Política

Sem Bolsonaro em sessão sobre Independência, Pacheco critica 'discurso de ódio'

O evento reuniu autoridades de diversos países da comunidade de língua portuguesa, mas foi ignorado pelo presidente da República

Sem Bolsonaro em sessão sobre Independência, Pacheco critica ‘discurso de ódio’ Sem Bolsonaro em sessão sobre Independência, Pacheco critica ‘discurso de ódio’ Sem Bolsonaro em sessão sobre Independência, Pacheco critica ‘discurso de ódio’ Sem Bolsonaro em sessão sobre Independência, Pacheco critica ‘discurso de ódio’
Foto: Agência Senado

O presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), criticou nesta quinta-feira (08) o uso de “discurso de ódio” durante o período eleitoral. 

“O amplo direito de voto, a arma mais importante em uma democracia, não pode ser exercido com desrespeito, em meio ao discurso de ódio, com violência ou intolerância em face dos desiguais”, declarou durante a sessão solene do Congresso em comemoração aos 200 anos da independência do Brasil. 

O evento reuniu autoridades de diversos países da comunidade de língua portuguesa, mas foi ignorado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PL).

Realizada um dia após o feriado da Independência, o evento contou com a participação dos presidentes de Portugal, Marcelo Rebelo Sousa; de Cabo Verde, José Maria Neves; e de Guiné Bissau, Umaro Sissoco.

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Os ex-presidentes brasileiros Michel Temer e José Sarney também compareceram. Já os ex-presidentes Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff enviaram mensagens ao evento.

A sessão desta quinta contou também com o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, principal alvo no STF de críticas de bolsonaristas, e com o procurador-geral da República, Augusto Aras.

Além de não comparecer, Bolsonaro não enviou mensagem. O governo foi representado pelo ministro das Relações Exteriores, Carlos França.

Enquanto a sessão era realizada, o presidente participava de uma conversa com apoiadores na entrada do Palácio da Alvorada. Na véspera, Pacheco, Lira e Fux não participaram do desfile militar de 7 de setembro em Brasília. É tradição que os chefes dos Três Poderes participem do ato, mas neste ano o evento se misturou com manifestações bolsonaristas.

Em discurso feito em um carro de som após o desfile em Brasília, Bolsonaro falou em tom de comício, fez falas machistas e ataques velados ao STF. “Todos sabem o que é o Supremo Tribunal Federal”, afirmou ele ao dar uma pausa para seus apoiadores vaiarem o Poder Judiciário. “Todos nós mudamos. Todos nós nos aperfeiçoamos e podemos ser melhores no futuro”. O chefe do Poder Executivo também repetiu o mote de “luta do bem contra o mal”.

Os atos contaram com vários cartazes pedindo intervenção militar e destituição dos ministros do Supremo. Alguns também criticavam Pacheco.

O senador mineiro evitou comentar a ausência de Bolsonaro e se limitou a dizer que gostaria que ele tivesse comparecido. “Os convites encaminhados para todos, para o presidente da República e para todas as demais autoridades, obviamente que nós desejávamos a presença. Em especial do presidente da República porque reputo seria importante em uma sessão dessa natureza, mas não vou fazer nenhum comentário porque verdadeiramente não conheço a motivação.”

Em relação ao desfile de quarta, Pacheco disse que não compareceu por não sentir “clareza” se a marcha seria misturada com atos eleitorais. “Como não havia uma clareza da minha parte o que era um momento e o que era outro, se eles se misturariam, a minha preferência foi não participar do evento porque de fato não vou externar nenhum tipo de manifestação eleitoral.”

O presidente do Senado também disse que não foi correto o empresário Luciano Hang, das Lojas Havan e alvo de mandados de busca e apreensão por suspeita de financiar atos antidemocráticos, ter ficado entre Bolsonaro e o presidente de Portugal durante o desfile. “É direito das pessoas participarem, aquelas que são convidadas pelo presidente da República, do evento cívico e também do evento político. Obviamente que não é adequado colocar entre dois presidentes da República ninguém, o correto é que fiquem lado a lado. O correto seria de fato garantir que o presidente Marcelo ficasse todo o tempo ao lado do presidente da República.”

