A queda na popularidade do governo federal nos últimos meses acende um alerta sobre o crescente descompasso entre sua agenda e os reais anseios da sociedade. Esse desalinhamento, por sua vez, começa a impor custos ao país, especialmente ao setor produtivo, que depende de previsibilidade, segurança institucional e um ambiente favorável aos investimentos para gerar riqueza e oportunidades.
Em vez de liderar um esforço coordenado para destravar a economia e melhorar a competitividade do Brasil, o governo tem se empenhado em pautas de viés ideológico e em expandir o aparato estatal, deixando de lado temas fundamentais como simplificação tributária, equilíbrio fiscal e fortalecimento de marcos regulatórios.
Como era de se esperar, essa escolha tem consequências diretas sobre a confiança dos agentes econômicos e, indiretamente, sobre a disposição do setor privado em investir, contratar e inovar.
Um dos setores mais afetados por esse cenário é a construção civil. Como atividade intensiva em capital e sensível ao risco político e institucional, ela sente de forma aguda a ausência de previsibilidade e a constante oscilação nas diretrizes de políticas públicas. A insegurança jurídica, combinada à falta de incentivos claros para retomada de obras e à morosidade em aprovar novos projetos, tem levado ao encolhimento da atividade em diversas regiões do país.
A essa dificuldade estrutural soma-se um problema crônico: a dificuldade estrutural se agrava com uma carga tributária elevada, que não retorna adequadamente em serviços ou infraestrutura. Em 2024, a carga tributária bruta do Governo Geral (União, estados e municípios) foi de 32,32% do PIB, o maior valor desde o início da série histórica em 2010.
Houve aumento de 2,06 pontos percentuais em relação a 2023, com destaque para o governo central (crescimento de 1,5 p.p.), seguido por estados (0,45 p.p.) e municípios (0,12 p.p.)
Em 2025, o cidadão precisou trabalhar 149 dias, equivalentes a 40,82% da renda anual, apenas para quitar impostos, taxas e contribuições aos governos federal, estadual e municipal. Os impostos sobre consumo correspondem a cerca de 22,7% da renda, o que significa 83 dias de trabalho. Impostos sobre renda representam 15,06% da renda (55 dias), e tributos sobre patrimônio chegam a 3,03% (11 dias), entre IPTU, IPVA e ITBI
Empresas de porte médio são particularmente impactadas: elas geram cerca de 70% dos empregos formais no país, mas não têm acesso a regimes simplificados ou incentivos tributários como grandes corporações ou MEIs. Operam com margens estreitas, enfrentam altos custos de conformidade e incerteza jurídica, tornados piores pela estrutura tributária fragmentada.
Reforma Tributária e o Setor Produtivo
O sistema atual penaliza o setor produtivo, corroendo competitividade e dificultando investimentos. A reforma tributária implementada pela Emenda Constitucional 132/2023 e regulamentada pela Lei Complementar 214/2025 busca unir ICMS, ISS, IPI, PIS e Cofins em dois tributos: CBS e IBS. A transição ocorrerá entre 2026 e 2033, com redução gradual da cumulatividade e simplificação da arrecadação
Paralelamente, o discurso político do governo se distancia do chão da fábrica e do balcão das pequenas empresas. Enquanto as autoridades celebram indicadores macroeconômicos pontuais, como aumento de arrecadação ou variações no mercado de trabalho, os empreendedores vivem um cotidiano de instabilidade nos custos, aperto no fluxo de caixa e dificuldade de planejamento.
Medidas Necessárias para a Recuperação Econômica
O atual cenário exige a formulação de uma agenda econômica pragmática, com diretrizes claras. Isso inclui a consolidação de um ambiente regulatório estável, redução da complexidade tributária, estímulo à concorrência em setores estratégicos e revisão dos mecanismos de incentivos fiscais, priorizando produtividade e inovação. Medidas como a simplificação do sistema de licenciamento, o fortalecimento das agências reguladoras com autonomia técnica e a ampliação do acesso ao crédito para pequenas e médias empresas são passos essenciais para recuperar a capacidade de investimento do setor produtivo.
Essa erosão de confiança não se restringe aos relatórios de mercado ou às discussões técnicas. Ela afeta o cotidiano de quem investe, produz, emprega e consome. Em um momento em que o país precisa reconstruir sua capacidade de crescer com estabilidade e inclusão, a desconexão entre o discurso público e as condições reais da economia impõe custos crescentes, tanto na dimensão econômica quanto social.
A queda de popularidade do governo não deve ser interpretada como uma oscilação circunstancial, mas como sintoma de uma fratura mais profunda: a distância crescente entre Brasília e o país real. Enquanto essa escuta não for restabelecida, com diálogo transparente e compromisso com reformas estruturantes, qualquer tentativa de avanço estará comprometida por incertezas e resistência.
O momento exige liderança com foco em produtividade, modernização institucional e respeito à dinâmica de quem move a economia: o setor privado, os trabalhadores, os empreendedores e os investidores. É nesse eixo que a recuperação de confiança e o crescimento sustentável precisam se apoiar.