Palácio Anchieta
Palácio Anchieta

A menos de um ano para as eleições gerais, o mercado político capixaba se movimenta — e não é pouco – para a corrida ao Palácio Anchieta.

O processo eleitoral de 2026 foi “startado” de forma precoce: pesquisas já estão em campo, reuniões com lideranças partidárias se multiplicam e as agendas públicas – de Norte a Sul do Estado – têm se transformado em vitrines de quem quer marcar posição.

Hoje, ao menos sete nomes já são cotados – ou lembrados – como potenciais pleiteantes da cadeira do governador Renato Casagrande (PSB). Nomes da base e de oposição, experientes e novatos que se apresentam como alternativa de um novo ciclo geracional.

Há quem sonhe em herdar o espólio do governador e quem prefira se posicionar bem distante dele. No ano que vem, o que estará em jogo não será apenas o comando do Executivo, mas o rumo do Espírito Santo nos próximos quatro anos.

O eleitor capixaba terá diante de si uma escolha decisiva: seguir o caminho da continuidade – com um novo nome chancelado por Casagrande – ou apostar em uma ruptura, abrindo espaço para um novo projeto e ciclo políticos no comando do Estado.

Abaixo, a coluna lista quem são os sete que podem disputar o cargo de governador no ano que vem e a trajetória que eles têm traçado até aqui:

Ricardo Ferraço (MDB)

Ricardo Ferraço
Ricardo Ferraço (Foto: Thiago Soares/Folha Vitória)

Atual vice-governador e presidente estadual do MDB, Ricardo é o plano A de Casagrande e do governo para a sucessão.

É o caminho natural do vice, ainda mais se o governador renunciar ao cargo em abril do ano que vem para disputar o Senado. Nesse caso, Ricardo assume e disputa a reeleição.

Nos bastidores, a escolha pelo nome dele à sucessão teria sido costurada ainda na pré-campanha de 2022, quando foi definido o vice na chapa de Casagrande. Há quem vá além e diga que o apoio ao nome de Ricardo agora seria uma forma também de compensá-lo pelo episódio do “Abril sangrento” em 2010.

Na ocasião, Ricardo era vice de Hartung e estaria sendo preparado para sucedê-lo. Porém, numa articulação que envolveu lideranças nacionais, Ricardo foi rifado. Casagrande, que era senador, disputou o governo do Estado com o apoio de Hartung e coube a Ricardo disputar o Senado. Os dois se elegeram.

Com um perfil mais voltado para a centro-direita, o nome de Ricardo, em 2022, equilibrou a chapa do socialista Casagrande, consolidando o diálogo e o apoio de parte do empresariado e do eleitor fora da esquerda.

Ricardo iniciou o mandato também à frente da Secretaria de Desenvolvimento (Sedes), mas deixou a pasta no início desse ano para ficar “mais livre” para o processo eleitoral.

Ele tem acompanhado o governador Casagrande em eventos oficiais Estado à fora e também tem participado de eventos públicos e políticos promovidos por aliados, como prefeitos e deputados.

O governo do Estado e lideranças da base têm empenhado bastante esforço para que a candidatura de Ricardo seja competitiva e definitiva. Mas, se ele não se viabilizar, há outro nome no grupo.

Arnaldinho Borgo (sem partido)

Arnaldinho Borgo

Reeleito com 79% dos votos, o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo, também tem colocado o nome para a disputa ao governo do Estado, principalmente depois de ter sido citado pelo próprio Casagrande como um eventual sucessor no Palácio Anchieta.

Arnaldinho tem defendido a tese de que o capixaba quer uma mudança geracional à frente do Estado e eleger um governador jovem.

O prefeito deixou seu partido, o Podemos, e desde então tem buscado uma legenda para concorrer no ano que vem.

Aliado do governador Casagrande, Arnaldinho chegou a dialogar com partidos de fora da base, como o PSD, o que deixou a cúpula do Palácio Anchieta com a pulga atrás da orelha. O governador chegou a sinalizar, através da imprensa, que estaria incomodado com a movimentação do aliado.

Uma reunião no final de julho entre Casagrande, Arnaldinho e Ricardo tratou de aparar as arestas e alinhar o rumo do grupo. Na ocasião, em entrevista para a coluna De Olho no Poder sobre o encontro, Casagrande afirmou:

“Foi uma agenda de reafirmação de que estamos juntos. No projeto administrativo, parceria entre o governo e a prefeitura. E de reafirmação de que na hora certa do projeto político continuaremos juntos”.

