
Eles fazem parte do mesmo grupo político. Estão juntos em eventos oficiais, posam para fotos lado a lado e fazem elogios públicos um ao outro em nome da unidade.
Nos bastidores, porém, o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) e o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (sem partido), travam uma disputa velada por espaço, aliados e pela preferência do grupo para a corrida ao governo do Estado nas eleições de 2026.
Apenas um dos dois terá a benção do Palácio Anchieta para disputar a sucessão do governador Renato Casagrande (PSB). E essa decisão deve sair em breve, segundo o socialista.
“Vamos bater o martelo agora, nos próximos dias. Talvez em dezembro ou janeiro”, disse Casagrande ao ser questionado pela coluna De Olho no Poder sobre quando sairia a decisão.
O governador disse que precisaria “conversar com muita gente ainda” antes da definição. Mas não deu detalhes sobre o teor dessa conversa e nem com quem seria.
Hoje, Ricardo tem a prioridade na disputa pelo fato de ser vice-governador e o sucessor natural no caso de Casagrande deixar o governo para disputar o Senado. Na cadeira de governador, dificilmente Ricardo não disputaria a reeleição.
Se Casagrande, porém, decidir cumprir seu mandato até o final, a leitura do mercado é que a escolha do sucessor fica “livre” de qualquer pressão. E os dois pretendentes acabam tendo o mesmo peso.
Casagrande vai disputar o Senado?
Mas o governador não vai cravar seu futuro político por agora, embora toda a torcida do Botafogo dê como certo de que ele disputará uma das duas vagas ao Senado. “Só vou decidir isso em março, não vou decidir isso agora não”, disse à coluna.
Ele falou ainda que, independente da decisão que tomar, não irá interferir na escolha do nome de quem irá concorrer ao Palácio Anchieta. “Eu posso apoiar qualquer nome, estando no governo ou fora do governo”.
Fato é que, nos bastidores, a movimentação está intensa. Ricardo tem tentado atrair o PSD para a base aliada, conforme a coluna mostrou nos últimos dias. E Arnaldinho tem investido no PSDB, para se filiar e, quem sabe, comandar o partido no Estado.
“Se tiver combinado…”

A coluna perguntou ao governador como ele via a movimentação do prefeito junto ao ninho tucano. Na semana passada, Arnaldinho se reuniu com o agora presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, em Brasília.
“Se tiver combinado com a direção local, vejo com naturalidade. Se não tiver combinado, não vejo com naturalidade, não”, disse o governador se referindo ao PSDB capixaba, até então comandado pelo deputado estadual Vandinho Leite, líder do governo na Assembleia.
Vandinho, assim como outros dirigentes estaduais, tiveram o mandato prorrogado até o dia 5 (sexta-feira), uma vez que a vigência de todos os diretórios iria expirar no último dia 30.
O dirigente não foi comunicado, pelo prefeito, da audiência com Aécio. Vandinho foi avisado pelo ex-presidente nacional Marconi Perillo um dia antes do encontro, que ocorreu no dia 25.
A movimentação gerou um mal-estar no ninho capixaba, com o ex-prefeito Max Filho ameaçando deixar o partido caso Arnaldinho assuma o comando, e Luiz Paulo defendendo publicamente a permanência de Vandinho à frente do PSDB.
No governo, o fato de Arnaldinho buscar uma legenda para concorrer não é um problema. A questão é a forma como essa articulação tem sido feita.
“Isso (de buscar um partido) eu acho normal. Não gera constrangimento. Ele (Arnaldinho) tem que saber como se movimenta para não deixar sequelas nessa movimentação”, disse Casagrande.
Já Ricardo é mais polido e avalia que, no final, todos estarão juntos:
“Arnaldinho é um querido amigo, além de termos uma relação muito fraterna, somos parceiros, parte do mesmo projeto liderado pelo governador Renato Casagrande. As movimentações são parte do processo político. Minha confiança é que, na hora certa, estaremos juntos e unidos sob a liderança do governador”.
Arnaldinho vice?
Em falas recentes, Arnaldinho tem descartado a possibilidade de renunciar ao cargo de prefeito para ser vice numa chapa encabeçada por Ricardo Ferraço ao governo do Estado.
Esse convite, porém – para formar uma chapa como candidato a vice-governador –, não teria ocorrido, segundo Casagrande e Ricardo.
“Não, vocês (imprensa) que especulam isso. Não foi tratado isso com ele”, disse Casagrande. E Ricardo fez coro.
No mercado político e na visão de interlocutores do vice-governador, o nome de Arnaldinho na chapa como vice ganha corpo, tendo em vista que Ricardo não seria candidato em 2030 – já que se assumir o governo em abril do ano que vem e for reeleito em outubro, ao final de 2030 estará concluindo o segundo mandato consecutivo.
Isso encurtaria o tempo de espera de um sucessor, já que a renovação viria daqui a quatro anos. Porém, Arnaldinho não trabalha com esse calendário. Ele não quer esperar e tem defendido uma renovação geracional agora, já no pleito do ano que vem.

Embora a decisão não tenha sido tomada ainda ou, ao menos, não divulgada, é nítido que o governo do Estado está concentrando esforços e investindo tudo que pode para que Ricardo se viabilize como candidato.
Desde o início do ano, ele tem participado de eventos oficiais ao lado de Casagrande, feito incursões pelo interior com aliados e tem tido toda a visibilidade possível que a máquina pública é capaz de oferecer.
Se chegar em janeiro e o escolhido for Arnaldinho, o Palácio terá de correr contra o tempo para fazer o prefeito de Vila Velha conhecido fora da Grande Vitória e tentar transferir o capital político e a popularidade de Casagrande para ele.
A engenharia política, nesse cenário, seria mais complexa. Mas esse cálculo também deve ser colocado à mesa e contribuir para a tomada de decisão.
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