Política

'O que tem a dizer sobre tal fato?', pergunta PF a Temer sobre 'homem da mala'

Redação Folha Vitória

São Paulo - A Polícia Federal quer cercar o presidente Michel Temer a partir do caso de seu ex-assessor especial Rodrigo Rocha Loures, ex-deputado (PMDB-PR), flagrado correndo por uma rua de São Paulo na noite de 28 de abril com uma mala estufada de propinas da JBS - R$ 500 mil divididos em 10 mil notas de R$ 50.

"Vossa Excelência tomou conhecimento (antes da divulgação na imprensa) do recebimento, por Rodrigo da Rocha Loures, de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) do Grupo J & F Investimentos S/A, em São Paulo, em 28 de abril de 2017? O que tem a dizer sobre tal fato (ainda que tenha tomado conhecimento do mesmo pela imprensa)?", questiona a PF.

Os investigadores estão convencidos de que Loures - preso desde sábado, 3, na Superintendência da PF em Brasília - era o "interlocutor" do presidente para assuntos do interesse da JBS. Para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o ex-deputado tinha um papel mais importante, "era homem de total confiança, o verdadeiro longa manus de Michel Temer".

Boa parte das 82 questões endereçadas ao presidente refere-se a Loures. A linha do interrogatório da PF é nítida no sentido da busca de eventuais contradições do presidente. A investigação mostra a intensa movimentação do ex-assessor junto a órgãos estratégicos da administração, como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), órgão antitruste do governo federal.

"Vossa Excelência determinou a Rodrigo da Rocha Loures que interviesse junto ao CADE no sentido de atender a interesses do Grupo J & F Investimentos S/A?", questionam os delegados da PF Thiago Delabary e Marlon Cajado. "Vossa Excelência tomou conhecimento (antes da divulgação jornalística) de encontros mantidos entre Rodrigo da Rocha Loures e Ricardo Saud, Diretor do Grupo J & F Investimentos S/A? Se sim soube do encontro antecipadamente? Qual a pauta dessas reuniões?"

"Vossa Excelência compareceu à inauguração da Casa Japão, em São Paulo, em 30 de abril de 2017. Rodrigo da Rocha Loures viajou com Vossa Excelência no avião presidencial? Se sim, Rodrigo da Rocha Loures reportou a Vossa Excelência, durante a viagem, Grupo J & F Investimentos S/A. naquela mesma semana? Se sim, em que termos foi o relato?"

"Vossa Excelência soube que Ricardo Saud, em encontros realizados em 28 de abril de 2017, expôs a Rodrigo da Rocha Loures, em detalhes, um 'esquema' envolvendo o pagamento de vantagens indevidas decorrente da suposta intervenção do então parlamentar junto ao CADE, em prol dos interesses do Grupo J & F Investimentos SA?"

"Em caso de resposta negativa, o que tem a dizer acerca desse episódio, mesmo que dele tenha tomado conhecimento somente por sua veiculação na imprensa?" Na sequência de indagações que buscam envolver o presidente, os federais perguntam se Loures chegou a levar ao conhecimento dele a disponibilidade do Grupo J & F Investimentos em fazer pagamentos semanais "que girariam entre R$ 500 mil e RS 1 milhão, por conta da resolução da questão que estava em trâmite no CADE?"

"Vossa Excelência soube, também por Rodrigo da Rocha Loures, que tais pagamentos semanais estavam garantidos até dezembro do corrente ano e, a depender da extensão do contrato firmado entre empresa do Grupo J & F e a Petrobras, poderiam se prolongar por até vinte e cinco anos?", insiste a PF.

Adiante, os delegados perguntam a Temer se ele acredita que Loures "possa ter participado de tais tratativas com o Grupo J & F Investimentos S/A com o intuito de obter exclusivamente para si as quantias que na hipótese da mencionada dilação contratual, chegariam pelo menos à casa dos R$ 600 milhões".

Os federais indicam ao presidente que seu ex-assessor especial integra uma organização criminosa e querem saber de Temer se ele manteve algum tipo de contato com homem da mala depois do flagrante dos R$ 500 mil da JBS. "Após a divulgação desses fatos pela imprensa, que demonstraram a participação inequívoca de Rodrigo da Rocha Loures em conduta aparentemente criminosa, Vossa Excelência manteve algum contato com ele, diretamente, seja por interpostas pessoas? Se sim, por qual meio e qual a finalidade do contato?"

A PF questiona, ainda, desde quando Temer conhece Loures e se ele "é pessoa da estrita confiança de Vossa Excelência". Os delegados entram no campo eleitoral e perguntam ao presidente se ele confirma ter "realizado contribuição financeira à campanha de Rodrigo da Rocha Loures à Câmara dos Deputados, nas eleições de 2014, no valor de R$ 200.650,30". "Quais os motivos dessa doação?"

A PF pergunta ainda a Temer se ele fez contribuições a outros candidatos naquele ano. "Se a resposta for afirmativa, discriminar beneficiários e valores." Os delegados destacam que Temer gravou um vídeo de apoio à candidatura de Loures à Câmara dos Deputados, em 2014. "Fez algo semelhante em prol de outro candidato? Quais?"

A PF aborda, então, o encontro do presidente com o acionista da JBS, Joesley Batista, que fechou acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República e gravou conversa com Temer no Palácio do Jaburu, na noite de 7 de março. Nesse encontro, Joesley narrou ao presidente uma sucessão de crimes, inclusive a mesada de R$ 50 mil para o procurador da República Ângelo Goulart, supostamente infiltrado pela JBS na força-tarefa do Ministério Público Federal da Operação Greenfield, investigação sobre rombo bilionário nos maiores fundos de pensão do País.

"Confirma ter estado com Joesley Batista, presidente do Grupo J&F Investimentos S/A, em 7 de março de 2017 no Palácio do Jaburu, em Brasília, conforme referido por ele em depoimento de fls. 42/51 dos autos do Inquérito no 4483?", indaga a PF. "Qual o objeto do encontro e quem o solicitou a Vossa Excelência?" Os delegados tornam ao ex-assessor especial. "Rodrigo da Rocha Loures teve prévio conhecimento da realização desse encontro?"

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