Desde que deixou a Secretaria Estadual de Desenvolvimento (Sedes) para ficar mais “solto” e viabilizar o próprio nome para a disputa do ano que vem, o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) tem buscado angariar apoios para o projeto de disputar o Palácio Anchieta.
Ricardo tem a prioridade no projeto do governo e tem recebido o apoio de muitas lideranças que compõem a base aliada do governador Renato Casagrande (PSB). Prefeitos, deputados e vereadores estão organizando eventos políticos para centenas e até milhares de pessoas, numa tentativa de contribuir para que o nome do vice fique mais conhecido entre o eleitorado.
Duas manifestações nessa semana, porém, chamaram a atenção. Dois parlamentares do Republicanos fizeram acenos a Ricardo Ferraço – acenos esses que foram lidos no mercado político como apoio à pré-candidatura do vice ao Governo.
Seriam mais duas manifestações, entre tantas que o vice tem recebido, se não fosse um detalhe: o Republicanos tem pré-candidato ao governo do Estado, que deverá, inclusive, ser um dos principais opositores a Ricardo. Trata-se do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), que também já tem rodado o Estado e realizado reuniões políticas para também viabilizar sua pré-candidatura.
“Próximo governador”
Na última quarta-feira (04), durante um workshop realizado pela Ascamves (Associação das Câmaras e Vereadores do Espírito Santo), em Baixo Guandu, o deputado federal Messias Donato (Republicanos), ao convidar a plateia para um evento organizado pelo prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (MDB), chamou Ricardo de “próximo governador”.
“Tenho uma missão também muito importante aqui. Na próxima segunda-feira, o prefeito Euclério vai realizar um mega evento para seis mil lideranças lá no Matrix Hall. E essa reunião é para receber o nosso próximo governador do Espírito Santo, Ricardo Ferraço. É uma reunião para você, Ricardo. O prefeito Euclério está cuidando disso, com muito zelo, com muito amor. Então, prepara o seu coração”, disse Messias, ao microfone, convidando todos os presentes no evento.
Ele estava sentado à mesa das autoridades, ao lado de Ricardo Ferraço, que o cumprimentou durante e após a fala.
Questionado sobre a manifestação, o deputado minimizou e descartou que tenha se referido às eleições do ano que vem: “Eu o chamei de próximo governador porque tudo indica que Casagrande irá sair (do governo) para disputar o Senado, então, Ricardo vai assumir e será o próximo governador. Tenho uma relação histórica com Ricardo, eu o ajudei na candidatura a deputado federal em 1998. Tenho um respeito muito grande por ele”, afirmou.
Messias é do grupo do prefeito Euclério, que se tornou um dos principais cabos eleitorais de Ricardo Ferraço. Em entrevista para a coluna, o prefeito chegou a criticar aliados que não estariam se esforçando para viabilizar o nome do vice ao governo e antecipou, para a coluna, o evento no próximo dia 9.
É possível que, na abertura da próxima janela partidária para deputados – março do ano que vem – o deputado mude para o mesmo partido de Euclério ou para outro que faça parte do mesmo grupo.
Isso, claro, se as negociações para a formação da federação MDB-Republicanos não avançarem, o que Donato descarta. “Cada vez fortalece mais a tese de que estaremos juntos”. “E se não estiverem?”, questionou a coluna. “Vamos estar”, cravou o deputado.
Comenda Moxuara
Em outra frente e no mesmo dia, o vereador de Cariacica Cabo Fonseca (Republicanos) protocolou um projeto que concede a Comenda Moxuara – maior honraria da Câmara de Cariacica – para o vice-governador “pelos relevantes serviços prestados ao município de Cariacica”.
Por toda sua trajetória, marcada pela dedicação ao Espírito Santo e, em especial, pelo compromisso com o desenvolvimento de Cariacica, sua contribuição para a melhoria da infraestrutura, da economia e da qualidade de vida da nossa população, além do fortalecimento dos princípios democráticos e republicanos, é mais do que justa a concessão da Comenda Moxuara, como forma de reconhecimento e gratidão pelos relevantes serviços prestados ao povo cariaciquense e capixaba”, diz trecho da justificativa do projeto.
Questionado se a homenagem poderia gerar constrangimento ao seu partido, Cabo Fonseca negou. Disse que a homenagem não é partidária, é por reconhecimento e citou a possível federação.
“Republicanos e MDB podem até caminhar juntos numa federação futuramente. Apesar de hoje cada partido ter um pré-candidato ao governo do Estado, isso pode se transformar em um único projeto lá na frente”, disse o vereador.
Cabo Fonseca faz parte do mesmo grupo do prefeito Euclério e do deputado Messias Donato, mas garantiu que a iniciativa do projeto partiu dele e que vai caminhar, no ano que vem, na direção que seu grupo caminhar.
“O projeto que eles estiverem, eu estarei junto. Agora, uma coisa é certa: eu não posso, em hipótese alguma, estar em um projeto que tenha como conselheiro o ex-governador Paulo Hartung. Depois de tudo que vivemos na greve de 2017, não tem como eu pedir voto dentro da minha instituição para um projeto com o apoio de PH”, disse Cabo Fonseca, que atuou por 15 anos na Polícia Militar.
Hartung era o governador do Estado quando estourou a greve da PM, em fevereiro de 2017. Embora não tenha citado nomes, Fonseca fez referência a Pazolini, que foi elogiado pelo ex-governador. Em entrevista anterior à coluna, Hartung disse que apoia o prefeito. “Torço por ele”.
O presidente estadual do Republicanos, Erick Musso, foi procurado pela coluna, mas preferiu não se manifestar a respeito do posicionamento dos parlamentares.
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