Política

Papéis mostram caminho de propina de Aécio Neves

Joesley afirmou que Aécio voltou a procurá-lo em 2015, pedindo dinheiro para pagar dívidas de campanha. No ano anterior, ele disputou a presidência e já teria recebido R$ 60 milhões

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Joesley afirmou que Aécio voltou a procurá-lo Foto: Agência Brasil

Documentos obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo comprovam a venda de prédio em Belo Horizonte que, conforme delação do empresário Joesley Batista, da JBS, teria como objetivo o repasse de recursos ao senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG). Na transação, a J&F Investimentos, controladora da JBS, comprou da Ediminas S/A – Editora Gráfica Industrial de Minas Gerais, o imóvel e um terreno ao lado da construção por R$ 17.354.824,75.

Ainda segundo Joesley, meses antes dessa operação, R$ 2,5 milhões dos cerca de R$ 60 milhões entregues a Aécio para a campanha presidencial de 2014 foram pagos por meio da compra antecipada de publicidade no jornal “Hoje em Dia”.

Documento assinado por um diretor do Grupo Bel – que controlava o jornal por meio da Ediminas S/A – atesta a compra de 365 páginas de publicidade pela JBS. Ele foi entregue por Joesley aos procuradores.

O criminalista Alberto Zacharias Toron, que cuida da defesa de Aécio, afirmou neste domingo, 21, que não se manifestaria sobre o caso e que só o fará oportunamente. As operações descritas por Joesley teriam servido para dissimular os pagamentos ao senador.

A Ediminas é proprietária do jornal “Hoje em Dia”, que funcionava no prédio. Além do registro da negociação em cartório, a reportagem teve acesso também a um recibo de quitação do pagamento da transação da J&F à Ediminas, que pertencia ao Grupo Bel, do setor de comunicação. A compra foi em 2015.

Em depoimento à Procuradoria da República, Joesley afirma que Aécio voltou a procurá-lo em 2015 pedindo dinheiro para pagar dívidas de campanha. No ano anterior, o tucano disputou a Presidência e já teria recebido R$ 60 milhões.

O sócio da JBS afirmou ter repassado R$ 17 milhões ao senador por meio da compra superfaturada do prédio em Belo Horizonte, de propriedade de um aliado do senador. “Precisava de R$ 17 milhões e tinha um imóvel que dava para fazer de conta que valia R$ 17 milhões”, afirmou.

O empresário apresentou documentos da compra do imóvel. No contrato registrado em 30 de novembro de 2015 no cartório em Pirapora do Bom Jesus, em São Paulo, da J&F com a Ediminas, as empresas declaram que Joesley pagou R$ 14 milhões pelo prédio – uma entrada de R$ 4 milhões e dez parcelas de R$ 1 milhão. Uma primeira parcela de R$ 4 milhões não está nesse contrato. Conforme Joesley, Aécio indicou o imóvel como forma de receber propina. Questionado se a venda fora superfaturada, Joesley disse: “Sem dúvida. Não estávamos atrás de comprar um prédio em Belo Horizonte”.

Ediminas

O dono da Ediminas à época da negociação, Flávio Jacques Carneiro, nega irregularidades na venda do prédio. “Fiquei sabendo disso pela televisão. Vamos demonstrar que é mentira. O imóvel foi vendido para pagar bancos, fornecedores e funcionários.” Carneiro diz ser amigo de Aécio Neves e ter boa relação com Joesley.

O ex-dono da Ediminas afirmou ainda que o imóvel tinha preço baixo e que a J & F Investimentos possuía “um fundo bilionário”. Na delação, Joesley afirmou não saber como o dinheiro chegou às mãos do senador e disse que pediu a Carneiro que solicitasse a Aécio, “pelo amor de Deus”, que ele parasse de lhe pedir dinheiro.

A primeira entrada de R$ 4 milhões, foi paga em 28 de setembro de 2015. A segunda parcela, de R$ 4 milhões foi repassada em 28 de outubro. A terceira, de R$ 1 milhão foi quitada em 30 de novembro. Os nove pagamentos restantes, no valor de R$ 1 milhão cada, foram quitados em fevereiro de 2016, com desconto de R$ 18 milhões para os R$ 17.354.824,75. O recibo de quitação registra que foi aplicada “taxa de desconto financeiro acordada entre as partes”.

Mudança

A Ediminas pertence hoje ao ex-prefeito de Montes Claros, Ruy Muniz, marido da deputada federal Raquel Muniz. O jornal “Hoje em Dia” estudou seguir no prédio comprado pela J&F, mas, segundo o diretor do jornal Tiago Muniz, a empresa decidiu se mudar e hoje ocupa imóvel na zona oeste de Belo Horizonte. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.