Política

Sartori suspende pagamentos de dívidas da gestão anterior

Sartori suspende pagamentos de dívidas da gestão anterior Sartori suspende pagamentos de dívidas da gestão anterior Sartori suspende pagamentos de dívidas da gestão anterior Sartori suspende pagamentos de dívidas da gestão anterior

Porto Alegre – Um dia após ser empossado, o governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (PMDB), assinou um decreto que corta despesas da máquina pública e suspende o pagamento de dívidas deixadas pela gestão de Tarso Genro (PT). O objetivo da medida, assinada nesta sexta-feira, 2, é dar alívio aos cofres estaduais e conter a grave crise financeira do Estado. O teor do documento havia sido adiantado pela equipe de Sartori nos últimos dias e deve permitir ao governo honrar o pagamento do funcionalismo nos próximos meses.

Com a agenda dedicada a despachos internos, o governador deixou ao secretário da Fazenda, Giovani Feltes (PMDB), a tarefa de esclarecer os detalhes da primeira medida de contingenciamento adotada pela nova administração. “Temos percebido que é possível diminuir o custo da máquina pública do Rio Grande do Sul, e essas medidas vão colaborar muito para isso”, disse Feltes em entrevista coletiva. “Queremos, pouco a pouco, ir colocando a despesa do Estado dentro da capacidade de produzir a receita que a nossa economia possui.”

O discurso do secretário é similar ao adotado pelo próprio Sartori. Ontem o governador disse que seria necessário adotar medidas “duras” para produzir efeitos benéficos no futuro. Na manhã desta sexta-feira, ao ser empossado, Feltes reafirmou que os estudos da equipe de transição apontam para um déficit no orçamento em torno de R$ 5,5 bilhões em 2015.

De acordo com o Palácio Piratini, o decreto, com validade de 180 dias, veda a realização de despesas de diárias de viagem para fora do Rio Grande do Sul. Já os gastos com viagens dentro do Estado ficam limitados a 75% do valor empenhado no mesmo período do exercício anterior. Também está proibida a contratação ou a renovação de consultorias, de serviços terceirizados e de convênios, bem como a assinatura de novos contratos de aluguel de imóveis ou equipamentos e a aquisição de materiais com valores superiores a R$ 3 mil. Com relação a despesas de pessoal, a medida veda, pelo mesmo prazo de 180 dias, a realização de concursos públicos, assim como a criação de cargos e a nomeação de servidores efetivos, assim como a realização de promoções e a concessão de novas gratificações.

Despesas da gestão anterior

O texto prevê também a suspensão do pagamento de “despesas de exercícios anteriores”, o que na prática significa o não pagamento dos débitos deixados pela gestão Tarso Genro e que ainda estão por vencer. Com isso, fornecedores que prestaram algum tipo serviço ao Estado nos últimos anos correm o risco de não receber por pelo menos seis meses. Feltes evitou mencionar o volume de pagamentos que pode ser congelado. Segundo ele, é preciso tempo para analisar exatamente quais são as despesas pendentes e em quais áreas. Informalmente, no entanto, técnicos calculam que o montante de “restos a pagar” some R$ 700 milhões.

“Isso não significa que aqueles que prestaram serviços, entregaram produtos, não tenham por parte do Estado o compromisso de resolver essa situação. Vai ser pago, não há a menor dúvida, mas não agora”, ressaltou Feltes. “Estamos tão somente fazendo o regime de caixa. É o caninho de dinheiro que entra, e são os caninhos de dinheiro que saem, para tentar equilibrar essas questões.”

O secretário assegurou que o decreto faz exceções para serviços essenciais, como os de saúde e segurança. Também deixou claro que o governo espera abrir um diálogo com os fornecedores afetados. “Talvez a gente possa até mesmo criar uma facilidade para o Estado ainda maior, quem sabe um desconto, algo a ser negociado nesse sentido pode até antecipar os próprios 180 dias (de suspensão de pagamentos)”, disse.

Feltes insistiu no fato de que, como ainda não tem acesso a todos os números relativos às contas do Estado, seria temerário fazer uma previsão sobre qual poderá ser a economia obtida com a execução do decreto. Mas citou, como tem feito em entrevistas recentes, o gasto do governo anterior com diárias públicas como um exemplo de despesas que podem ser reduzidas. “O governo passado gastou R$ 480 milhões (em diárias), e na comparação com os dois governos anteriores é mais do que o dobro”, afirmou.

Servidores

Embora não tenha precisado quanto o RS deve economizar, Feltes antecipou que o decreto deve garantir os salários do funcionalismo público, pelo menos no curto prazo – no período de transição, especialistas em finanças públicas chegaram a afirmar que, dada à delicada situação dos cofres públicos gaúchos, seria inevitável atrasar a folha de pagamento estadual. “Temos uma situação de razoável dose de conforto nos dois primeiros meses, por um ingresso substancioso de recursos principalmente do IPVA, e medidas como esta (o decreto) vão produzir efeitos do ponto de minorarmos as dificuldades pelas quais devemos passar”, revelou.

Contudo, ele ponderou que a situação de relativa tranquilidade vislumbrada para os próximos meses pode mudar mais para frente. “Eu não poderia tentar projetar o que pode acontecer ali adiante, mesmo com medidas como esta e outras que eventualmente poderiam a vir”, falou, ressaltando que o Executivo terá que conversar com os outros poderes sobre a necessidade de adotar uma postura austera. O decreto será publicado no Diário Oficial na próxima segunda-feira, dia 5.