
Nos últimos dias, um movimento chamou a atenção no mercado político: a aproximação, ou melhor, a tentativa de aproximação entre o governo do Estado e a Prefeitura de Colatina. E, por consequência, entre o grupo do governador Renato Casagrande (PSD) e o prefeito Renzo Vasconcelos (PSD).
Foram telefonemas, encontros, almoço e reunião no Palácio Anchieta. Renzo preside o PSD, partido que não faz parte da base aliada e que tem sido muito assediado para as eleições de 2026.
A legenda ainda não definiu o palanque em que pretende estar no ano que vem, mas vem caminhando, desde o ano passado, bem próximo ao partido Republicanos – que tem o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), como pré-candidato ao governo do Estado.
O PSD também abriga o ex-governador Paulo Hartung que recebeu, do presidente nacional da legenda, Gilberto Kassab, carta branca para disputar o que quiser no Estado.
Mesmo diante desse cenário, o governo vinha fazendo investidas e azeitando a relação, com demonstrações públicas de evolução no diálogo.
Porém, uma mexida no tabuleiro partidário de uma das siglas que compõem a base do governo pode ter colocado tudo a perder e ainda ter empurrado o PSD para os braços da oposição.
Reforço no Podemos
No sábado passado (13), o partido Podemos fez um megaevento em seu encontro estadual. Com a presença da presidente nacional da legenda, Renata Abreu, o partido anunciou filiações de peso, com puxadores de voto, secretária de Estado, presidente de autarquia e dois deputados estaduais – estes vão esperar a janela partidária em março do ano que vem para a troca partidária.
É fato que as filiações tiveram a digital do governo. Mais do que isso, contaram com as duas mãos do Palácio Anchieta na indicação dos nomes para fortalecer tanto a chapa federal quanto a estadual do Podemos.
Acontece que um desses nomes – o deputado estadual Fabrício Gandini – faz parte dos quadros do PSD. E Renzo não gostou nada de perder o deputado. A leitura dele foi a de que o governo fez uma sinalização muito ruim.
“A gente constrói com gente que jogue pra dentro, não com gente que tira, essa é minha obrigação como presidente. Não posso admitir que tirem um deputado do PSD pra levar para outro partido que é base. As coisas eram pra ser construídas no partido”, disse Renzo à coluna De Olho no Poder na manhã de quinta-feira (18), poucas horas antes de Casagrande anunciar seu apoio ao vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) ao governo do Estado.
Gandini é vice-líder do governo na Assembleia e estava no PSD há dois anos. Ele deixa o partido após ter feito cálculos e buscar uma legenda com uma chapa mais confortável à sua tentativa de reeleição. Pesou também na decisão a posição política indefinida do PSD.
Além da desfiliação de Gandini, Renzo também mostrou um outro incômodo: “Você ter um secretário de Estado que ataca minha família, meu governo local, e eu sendo prefeito de uma das cidades mais importantes do Norte e mais importante do Noroeste é uma sinalização muito ruim”.
A referência foi ao ex-prefeito de Colatina e secretário de Recuperação do Rio Doce, Guerino Balestrassi. Os dois eram aliados, mas romperam e foram adversários na eleição do ano passado. Guerino, que tentava a reeleição, perdeu para Renzo.
O prefeito enfatizou que sempre foi base do governo e que sempre pediu votos para Casagrande, mas sinalizou que o gesto não é recíproco.
“A sinalização maior já dei, desde 2010. Sempre fui base, sempre pedi voto pra Renato, fui deputado da base, defendi todos os projetos do governo. A sinalização precisa ser de mão dupla (…) A percepção, com esses movimentos, é que eu não sou tido como base. Eu continuo com diálogo, com equilíbrio, fazendo política pública (…) Vou trabalhar para que o PSD amplie suas bases e não diminua e que tenha bons candidatos”.
Encontro com Kassab

Na última segunda-feira (15), Renzo se reuniu com Kassab. O encontro já estava pré-agendado e tinha como pauta discutir o rumo do partido. O prefeito levou a primeira-dama, Lívia Vasconcelos, que foi convidada a disputar a Câmara Federal – ideia que não agrada muito a família.
Renzo disse que o dirigente lhe pediu para construir a chapa federal e que teria reforçado a autonomia do prefeito para tomar as decisões partidárias locais.
Porém, sobre em que palanque o partido estará ainda é uma incógnita. Isso porque a decisão depende de uma outra – no caso, de Hartung definir se será candidato ou não.
“O rumo do partido será construído e essa construção ocorre nos nomes indicados para fazer as chapas federal e estadual. Essa é a obrigação do presidente. Sou o presidente estadual, não sou dono do partido. Kassab já deu declaração pública de que Paulo Hartung pode disputar o que quiser. Ele já deu algumas declarações de que não será candidato a nada, mas a gente não pode menosprezar”, avaliou Renzo.
O prefeito disse ainda que muitas vezes é mal compreendido ao dialogar com as lideranças políticas e citou os encontros que teve com Ricardo, Pazolini, com o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (PSDB), e com o deputado federal Helder Salomão (PT) – os quatro pré-candidatos ao governo do Estado.
“Eu continuo aberto ao diálogo e receberei todos que me convidarem para dialogar. Se tem briga política no Estado, essa briga não é minha”.
Casagrande: “Relações de parceria”
Logo após anunciar apoio a Ricardo Ferraço como candidato ao governo, Casagrande deu entrevista para a coluna De Olho no Poder e foi questionado sobre a relação com Renzo.
Perguntado se estaria tentando atrair o PSD para seu grupo político, Casagrande disse que quer manter as relações de parceria com Colatina. E reconheceu que o PSD está mais próximo de outro grupo.
“Nós não estamos trabalhando para atrair partidos, até porque o PSD tem uma posição de proximidade com outro projeto político do nosso Estado. Estamos totalmente abertos a conversas com qualquer partido, mas nós não estamos trabalhando para atrair o partido para o nosso movimento político. Estamos trabalhando para a gente poder manter as relações de parceria que a gente tem com Colatina”.
Depois, começou a listar os investimentos no município, o que justificaria, segundo ele, os encontros e reuniões com o prefeito.
“Nós vamos publicar edital de um novo hospital, estamos construindo a terceira ponte, estamos fazendo um novo acesso à Colatina. São diversos investimentos em unidades de saúde, nas escolas, em infraestrutura urbana. Nosso desejo é manter esse nível de atendimento à população de Colatina, por isso que a gente tem estado, naturalmente, com o prefeito Renzo”.

Em tempo: Enquanto o governador anunciava o seu sucessor na disputa ao Palácio Anchieta, na tarde de quinta-feira (18), Kassab se encontrava com Hartung e Zé Carlinhos – aliado do ex-governador. O encontro virou postagem, com foto, nas redes sociais e Kassab escreveu:
“O embaixador Zé Carlinhos e eu chegamos juntos à Câmara Federal em 1998, como deputados federais. O mesmo ano em que Paulo Hartung se elegeu senador. Desde então me associei a esta dupla, formando uma fraterna amizade, firmando inúmeras parcerias com boas políticas públicas e bons projetos para o Brasil, especialmente para São Paulo e Espírito Santo”. E continuou:
“Nesta quinta-feira tivemos uma boa conversa, como sempre, analisando esse fechamento de ano. No Espírito Santo, o partido é muito bem comandado pelo Renzo em conjunto com eles”.
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