Ricardo Ferraço se fortalece dentro do PSDB
Depois de firmar posição de apoio à candidatura do socialista Renato Casagrande ao governo, o senador tucano, que busca a reeleição, retoma o papel de protagonista dentro do partido
Há, embutida no processo de declaração de apoio do PSDB ao PSB no Espírito Santo, uma disputa velada dentro do partido tucano. Embora ambos neguem, e mantenham um discurso de coesão, o processo de aproximação entre as duas siglas deu mostras de que Ricardo Ferraço buscava um espaço maior no espectro partidário. Nessa busca, impossível não se chocar com os interesses do vice-governador, César Colnago, que é presidente estadual do PSDB, pré-candidato a deputado federal, e militou em uma frente diversa, buscando manter o partido aliado ao governador Paulo Hartung.
Oficialmente, tanto Ferraço quanto Colnago, dizem que a aproximação com Casagrande foi feita de comum acordo, e só se deu após a desistência de Hartung em concorrer ao quarto mandato e só a partir do dia 5 de julho, quando Colnago teria percebido que não conseguiria validar o nome como candidato a governador pela ampla e difusa base governista.
No entanto, fontes do Folha Vitória dentro do próprio PSDB - além de integrantes do PSB, do PDT, do DEM e ainda do PPS, aliado de primeira hora de Casagrande -, afirmaram, sob a condição de anonimato, que as conversas tiveram início antes disso, e que Ricardo Ferraço foi quem liderou o movimento de ruptura do partido dele com a base aliada.
César Colnago tem ampla maioria dentro da executiva estadual do PSDB, e definia os rumos da sigla até bem pouco tempo com primazia. Meses atrás, estancou o risco de desfiliação em massa, colocou o prefeito de Vila Velha, Max Filho, "dentro da caixinha", e comandava a adesão do tucanato ao projeto de reeleição de Paulo Hartung.
O terremoto
Eis que veio o terremoto político com a saída de Hartung da disputa, e as amarrações de Ferraço junto a Casagrande passaram a dar liga. Amarrações que vão além de unir ambos, mas que puxaram consigo o DEM, a partir do fato de que o vice-presidente da sigla é o pai de Ricardo (o deputado estadual Theodorico Ferraço) e a presidente é a esposa de Ferração (a deputada federal Norma Ayub). Fato também é que Ferração não esconde de ninguém o desconforto que lhe causa estar ao lado do atual governador - uma relação que nunca foi harmoniosa, afinal. Além disso, pela amizade estabelecida com o deputado federal Sérgio Vidigal (PDT), Ricardo Ferraço também foi o articulador da aproximação dos pedetistas com Casagrande - e aqui, há, como no caso do DEM, também um adendo, a saber, a possibilidade de que as duas siglas caminhem juntas no plano nacional sob a candidatura de Ciro Gomes à presidência.
Independente das conveniências em nível nacional entre PDT e PSB, e das preferências de ordem pessoal do cacique demista, também é fato que Paulo Hartung se sobrepõe a tudo isso e tem na figura dele um parâmetro específico, que aglutinou forças distintas e contrapostas nacionalmente em torno de si no plano local durante anos a fio. Romper com essa quase hegemonia que o governador exerceu dentro de siglas tão expressivas como PDT, PSDB e DEM exige mais do que um indicativo de costura nacional ou uma antipatia individual. É necessário ter a oportunidade do momento, aliada à confiança dos atores em torno dos argumentos de persuasão e da figura em si que está intermediando esse processo. A oportunidade surgiu, e essas qualidades de liderança Ricardo Ferraço exibiu. Ainda que tenha sido combinado com Colnago - talvez até para preservá-lo pelo cargo que ocupa -, o trabalho bem sucedido ficou na conta do senador.
Acordo nacional
Na última quarta (25), dia em que Hartung declarou que não será mesmo candidato, apesar de ter dado asas às especulações de terça (24) de que poderia encarar a disputa (o já histórico "recuo do recuo"), Ricardo Ferraço parece ter obtido outra vitória, ao buscar em Brasília, junto ao PSDB nacional, o aval para seus movimentos de aproximação com Casagrande. A agenda no Distrito Federal foi realizada em conjunto com César Colnago, numa demonstração de unidade.
Ricardo Ferraço e César Colnago foram acionados por meio das assessorias de imprensa, mas não quiseram se pronunciar.