Política

Chico Buarque é hostilizado por grupo antipetista no Rio

Redação Folha Vitória

Rio - O jantar mensal do cantor e compositor Chico Buarque com um grupo de amigos terminou nesta segunda-feira, 21, de forma inesperada. Por volta da meia-noite, Chico e os companheiros foram hostilizados por um grupo antipetista, em uma movimentada esquina do Leblon, na zona sul carioca.

"Você é um merda, quero ouvir da sua boca: quem apoia o PT o que é?", perguntou um dos provocadores. "É petista", respondeu o compositor. "É um merda", interrompeu o rapaz. Vídeos da discussão foram publicados nas redes sociais e replicados durante todo o dia de hoje.

Em determinado momento, o grupo ironizou o fato de Chico Buarque ter um apartamento em Paris. "Para quem mora em Paris é fácil", disse um deles. "Você mora em Paris?", retrucou Chico. Simpatizante do PT, Chico Buarque já participou de várias campanhas do partido, inclusive em 2014, quando gravou um vídeo de apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff.

Chico saía de um restaurante com o cantor, compositor e arranjador Edu Lobo, os cineastas Cacá Diegues, Miguel Faria Jr. e Ruy Solberg e o jornalista e escritor Eric Nepomuceno. Com exceção de Cacá, os artistas se encontram uma vez por mês para jantar. Edu Lobo já tinha ido embora e, enquanto os demais esperavam um táxi, um grupo que saía do restaurante Sushi Leblon começou a gritar "petista", "ladrão", "vai para Paris", "vai para Cuba".

Diante das provocações, Chico Buarque decidiu argumentar com os jovens. "Vai se informar, não basta sair falando", disse o cantor. Embora tenha discutido com o grupo, Chico manteve a voz baixa e riu em alguns momentos. Um dos jovens disse a Chico que "o PT é bandido" e o compositor respondeu: "Eu acho que o PSDB é bandido".

"Chico foi um santo, um cavalheiro. Os meninos começaram a hostilizar, do outro lado da calçada. Chico atravessou e foi lá falar com eles. Esta cena de repressão nazista é um exemplo do que está acontecendo no Brasil: a absoluta intolerância. As discussões políticas estão indialogáveis. A disputa política se transformou em duelo. Eles não queriam argumentar, só xingar", comentou Cacá Diegues na tarde desta terça-feira.

Eric Nepomuceno lamentou que uma noite divertida com velhos amigos tenha sido encerrada com aquela discussão. "É muito impressionante a fúria agressiva dessa direita que saiu do armário embutido", disse Eric nesta terça. "Estávamos numa ótima, de repente vieram os caras, muito agressivos. Eu estava mais irritado que o Chico, mas depois nós todos demos risada", contou o escritor.

Segundo Eric, não foi o primeiro episódio de provocação, embora tenha sido o mais ostensivo. "Uma outra vez, o cara na mesa ao lado pegou o celular e falou com alguém 'estou em um restaurante caríssimo de Ipanema onde os comunistas adoram vir'", lembrou.

Durante a confusão, um dos jovens disse para Chico: "Todo mundo era seu fã". Questionado pelo cantor, ele disse se chamar Tulio Dek. "Dá um google lá para ver quem eu sou", sugeriu. Tulio, de 30 anos, é rapper, nascido em Goiás e criado no Rio.

"Foi só uma discussão de rua. Eu estava com um amigo, esperando o carro, não conheço aquele grupo. O povo começou a gritar 'petista, petista'. Eu sou fã do Chico Buarque, é um ídolo. Mas como um cara desse nível intelectual continua apoiando cegamente o PT? Com tanta gente presa, a saúde desmoronando, o País está em um momento muito delicado. Eu não vou deixar de me posicionar", disse o rapper.

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