Política

Gabrielli sabia de 'acertos políticos', diz operador do PMDB

Redação Folha Vitória

São Paulo - O operador de propinas do PMDB Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, afirmou em sua delação premiada que dois ex-diretores da Petrobras, presos na Operação Lava Jato, disseram a ele que o ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli sabia dos "acertos políticos" fechados para o projeto Revamp (Renovação do Parque de Refino), na Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, que teria envolvido o adiantamento de propinas para políticos.

"(Renato, ex-diretor de Serviços) Duque comentou assim como Nestor Cerveró (ex-diretor de Internacional), que Gabrielli tinha conhecimento também do projeto da Revamp e dos "acertos’ políticos", disse Fernando Baiano, à Procuradoria Geral da República, no termo de delação número 5.

"Questionado qual seria o 'acerto político', ouviu dizer que na Revamp o Partido Progressista (PP) e o Partido dos Trabalhadores (PT) receberiam um valor considerável de propina", registra a força-tarefa da Lava Jato, em delação anexada nesta segunda-feira, 16, nos autos da Operação Corrosão, 20ª fase da Lava Jato.

A nova etapa da investigação mira em Pasadena, caso emblemático da corrupção instalada na Petrobras. Segundo o Tribunal de Contas da União, a compra da refinaria causou um prejuízo de US$ 792 milhões.

"Quem pagaria tais valores seriam as empresas que fariam a Revamp", explica Baiano. Ele citou a Odebrecht e a UTC entre as supostas empresas envolvidas, ao ser questionado pela força-tarefa.

O depoimento é convergente com os termos do novo delator da Lava Jato, o engenheiro Agosthilde Mônaco de Carvalho que declarou à força-tarefa que Cerveró lhe disse que a compra da refinaria de Pasadena poderia "honrar compromissos políticos" do então presidente da estatal, Gabrielli. Os dois disseram ter participado do pagamento de US$ 15 milhões de propina na primeira etapa das negociações, entre 2005 e 2006.

"De acordo com as informações fornecidas por Nestor Cerveró, este negócio atenderia ao interesse de Gabrielli em realizar o Revamp e ao interesse da área internacional em adquirir a Refinaria", declarou Mônaco.

Adiantamento

Fernando Baiano foi peça decisiva para a Operação Corrosão. Ele havia contado no dia 9 de setembro que ouviu de Nestor Cerveró, ex-diretor de Internacional da Petrobras e Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento, de reuniões com representantes das duas empresas para tais acertos. Nesses encontros, teriam sido mencionados os adiantamentos.

"Ouviu que, em uma dessas reuniões, os políticos haviam pedido adiantamentos referentes à Revamp", conta Baiano. "Tais solicitações de adiantamentos foram repassadas pelos políticos para Cerveró e Duque, e estes cobraram das empresas."

O operador afirma ter tomado conhecimento de que os adiantamentos foram feitos, mas não sabe nominar tais políticos. "Cerveró e Duque podem fornecer maiores informações", afirma Baiano. Os dois ex-diretores estão presos em Curitiba e já tentaram acordo de delação com a Lava Jato, sem sucesso até aqui. Além dos US$ 15 milhões da primeira etapa, Mônaco de Carvalho citou um acerto de US$ 100 milhões em propina na segunda etapa de compra de Pasadena.

Cárcere

Fernando Baiano está preso desde novembro em Curitiba. Ele pode ser transferido para o regime domiciliar ainda essa semana. Em sua delação, o lobista disse que na cadeia ouviu de Duque a confirmação de acertos na Revamp de Pasadena.

Defesa

Gabrielli repudia, em nota, "qualquer ilação de que a aquisição da refinaria de Pasadena serviria para honrar compromissos políticos" ou ainda que teria o interesse de direcionar o projeto de Revamp à empresa Odebrecht, "conforme afirma, irresponsavelmente e sem apresentar qualquer prova, o engenheiro Agosthilde Mônaco Carvalho".

"As afirmações são mentirosas. Se alguém se locupletou com operações fraudulentas relacionadas com a aquisição, que pague por seus erros, depois das investigações policiais e o devido processo legal", diz a nota.

"A compra da refinaria de Pasadena atendeu ao Planejamento Estratégico da Petrobras, vigente desde 1997, que previa a expansão dos negócios de refino fora do Brasil. A aquisição foi aprovada, com base pareceres técnicos e jurídicos, pela Diretoria Executiva e pelo Conselho de Administração", afirma Gabrielli, dizendo, ainda, que "o aludido prejuízo de US$ 792 milhões pela compra da refinaria nunca existiu", conforme defesa feita junto ao Tribunal de Contas da União.

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