Na mensagem enviada ao evento, Lula, que está em primeiro nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência e é o principal adversário de Bolsonaro, criticou o uso político que o presidente fez do Dia da Independência. “Assisti com profunda indignação às falas do presidente da República, a pretexto da celebração do Dia da Independência. Em primeiro lugar, pela tentativa escancarada de obter vantagem eleitoral com o uso de recursos públicos. E pelo sequestro de uma data que não pertence a ele, mas à nação brasileira, a exemplo do que tenta fazer com a nossa bandeira e com o verde e amarelo, são patrimônios do nosso povo.”

O mesmo tom foi adotada pela carta enviada por Dilma, que sucedeu Lula na Presidência. “Desafortunadamente, o Brasil assiste ao chefe de Estado sequestrar a data histórica em benefício de sua própria candidatura eleitoral, desafiando as leis e ignorando o rito sagrado da função institucional de quem está no comando do País. É grave o que assistimos ontem. Uma afronta à democracia”, criticou.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso adotou um tom diferente e preferiu não citar Bolsonaro. No entanto, o tucano também fez questão de criticar o uso político da comemoração. “A pátria, afinal, não se politiza. Nem a sua história, nem os seus feitos, nem os seus símbolos. Celebremos a pátria pelo que ela representa, e não pelos que a ela representam”, escreveu.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) usou seu discurso para criticar a ausência de Bolsonaro. “Peço desculpas aos chefes de Estado estrangeiros e às missões diplomáticas pela ausência e não encaminhamento de nenhuma mensagem à essa sessão da parte do atual magistrado da nação”, disse.

O senador, que fez parte da comissão curadora do evento que comemora o bicentenário, disse que o “7 de setembro pertence a todos e não a uma facção”.

A sessão solene desta quinta foi aberta com a cantora Fafá de Belém cantando o hino nacional do Brasil. O primeiro a discursar foi Rodrigo Pacheco, que lamentou períodos de ruptura democrática do passado e elogiou a Constituição. “Seus fundamentos, fortalecidos por meio do reconhecimento legítimo dos brasileiros aos Poderes constituídos, serviram e servirão para enfrentarmos alegóricos retrocessos antidemocráticos e eventuais ataques ao Estado de Direito e à democracia. Isso é irrefutável, isso é irreversível.”

Na mesma linha, o presidente do Supremo afirmou que os Poderes não podem extrapolar suas funções. “Um Brasil independente pressupõe uma magistratura independente e um regime político em que todos os cidadãos gozem de igualdade de chances, usufruam de todas as liberdades constitucionais e os poderes restrinjam o seu exercício em nome do povo e para o povo brasileiro.”

O presidente do Congresso também comentou sobre as relações entre Brasil e Portugal. “De uma história de dominação e de uma relação de dependência, passamos a um patamar de igualdade e respeito em relação às demais nações soberanas. Ganhamos identidade própria e relevante”, afirmou. O mineiro classificou Portugal de parceira estratégica importante. “O bicentenário da Independência comemora o evento da ruptura com a antiga metrópole. Com o passar dos anos, no entanto, a República Portuguesa se tornou uma parceira estratégica importantíssima, como demonstra a multiplicidade de relações comerciais, investimentos e acordos de cooperação entre o Brasil e Portugal.”

O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo, citou em seu discurso escritores brasileiros, como Monteiro Lobato, Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado e Lygia Fagundes Telles e cantores, como Cazuza, Cartola e Elis Regina.

Ele se classificou como “humilde servidor da vontade do povo” e lembrou que é neto, irmão e filho de portugueses e pai e avô de brasileiros. “Para sempre viva o Brasil, para sempre viva a fraternal amizade entre Brasil e Portugal, que para sempre viva a projeção no mundo da nossa mais vasta comunidade de fala, de língua, que no Brasil tem o esteio mais forte, o pilar mais incansável”, afirmou.

Diferente de Pacheco, Lira, que é aliado de Bolsonaro, evitou falar sobre violência política. O presidente da Câmara também comentou sobre as eleições, mas falou sobre o assunto de uma forma mais protocolar. “Este ano do Bicentenário da Independência brasileira coincide com o ano de eleições presidenciais e de eleições legislativas federais, distrital e estaduais. Destaco, portanto, a chance de os cidadãos brasileiros, por meio do seu voto consciente, fortalecerem nossa democracia e este Parlamento de modo que ele continue a exercer a importante tarefa de acolher diferentes aspirações e transformá-las em balizas coletivas”, declarou.