Política

Operação contra Bivar 'só aumenta confusão', avalia cientista político

O cientista político ressalta que ainda não está claro como Bivar vai encarar a operação da PF

Operação contra Bivar ‘só aumenta confusão’, avalia cientista político Operação contra Bivar ‘só aumenta confusão’, avalia cientista político Operação contra Bivar ‘só aumenta confusão’, avalia cientista político Operação contra Bivar ‘só aumenta confusão’, avalia cientista político
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O cientista político Carlos Melo, professor do Insper, avalia que a Operação Guinhol, deflagrada na manhã desta terça-feira, 15, pela Polícia Federal (PF) e que tem como alvo o deputado federal e presidente do PSL, Luciano Bivar (PE), só “aumenta a confusão” entre o partido e o presidente Jair Bolsonaro.

“Não diria que a operação fortalece o presidente. Ele está brigando com o Luciano Bivar, mas ainda é o partido dele. O partido trabalhou para que ele fosse eleito. Não se sabe ainda, tem que avaliar, se não tem nenhum respingo na campanha dele Bolsonaro.”

O cientista político ressalta que ainda não está claro como Bivar vai encarar a operação da PF, “se como uma investigação normal ou como uma retaliação”. “Não sabemos também se haverá retaliação do próprio Bivar em relação a isso”, disse Melo. “Toda ação tem uma reação, a gente tem que ver os desdobramentos”, acrescentou. A defesa de Luciano Bivar se manifestou nesta manhã e afirmou que vê o mandato de busca e apreensão deflagrado pela Polícia Federal como “situação fora de contexto.”

A Operação Guinhol apura supostas fraudes na aplicação de recursos destinados a candidaturas femininas em Pernambuco. De acordo com a PF, há indícios de que os recursos destinados às candidaturas de mulheres foram usados “de forma fictícia” e “desviados para livre aplicação do partido e de seus gestores”.

Ministro do Turismo

O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, também é investigado por suposto desvio de recursos por meio de candidaturas femininas laranjas nas eleições de 2018, quando era presidente do PSL em Minais Gerais. Para Carlos Melo, o fato de o presidente Jair Bolsonaro ainda o manter no cargo mostra “dois pesos e duas medidas”.

“O rigor que Bolsonaro e o bolsonarismo sempre tiveram em relação aos adversários, parece não haver em relação aos seus próximos”, afirma o cientista político. “Imagina se esse tipo de acontecimento, se esses personagens estivessem em um partido adversário, no PT, PSDB ou MDB, como o Bolsonaro e o bolsonarismo reagiriam?”, questionou.

Brigas internas

A crise entre o presidente e o PSL ficou evidente na terça-feira passada, 8, quando Bolsonaro recomendou, na porta do Palácio do Alvorada, a um apoiador que “esquecesse” o partido e afirmou que Luciano Bivar “está queimado para caramba”. Ontem, o porta-voz da Presidência, o general Otávio do Rêgo Barros, disse que “qualquer casamento é passível de divórcio”, ao ser questionado sobre a possível saída de Bolsonaro da legenda.

Ainda na semana passada, o presidente pediu uma auditoria nas contas do PSL dos últimos cinco anos para avaliar como os recursos do Fundo Partidário foram usados. Já o comando do partido sinalizou que irá pedir uma auditoria nas contas da campanha presidencial do ano passado.

Para Carlos Melo, o partido enfrenta uma disputa de poder vinculada às verbas do Fundo Eleitoral e do Fundo Partidário e ao controle de diretórios regionais, como os de São Paulo e do Rio de Janeiro. O cientista político avalia que mesmo um enfraquecimento de Luciano Bivar devido à operação da PF não deve acalmar os ânimos. “Essa disputa não tende a se resolver rapidamente. As disputas de poder internas tendem a ter um grau de emoção e de contundência até maior do que as disputas para fora.”

Já sobre a articulação do governo no Congresso, Melo acredita que nada muda. “Já é uma articulação muito ruim, certamente ela não melhora. Mas para a coordenação do governo, o PSL não tem sido muito importante”, afirma o cientista político, para quem a agenda do Legislativo tem dependido do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). “O que tem acontecido no Congresso ultimamente é que ele tem autonomia própria. O Congresso hoje vota a despeito do governo. E essa situação só deixa o governo mais vulnerável.”