Política

'Se não houvesse essa delação premiada, ia continuar', diz Moraes sobre corrupção

‘Se não houvesse essa delação premiada, ia continuar’, diz Moraes sobre corrupção ‘Se não houvesse essa delação premiada, ia continuar’, diz Moraes sobre corrupção ‘Se não houvesse essa delação premiada, ia continuar’, diz Moraes sobre corrupção ‘Se não houvesse essa delação premiada, ia continuar’, diz Moraes sobre corrupção

São Paulo – O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, defendeu nesta segunda-feira, 17, o combate à corrupção nos órgãos públicos com medidas de prevenção. Ele, que é revisor dos processos da Lava Jato nos julgamentos feitos no plenário do STF, afirmou que, se não houver prevenção, outros casos como o mensalão e a Lava Jato vão ocorrer no futuro.

“Como é que bilhões são desviados e ninguém percebe? Precisou um delator falar. Se não houvesse essa delação premiada, ia continuar”, disse Moraes. A delação premiada foi a ferramenta usada pela força-tarefa da Lava Jato para identificar crimes e citações a políticos por parte de executivos e ex-executivos da Odebrecht, o que gerou a abertura de inquéritos no STF.

Moraes disse ainda que o Brasil é excessivo no foro privilegiado, mas ele falou que, mais importante do que discutir quem vai julgar os políticos, é preciso criar mecanismos de combate a práticas ilícitas. “Todos esses mecanismos de combate à corrupção são falhos, na administração foram falhos. O que adianta passar o mensalão e o petrolão? Daqui a alguns anos virá outro ‘ão’ se não atacarmos primeiro os mecanismos de prevenção”, declarou.

O ministro rebateu a afirmação que o foro privilegiado é responsável pela impunidade no País. Perguntado sobre o que defende em relação à prerrogativa, Moraes disse que não ia opinar porque o assunto é objeto de discussão no STF e será colocado na pauta em um julgamento futuro.

Moraes afirmou que a Lava Jato é rápida em Curitiba porque os integrantes do Judiciário e do Ministério Público fazem com que assim seja. Ele defendeu que a Justiça seja estruturada para impedir que os crimes prescrevam antes do julgamento. Para isso, o ministro defendeu a criação de câmaras e turmas especializadas no combate à corrupção nos tribunais.

Reforma política

Alexandre de Moraes afirmou que a reforma política é a mais importante das reformas. Disse ainda que, se não for feita, as outras reformas não vão conectar o cidadão com a classe política. Ele afirmou que o momento exige prioridade para mudanças, principalmente do Congresso Nacional, ao defender que a cidadania seja discutida nas escolas.

Segurança pública

Falando sobre segurança pública, Moraes criticou o Congresso Nacional, que, para ele, só faz passar projetos que aumentam penas contra crimes. “Não passa um projeto para melhorar a segurança pública no Congresso Nacional. Só passa no Congresso aumento de pena. Se aumento de pena resolvesse a criminalidade e a segurança pública, bastava colocar pena de morte para todos os crimes”, disse Moraes, destacando que era contra a pena de morte. “O que resolve é a rápida prisão, a rápida decisão.”

O ministro do STF defendeu ainda que a segurança pública tenha uma vinculação orçamentária nas contas públicas brasileiras. Moraes, que já foi ministro da Justiça e secretário estadual da Segurança em São Paulo, afirmou que o setor precisa de uma vinculação assim como ocorre com a saúde e a educação no País.

“É hora da segurança pública ter uma vinculação orçamentária. Toda vinculação tem que ser por um período determinado, mas é necessária. Porque segurança, assim como saúde e educação, são programas, políticas públicas de Estado, não de governo”, disse o ministro durante palestra no almoço-debate promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide) na capital paulista.

Ex-ministro do presidente Michel Temer (PMDB), por quem foi indicado ao STF, Moraes afirmou que o País vive atualmente o maior período de estabilidade democrática desde a proclamação da República. “Quantos países, sem a ruptura do estado de direito, sobreviveram a dois processos de impeachment? Estamos maduros para afastar algumas ideias”, disse Moraes.

Em relação às ideias que precisam ser afastadas, Moraes elencou a afirmação de que o Brasil precisaria só de escolas, e não de presídios; que seria preciso acabar com a Polícia Militar; que os presídios estariam abarrotados de usuários de drogas e que descriminalização do uso acabaria com o problema; e que o foro privilegiado seria culpado pela impunidade no Brasil.

Drogas

Sobre a descriminalização do uso de drogas no Brasil, Moraes afirmou que não ia se manifestar porque o assunto será decidido no STF. Mas contestou o pensamento que, havendo a descriminalização, o problema acabaria em um “passe de mágica”. “Descriminalizar tão somente resolverá isso? Isso é que tem que ser refletido. O que tem que fazer é um combate inteligente ao crime organizado”, disse, falando sobre a presença de drogas em unidades prisionais.