PSB cobra de Lula contrapartida no ES e em outros 4 Estados; petista quer PSD em aliança
A conversa ocorreu no dia seguinte ao jantar no qual Lula e Alckmin apareceram publicamente juntos pela primeira vez desde que a aliança passou a ser cogitada
O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniram ontem, em São Paulo, para discutir uma possível chapa formada pelo petista e o ex-governador Geraldo Alckmin como vice.
A conversa ocorreu no dia seguinte ao jantar no qual Lula e Alckmin apareceram publicamente juntos pela primeira vez desde que a aliança passou a ser cogitada. Siqueira já convidou o ex-governador para se filiar ao PSB, mas expôs diretamente a Lula as condições que o partido impõe para integrar uma chapa com o PT em 2022.
A sigla quer o apoio petista em cinco Estados: São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Rio de Janeiro e Espírito Santo. De acordo com o dirigente socialista, o PT, porém, ainda não se mostrou aberto para as demandas apresentadas pela legenda. "A relação não pode ser de mão única", afirmou Siqueira ao Estadão.
Diante da contrapartida considerada cara pelos petistas, Lula disse no jantar, segundo o relato de participantes, que seria importante "colocar o PSD no arranjo". A ideia é convencer o ex-tucano a se filiar ao partido de Gilberto Kassab para ser seu vice.
Essa hipótese, no entanto, esbarra na resistência do ex-ministro e presidente do partido - que lançou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), como pré-candidato à Presidência. Outra possibilidade já ventilada é de que Alckmin ingresse no Solidariedade. O presidente do partido, deputado Paulinho da Força (SP), admite a ideia, mas ela também sofre resistências.
O PT ainda considera como o cenário mais factível que Alckmin vá mesmo para o PSB. "Se ele quiser se filiar ao PSB e ser candidato a vice, será bem-vindo. Tivemos uma boa conversa com o Geraldo e percebi que ele tem simpatia por essa hipótese", disse Siqueira.
Alckmin esteve todo o tempo cercado de lideranças do PSB durante o jantar no domingo. Ele dividiu a mesa principal com Lula, Siqueira, o ex-governador Márcio França, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, e o prefeito do Recife, João Campos. Kassab também estava presente e conversou com Lula e Alckmin, mas se sentou em outra mesa.
PARTIDOS
O encontro num elegante restaurante da capital paulista reuniu na noite de domingo integrantes de pelo menos nove partidos, incluindo presidentes de legendas de centro - além do PSD, o MDB - e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, aliado de João Doria no PSDB. Lula aproveitou o evento organizado pelo Prerrogativas, grupo de advogados críticos à Operação Lava Jato, para indicar claramente sua intenção de formar uma aliança que vá além da esquerda.
Dirigentes partidários, no entanto, afirmaram ainda ser prematuro falar em "frente ampla", como querem os petistas. Também estiveram no evento de anteontem, além de integrantes do PSB, nomes do PV, PCdoB, Rede, Solidariedade, e do próprio PT.
Para Kassab, Lula "vai precisar de habilidade" para negociar o apoio de siglas de centro. "Tem que caminhar para o centro. Procurar alguém com esse perfil mesmo (de Alckmin). Vai precisar de pessoas com esse perfil", afirmou. Segundo ele, mesmo após Jair Bolsonaro se filiar ao PL, sigla do Centrão, a chance de o atual presidente atrair legendas do centro em uma aliança para 2022 é nula. "Bolsonaro não tem possibilidade, já foi no limite com o Centrão", declarou. Além do PL, fazem parte da base aliada ao Palácio do Planalto no Congresso o Progressistas, o Republicanos, o PTB e o PSC.
Estiveram no jantar também os senadores Renan Calheiros (MDB-AL), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (sem partido-RJ). "Por enquanto, o MDB ainda tem uma pré-candidata (a senadora Simone Tebet). No Nordeste a gente tem uma proximidade muito grande com Lula, mas não tem nada definido", afirmou Renan sobre a hipótese de uma aliança formal com o PT no ano que vem.
Presente ao jantar, o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), classificou o evento como "apartidário e não eleitoral". "Fui porque tenho boa relação com o pessoal do Prerrogativas. Nós estamos na campanha da Simone." A senadora emedebista e outros pré-candidatos à Presidência - Pacheco (PSD) e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) - foram convidados, mas não participaram.
TUCANO
Adversário do PT durante o governo Lula, Arthur Virgílio justificou sua presença no jantar pela boa relação que mantém com advogados do grupo Prerrogativas. "Estou com Doria em qualquer circunstância, o que não impede relações razoáveis com as pessoas possíveis", afirmou o ex-prefeito de Manaus.
Procurado, o ex-governador Geraldo Alckmin não quis se manifestar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.