremos resgatar o prestígio do parlamento em detrimento ao presidencialismo imperial. Mas o Congresso precisa melhorar, mas para isso o Congresso não pode ser obeso. Na visão do PV temos de ter mais qualidade e menos quantidade. Não vejo problema nenhum em diminuir número de deputados. A decisão do TSE é polêmica, mas deve ser proporcional a população, está na Constituição. Precisamos de uma reforma política severa. Para que serve o Senado? É só um lugar para aposentar político profissional.

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