Depois do encontro, Arnaldinho passou a estreitar mais as conversas com o PP, tanto com dirigentes locais quanto nacionais.

A previsão é que ele se filie ao partido e tenha espaço na legenda para uma candidatura ao governo do Estado, mas isso se conseguir viabilizar o próprio nome.

A questão é que ninguém hoje afirma, com certeza, onde o PP estará em 2026. Atualmente, o partido está na base aliada de Casagrande e na base do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), que também é pré-candidato a governador.

Lorenzo Pazolini (Republicanos)

O prefeito de Vitória Lorenzo Pazolini
Lorenzo Pazolini (Foto: Reprodução/TV Vitória)

Desde que foi reeleito em primeiro turno, numa eleição que teve como principal adversário o governo do Estado, o prefeito de Vitória, Pazolini, tem sido cotado para disputar o governo em 2026.

Não só cotado. Seu partido já o anuncia como pré-candidato e vem trabalhando nisso ao longo de todo esse ano. O presidente estadual do Republicanos, Erick Musso, tem sido o principal articulador da pré-candidatura de Pazolini.

Erick era secretário de Governo de Vitória e deixou a pasta para se dedicar, exclusivamente, ao partido, à montagem das chapas e à pré-campanha do prefeito.

É ele que, juntamente com o deputado federal Evair de Melo (PP), tem levado o prefeito para eventos no interior, em quase todos os finais de semana, no intuito de torná-lo conhecido e competitivo fora da Grande Vitória.

A expectativa é que Pazolini assuma o protagonismo no campo oposicionista na corrida pelo Palácio Anchieta. Na prática, ele já vem exercendo esse papel há algum tempo – o atrito com Casagrande não é de agora.

Antes de ser prefeito, Pazolini foi deputado estadual e, na Assembleia, não foram poucos os discursos mirando o governador. As divergências entre os dois aumentaram consideravelmente durante a pandemia de Covid-19 e, de lá para cá, foram poucos momentos de trégua.

Além do Republicanos, Pazolini tem contado com o apoio do PSD, partido que também tem nomes para a corrida eleitoral.

Aridelmo Teixeira (PSD)

Aridelmo Teixeira (foto: redes sociais)

Quando decidiu trocar o Novo pelo PSD, o empresário Aridelmo deu uma entrevista à coluna De Olho no Poder e, na ocasião, afirmou que a oposição teria três nomes para o enfrentamento ao grupo de Casagrande: Pazolini, ele mesmo e o ex-governador Paulo Hartung.

“Todos que aceitaram entrar no grupo têm o compromisso de que, se convocados, irão disputar qualquer cargo dentro da majoritária”, disse Aridelmo, à época.

Candidato ao governo já por duas vezes (2018-2022) e ex-secretário de Vitória, Aridelmo entra no jogo como uma espécie de “plano B” do grupo. De direita, tem um perfil mais liberal e menos conservador.

No caso de Pazolini recuar da empreitada, ele se coloca à disposição para disputar o governo, para que os partidos da coligação tenham um palanque para a campanha.

Hoje, o grupo conta com Republicanos e PSD, mas tem aprofundado o diálogo para fechar com o Novo, o PP e o PL. A ideia é não pulverizar, mas formar um único grupo, forte, para caminhar junto na trincheira da oposição.

Paulo Hartung (PSD)

Paulo Hartung (foto: arquivo pessoal)

Ex-governador por três mandatos, Paulo Hartung passou a ser fortemente cotado para a disputa eleitoral após se filiar ao PSD, em maio desse ano – o ingresso na nova legenda ocorreu depois de mais de seis anos sem vínculo partidário.

Citado por Aridelmo e sempre lembrado por apoiadores, Hartung continua sendo uma referência no tabuleiro político capixaba. Mesmo fora do jogo há alguns anos, seu nome nunca deixou de circular nos bastidores – e não por acaso.

Em entrevista à coluna De Olho no Poder, o ex-governador sinalizou que não pretende participar diretamente da disputa de 2026, mas fez o que sempre soube fazer bem: deixou a porta entreaberta, mantendo viva a especulação sobre um possível retorno. Descartar a possibilidade, ele não descartou.

Hartung faz parte do mesmo grupo de Pazolini e tem defendido abertamente a participação do prefeito no pleito. “Temos um nome muito bom, que é o Pazolini, nosso prefeito de Vitória, que está se colocando como candidato e eu acho que é uma boa alternativa”, disse à coluna anteriormente.

Porém, Pazolini terá de pesar os prós e os contras, uma vez que terá de renunciar ao cargo de prefeito até abril do ano que vem se quiser disputar o governo do Estado. E ele está apenas no 1º ano de gestão de um mandato todo pela frente.

É nesse dilema que o nome de Hartung também é colocado. Segundo Aridelmo, o ex-governador não iria se furtar de concorrer, se for convocado.

“O que a gente entende é que se ele (Hartung) for intimado pelo grupo, por uma necessidade, ele será (candidato ao governo). Ele não vai se acovardar, não vai correr”, disse Aridelmo, em entrevista anterior à coluna.

Ainda que não dispute, Hartung tem atuado fortemente nas articulações de bastidores.

Helder Salomão (PT)

Helder Salomão discursa em Encontro Estadual do PT (foto: Rodrigo Gavini)

Alçado pela militância petista como o nome para garantir um palanque para a reeleição do presidente Lula e também colocar os interesses do partido na mesa, o deputado federal Helder Salomão (PT) aceitou disputar o governo do Estado no ano que vem. Mas com algumas condições.

Ele quer ter o apoio da cúpula nacional e a garantia de que terá estrutura para uma candidatura robusta ou, nas palavras do deputado, uma “candidatura pra valer”.

Isso porque ele terá de abrir mão de uma reeleição praticamente certa – segundo cálculos de lideranças petistas, já que em 2022 ele foi o parlamentar mais votado da bancada federal capixaba –, para arriscar numa eleição majoritária.

Porém, o PT hoje não trabalha com outra alternativa. O partido tem como prioridades nacionais a reeleição de Lula e aumentar a bancada no Congresso, principalmente no Senado. No Estado, isso passa pelo foco total na reeleição do senador Fabiano Contarato (PT).

As candidaturas governamentais passarão pelo crivo da cúpula nacional do partido e, principalmente, por Lula. Já que a engenharia da construção da chapa e da base vai envolver cálculos e negociações nos estados. Ou seja, a geopolítica nacional vai definir onde o PT terá candidato.

Em 2022, o PT capixaba retirou, a contragosto, a candidatura própria – na época, de Contarato – para apoiar a reeleição de Casagrande. O governador foi reeleito, o PT continuou na base e hoje faz parte da gestão, ocupando uma cadeira no secretariado.

Acontece que, mesmo sendo aliado, dificilmente o PT encontrará espaço no palanque do governo para pedir votos para Lula ou defender candidaturas petistas em 2026. Na verdade, é quase certo que encontrará portas fechadas.

E esse é o principal motivo do PT defender uma candidatura própria, além de colocar no debate pautas do campo progressistas.

Nésio Fernandes (PCdoB)

Nésio Fernandes (foto: Wing Costa)

Diante da indefinição do deputado Helder Salomão (PT) disputar ou não o governo do Estado, o ex-secretário estadual da Saúde Nésio Fernandes colocou o nome para jogo.

Seu partido, o PCdoB, faz parte da mesma federação que o PT e o PV, e os três vão continuar “casados” para as eleições de 2026.

Sendo assim, no caso de Helder preferir a reeleição à Câmara em vez de arriscar a disputa majoritária, o médico sanitarista – que já decidiu que será candidato nas eleições do ano que vem – estaria à disposição para ocupar esse lugar e pavimentar o palanque para Lula e para as candidaturas da federação.

“Podemos consolidar o nome do Helder, que é um nome superpreparado e adequado para esse desafio, ou também construir outras alternativas. Entre elas, eu poderia ser candidato num processo majoritário”, avaliou em entrevista para a coluna De Olho no Poder.

A dificuldade, porém, é o PT deixar de ter uma candidatura própria para apoiar o candidato de um outro partido, ainda que aliado.

Nésio foi secretário da Saúde durante o segundo mandato de Casagrande (2019-2022) e durante a pandemia de Covid-19. Com a eleição do Lula, chegou a atuar, por um ano, no Ministério da Saúde, como secretário nacional de Atenção Primária.

Se não for candidato ao governo do Estado, Nésio deve tentar disputar uma vaga à Câmara Federal.

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Fabiana Tostes

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.